Cientistas do Departamento de Microbiologia Molecular e Imunologia da Faculdade de Medicina Keck da Universidade da Califórnia do Sul encontraram uma nova maneira de combater a COVID-19: suprimir temporariamente a imunidade dos pacientes nos estágios iniciais da doença para evitar sintomas graves.
O estudo, publicado no 1º de maio no Journal of Medical Virology, conclui que uma interação entre as duas principais linhas de defesa do corpo, a imunidade inata e adquirida, pode levar a uma sobrecarga do sistema imunológico em alguns pacientes.
Usando um modelo matemático, e comparando a resposta imunológica do organismo quer à COVID-19 quer à gripe, observaram que o aparecimento de uma doença viral provoca a entrada imediata em ação da imunidade inata, que destrói a infecção e as "células-alvo" danificadas pelo vírus, como se fossem tropas de infantaria perseguindo um invasor estrangeiro.
Se a infecção persistir, então a imunidade adquirida entra em ação alguns dias depois, mobilizando uma variedade de forças especiais como as células T ou B, assinala o estudo.
Imunidade adquirida se ativa demasiado cedo
No caso da COVID-19, que tem uma progressão mais lenta que a gripe, a imunidade adquirida é acionada ainda antes que as células-alvo sejam eliminadas no trato respiratório superior.
Este fato não permite que a imunidade inata mate rapidamente a maioria dos vírus e leva a uma sobrecarga do sistema imunológico.
"A atividade viral prolongada pode desencadear uma reação excessiva do sistema imunológico chamada de tempestade de citocinas, que mata células saudáveis e danifica tecidos", refere um dos autores do estudo, Weiming Yuan.
A sobreposição das respostas imunitárias inatas e adquiridas também pode explicar por que alguns pacientes com COVID-19 experimentam duas ondas da doença, parecendo inicialmente melhorar para depois piorar.
"O efeito combinado de respostas imunitárias adquiridas e inatas pode reverter temporariamente o vírus. Entretanto, se o vírus não for completamente eliminado e as células alvo se regenerarem, o vírus pode atingir outro pico", observa o autor principal do estudo, Sean Du.
Imunossupressores para regular resposta imunológica
Os cientistas propõem por essa razão o uso de medicamentos imunossupressores nos estágios iniciais da doença para prevenir esta interposição de respostas imunológicas.
"Seremos capazes de retardar a resposta imunitária adquirida e evitar que ela interfira no funcionamento da imunidade inata, permitindo que o vírus e as células infectadas sejam eliminados mais rapidamente", afirmou Sean Du.
Alguns estudos na China, incluindo um sobre a SARS de 2003 e um estudo recente sobre doentes com COVID-19, mostraram que as pessoas que receberam medicamentos imunossupressores, como os corticosteroides, apresentaram melhores resultados do que aquelas que não os tomaram.
Os pesquisadores se propõem agora medir diariamente a carga viral e outros biomarcadores em pacientes com a doença COVID-19 para confirmar os resultados de seus cálculos.
Além disso, apelam a que se façam ensaios pré-clínicos adicionais, incluindo experimentos em modelos animais, para estudar a eficácia de tal tratamento imunossupressor precoce.
De acordo com os dados hoje (3) divulgados pela Universidade Johns Hopkins, à escala mundial o número de infectados com o novo coronavírus SARS-CoV-2 é de 3.428.490, havendo a registrar 243.837 óbitos.