"Vai haver menos pressão de um eventual governo Gantz para mudar a embaixada para Jerusalém", disse o cientista político Samuel Feldberg.
Apesar disso, o professor da USP não enxerga "nenhuma mudança importante nas relações" entre Brasil e Israel "se houver uma troca de governo".
A transferência da embaixada brasileira de Jerusalém para Tel Aviv, seguindo medida adotada pelo governo dos Estados Unidos, é uma promessa de campanha do presidente Jair Bolsonaro.
O atual primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, grande aliado do chefe de Estado brasileiro, já disse em mais de uma oportunidade que Bolsonaro lhe garantiu que a mudança seria efetivada.
Relações 'vão continuar no nível que estão'
Mas o longo período do premiê israelense no poder pode estar perto do fim. Após indicações das lideranças partidárias, o presidente de Israel, Reuven Rivlin, convidou Benny Gantz, do partido oposionista Azul e Branco, a formar governo.
Segundo Felderg, mesmo se Gantz assumir o governo, as relações entre Brasil e Israel "vão continuar no nível que estão, com uma troca muito importante na área tecnológica".
O que mudaria, segundo ele, é a proximidade entre Netanyahu e Bolsonaro.
'Aspecto peculiar da relação entre os dois líderes'
"O que vai desaparecer é o aspecto peculiar da relação pessoal entre os dois lideres", disse Felderg, que no momento leciona temporariamente na Universidade de Tel Aviv.
O professor da USP, no entanto, ressalta que o "triângulo" de amizade formado entre Bolsonaro, Netanyahu e o embaixador israelense no Brasil, Yossi Shelley, se romperia.
"A relação especial entre Netanyahu e Bolsonaro é alavancada significativamente pelo embaixador israelense no Brasil, que cria um triangulo de relações que certamente não vai se manter se houver uma troca de governo. Nem o embaixador vai ficar no Brasil, nem existe essa identidade ideológica entre Gantz e as ideias propagadas por Bolsonaro”, disse.
'Israel não vai deixar de ser o que é'
Feldberg frisou também a admiração do eleitorado evangélico, um dos principais grupos de apoio do presidente brasileiro, por Israel, que não deixará de "ser o país que é".
"A admiração pelas realizações de Israel trazem essa aproximação, e nesse sentido acho que a relação vai se manter. Israel não vai deixar de ser o pais que é se houver uma mudança de governo", disse o especialista.
Mas o professor da USP faz uma ressalva importante. Para ele, o cenário político ainda é incerto, e Gantz pode fracassar, mais uma vez, na tentativa de formar governo, assim como já ocorreu anteriormente com Netanyahu.
"A melhor palavra, sem dúvida, é incógnita. Pode ser que ainda tenhamos a quarta rodada de eleições em pouco mais de um ano no país", afirmou.
Julgamento de Netanyahu
Em meio a tudo isso, Netanyahu está prestes a enfrentar um julgamento por corrupção, que começaria nesta terça-feira (17), mas, por conta do coronavírus, foi adiado para 24 de maio.
Segundo Feldberg, a mudança acabou favorecendo o primeiro-ministro, pois havia "uma percepção de que o julgamento afetaria sua capacidade de poder ser nomeado para formar governo".
Agora, se Gantz não obtiver sucesso nesta tarefa, a missão pode retornar para as mãos de Netanyahu antes da data de julgamento.
Vivendo no momento em Tel Aviv, o professor disse que a sociedade israelense passa por um período de "hibernação" devido ao coronavírus, com "restrições severas" ao funcionamento de escolas, transporte público, restaurantes e lazer.