Analistas acreditam que, sem cooperação, os Estados latino-americanos, desiguais e fracos diante da pressão externa, ficam sem defesa contra os desejos das potências.
"A verdade é que o que a COVID-19 faz é aguçar algo que já existia: a falta de cooperação regional. Há uma crise muito aguda no regionalismo latino-americano; de fato, a União de Nações Sul-Americanas [Unasul] praticamente desapareceu. Outras instâncias de cooperação mais amplas, como a Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos, estão em uma situação de fraqueza, não há conexão importante entre a Aliança do Pacífico e o Mercado Comum do Sul [Mercosul], portanto não há espaço adequado para cooperação regional", afirma à Sputnik Mundo o mestre em ciência política e professor da Universidade Central Cristián Fuentes.
O especialista disse que deveria haver maior coordenação no fechamento de fronteiras, protocolos sanitários unitários e nas viagens de repatriação.
"Por exemplo, poderíamos ter concordado que Brasil, Argentina e México começassem a produzir respiradores, fizessem fundos conjuntos, negociassem com o resto do mundo para comprar suprimentos, mas infelizmente não o fizemos", refletiu.
Já o professor da Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (FLACSO) no Equador Lester Cabrera afirma à Sputnik que os países da região mostraram falhas até mesmo para estabelecer protocolos básicos na luta contra a pandemia.
"Existe uma falta de institucionalidade na própria América Latina. A Unasul, que está se deixando perecer, teria sido um elemento para coordenar políticas e homogeneizar o comportamento na América do Sul. Se vemos o que aconteceu na cooperação regional, recorremos ao Fórum para o Progresso e Desenvolvimento da América do Sul (Prosul), que se baseia na conversa informal dos mandatários sobre determinados temas, mas nenhum parâmetro foi estabelecido", acrescentou.
Em 5 de abril, o Mercosul anunciou que destinará US$ 16 milhões, cerca de R$ 80 milhões, para um projeto de "Pesquisa, Educação e Biotecnologia aplicada à Saúde" focado no combate ao novo coronavírus.
O bloco regional que inclui Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai articulará as autoridades dos quatro países para melhorar suas capacidades na realização de diagnósticos que detectam o coronavírus.
Sem cooperação e com poucas expectativas, a América Latina terá que enfrentar a pior contração econômica do último século. De acordo com a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), o PIB da região deve recuar 5,3% em 2020.