Na entrevista, o empresário disse ter "elementos que comprovam" relato de suposto vazamento da PF a Flávio Bolsonaro, que teria favorecido Jair Bolsonaro nas eleições.
Até as denúncias, Paulo Marinho era considerado um grande amigo da família Bolsonaro, tendo cedido dependências do seu luxuoso imóvel na Zona Sul do Rio de Janeiro para que o então candidato à Presidência da República, Jair Bolsonaro, gravasse as mensagens de sua campanha eleitoral de 2018.
Marinho, que além de tudo é suplente do senador Flávio Bolsonaro, vai ser ouvido no inquérito sobre a denúncia do ex-ministro Sergio Moro de suposta interferência do presidente na PF.
Para Rodrigo Prando, cientista político, professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie, a nova denúncia "fragiliza" e atinge toda a família do presidente, "a partir do momento em que for referendada com provas numa investigação pela justiça".
"O impacto político neste momento depende, essencialmente, da comprovação daquilo que foi dito pelo empresário Paulo Marinho", explicou Rodrigo Prando à Sputnik Brasil.
Ao comentar as alegações de Flávio Bolsonaro de que Marinho estaria buscando se beneficiar politicamente da situação, o comentarista político não descartou essa possibilidade.
"Sempre existe na política a busca pelo poder. Isso é inegável [...] Então pode ser sim, que a denúncia de Paulo Marinho tenha como objetivo político imediato o afastamento do senador Flávio Bolsonaro, se [a denúncia] for comprovada, a partir de uma investigação, e com isso assumindo uma vaga de senador", disse o professor.
O especialista destacou que, de fato, está em curso uma disputa do presidente com dois governadores que são entendidos por Bolsonaro e pelos bolsonaristas como potenciais adversários para 2022: João Doria, governador de São Paulo, e Wilson Witzel, governador do Rio de Janeiro. No entanto, lembra Prando, a "mistura de sentimentos, relações familiares e amizade com política não costuma dar certo". Por isso, a possibilidade de uma motivação política de Marinho não pode ser descartada.
"Uma das questões que traz fragilidade para as afirmações feitas por Paulo Marinho é justamente essa. Conhecendo fatos graves, que inclusive poderiam ter influenciado diretamente as eleições presidenciais, por que levou praticamente um ano e meio para torná-los públicos? Essa é uma questão que ele deve responder", ponderou o cientista político.
Segundo próprio Paulo Marinho, as suas declarações foram encorajadas pela postura do ex-ministro Sergio Moro, e pelas suas declarações ao se desligar do governo Bolsonaro mas, no fim das contas, será o inquérito que buscará explicações.
"Provavelmente as revelações feitas por Paulo Marinho podem ser mais uma peça do quebra-cabeça colocado na saída de Sergio Moro do governo Bolsonaro, de que haveria intenções por parte do presidente de interferir na Polícia Federal", destacou Prando.
De todo modo, deverá ser respeitado o princípio básico do direito segundo o qual, "aquele que acusa tem de provar a sua acusação", acrescentou ele.
O professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie, de todo modo, considera que o presidente está em sérias dificuldades. Pelo menos três investigações no STF, envolvendo o chefe de Estado e seus familiares, pesam sobre os seus ombros: o inquérito das fake news, a participação em manifestação a favor da intervenção militar e as declarações de Sergio Moro sobre interferência na PF.
"Juridicamente isso tudo é muito complicado e, obviamente, leva [Bolsonaro] no campo político a um maior isolamento. Porque o presidente não tem um diálogo com o Congresso", avalia Prando.
Para o especialista o cenário político deve se desenvolver em duas direções. Os partidos da base do Congresso podem aproveitar o momento para saciar seu "apetite maior por cargos e recursos" e passar a ter o controle efetivo do governo, ou então, podem abandonar o barco, considerando que "sem os seus votos será difícil barrar um processo de impeachment".
"A grande questão é que, com todo esse cenário, o presidente Bolsonaro ainda mantém uma base de apoio de cerca de 30% e é uma base que se mostra resiliente nas várias rodadas de pesquisa", alerta o analista.
O acadêmico ressaltou, todavia, que os políticos começam a agir no sentido de abertura de um processo de impeachment somente quando a aprovação do governo está abaixo de 10% e quando as ruas estão cheias com manifestações.
"Neste momento, esses dois cenários não são objetivamente verificáveis, portanto ainda com tudo isso Bolsonaro tem respirado e mantido o seu presidencialismo de confrontação em meio à pandemia", concluiu Prando.