O chefe do quartel-general da Rússia que coordena o retorno dos refugiados sírios, Mikhail Mizintsev, e seu colega sírio, Hussein Makhlouf, fizeram sua declaração conjunta nesta sexta-feira (10).
"Os EUA continuam a explorar cinicamente o problema global [da COVID-19] para desacreditar o governo sírio, lançando uma campanha de propaganda sobre sua incapacidade de combater efetivamente a propagação do coronavírus no país", informaram.
As autoridades apontaram que até agora apenas 19 pessoas testaram positivo para o coronavírus nas áreas controladas pelo governo sírio. A Organização Mundial da Saúde (OMS) disse no início deste mês que está "trabalhando em estreita colaboração" com o Ministério da Saúde da Síria para melhorar a preparação e a resposta do país à COVID-19.
Enquanto isso, Mizintsev e Makhlouf acusaram os EUA de atribuir a Damasco "a responsabilidade pelo agravamento da situação epidemiológica em lugares como os campos de refugiados de Rukban e al-Hol".
O campo de Rukban está localizado no meio de um deserto no sudeste da Síria, perto da base militar americana de al-Tanf, e da fronteira entre a Síria e a Jordânia. O campo fica a 55 km de "zona de desconflição" montada por tropas americanas. Al-Hol fica na parte nordeste do país, na fronteira com o Iraque, na área controlada pelas Forças Democráticas da Síria (FDS), apoiadas pelos EUA.
Os chefes das sedes da Rússia e da Síria que trabalham no retorno dos refugiados argumentaram que, de acordo com o Direito Internacional Humanitário, os EUA são "totalmente responsáveis" por ajudar os refugiados no território que controlam. Ao mesmo tempo, ao contrário das áreas governadas por Damasco, as partes da Síria controladas pelos EUA "não têm controle de doenças", pontuaram eles.
Riscos de morte pela pandemia
Citando testemunhos de refugiados vindos da zona de al-Tanf, as autoridades russas e sírias afirmaram que as pessoas em Rukban "praticamente não têm chance de sobreviver em caso de epidemia, porque as estações de assistência médica estão fechadas e não há drogas e medicamentos, tampou médicos qualificados".
A Rússia e a Síria pediram repetidamente que Rukban fosse evacuado e a ONU expressou prontidão para facilitar o processo. No entanto, como aponta a declaração, Washington não cooperou com os esforços para tirar os refugiados do campo e interrompeu efetivamente o processo de evacuação. O Departamento de Estado dos EUA negou essas alegações no passado, insistindo que não impede ninguém de deixar Rukban.
Autoridades russas e sírias também observaram que é "além da hipocrisia" dos EUA exigir que o governo sírio melhore a situação humanitária no terreno, enquanto "mantêm as sanções ilegais dos EUA que dificultam o renascimento do sistema de saúde na Síria".
No fim de semana, a coalizão liderada pelos EUA anunciou que entregou cerca de US$ 1,2 bilhão em equipamentos de prevenção da COVID-19 a dois hospitais, bem como às FDS para ajudá-los a administrar centros de detenção para terroristas do Daesh (proibido na Rússia e em outros países) na província de al-Hasakah, na Síria, onde também se encontra al-Hol. Mizintsev e Makhlouf argumentaram que os EUA também poderiam estar prestando a ajuda necessária a Rukban e al-Hol regularmente.
"A resposta é óbvia: o verdadeiro objetivo dos americanos é fornecer alimentos entregues pela ONU e outros bens vitais aos militantes que controlam", acrescentaram eles.
A ONU vem alertando há muito tempo sobre as péssimas condições de vida em Rukban e al-Hol, onde as pessoas são forçadas a suportar a falta de suprimentos básicos, alimentos e condições climáticas severas. No ano passado, o porta-voz da Agência das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), Andrej Mahecic, descreveu Rukban como "uma terra de ninguém", onde "mesmo os cuidados de saúde mais básicos não existem e as condições gerais de saúde são catastróficas".