Os planos para a edição de 2020 dos exercícios militares Defensor da Europa 2020 previam a movimentação de 20.000 militares norte-americanos, o maior envio de efetivos dos EUA para o velho continente dos últimos 25 anos.
No entanto, os planos foram prejudicados pela pandemia do novo coronavírus, que já infectou mais de 245 mil pessoas ao redor do mundo e fez 10 mil vítimas fatais.
No dia 13 de março, as transferências de militares dos EUA para a Europa foram interrompidas. Nesta segunda-feira (16), o comandante militar dos EUA na Europa informou que os exercícios seriam "reduzidos em escala e escopo".
Até esta quarta-feira (18), o Pentágono já havia confirmado 80 casos de coronavírus em suas fileiras, incluindo 49 militares em serviço ativo. Casos também teriam sido detectados entre funcionários da OTAN em Bruxelas.
Ameaça para a saúde
Pat Elder, membro do grupo Mundo Além da Guerra (World Beyond War, em inglês), acredita que os EUA nunca iriam cancelar a realização de exercícios militares desta monta para não "admitir a derrota".
"Os propagandistas que estão por trás da postura belicista irracional do Exército [dos EUA] nunca 'cancelariam' completamente os exercícios. Isso poderia demonstrar fraqueza", disse.
Elder acredita que essa decisão de Washington irá colocar em risco a saúde daqueles que irão participar das manobras em função da propagação do coronavírus.
"Os EUA estão levando a ideia de 'dissuasão' a um limite absurdo. E fazem isso [...] para justificar seus crescentes gastos militares", disse.
A ex-agente especial do FBI e ativista do grupo Mulheres Contra a Loucura Belicista (Women Against Military Madness, em inglês) Coleen Rowley lembra que os exercícios previstos para decorrer no Ártico e na Coreia do Sul foram cancelados e o mesmo deveria ser feito com o Defensor da Europa 2020.
"A pandemia é terrível, mas serve para nos dar uma lição sobre como a guerra é estúpida, uma vez que nenhum arsenal militar, ou mesmo nuclear, consegue combater essa ameaça microscópica" representada pelo novo coronavírus, argumentou Rowley.
Ela nota que os EUA não estão se mostrando capazes de combater a COVID-19 em território nacional, mas seguem com os planos de mobilizar militares para exercícios no exterior.
Agressão contra Rússia
Os exercícios Defensor da Europa 2020 não passam de uma "ação agressiva" contra a Rússia, acredita o copresidente do Bureau pela Paz Internacional, Reiner Braun.
"Eu acredito que o que a OTAN está fazendo com os Defensor da Europa 2020 é uma ação agressiva contra a Rússia. Eles não querem iniciar uma guerra amanhã, mas estão se preparando para a guerra. De outra forma não seria necessário fazer um exercício desses na fronteira russa", disse.
Braun lembra que a fase ativa dos exercícios foi marcada para coincidir com as comemorações, na Rússia, do aniversário dos 75 anos da vitória na Segunda Guerra Mundial.
"A grande provocação é que eles vão fazer isso em maio, bem quando a Rússia, seguindo a tradição soviética, celebra os 75 anos do aniversário da libertação da Europa. É totalmente inaceitável realizar essas manobras neste período", disse Braun.
Observadores russos
No início de março, o ministro da Defesa da Polônia emitiu um comunicado no qual informou que a Rússia poderia observar parte dos exercícios realizados na Polônia.
Braun acredita que observadores russos seriam admitidos nos exercícios, mas que eles só poderiam assistir a uma parte reduzida das atividades.
"Eles somente mostram algumas áreas nas quais nada está acontecendo. Eles não mostram os movimentos internos e desdobramento dos exércitos", disse.
O Ministério da Defesa da Polônia ainda não confirmou se, mesmo após o início da pandemia de coronavírus, a Rússia poderá acompanhar os exercícios militares.