Conforme dados do Ministério da Economia, apenas ao longo do mês de maio deste ano o Brasil registrou 960,2 mil pedidos de seguro-desemprego. Com isso, chegam a 1,94 milhão os pedidos do benefício desde o início da pandemia no país. Em comparação com o ano anterior, os pedidos do mês de maio, por exemplo, tiveram um aumento de 53%, sendo que os pedidos de todo o período da pandemia são 26% maiores do que em 2019.
O quadro de avanço do desemprego pode ser revertido, mas não será com uma solução imediata. É o que pensa Marcel Caparoz, economista-chefe da empresa RC Consultores.
"O que é preciso ser feito é um processo de fortalecimento da economia brasileira, fortalecimento das empresas brasileiras para que elas voltem a contratar, voltem a investir em expansão", explica o economista em entrevista à Sputnik Brasil.
"Com empresas fortalecidas, com consumidores com confiança e tendo recursos para não ficarem inadimplentes. Enfim, fazer de novo essa roda girar", aponta.
Aumentar prazos de impostos pode diminuir pressão sobre o consumidor
Conforme publicou o portal G1, dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) apontam que abril teve o maior número de demissões em um único mês desde 1992, com 869.503 trabalhadores dispensados.
Apesar do quadro, Caparoz acredita que a equipe do Ministério da Economia tem capacidade para buscar as soluções necessárias para fomentar o crescimento do emprego no país.
"O principal ponto de atuação do governo no pós-pandemia é garantir financeiramente que essas empresas tenham condições de continuar operando. Isso passa por linhas de crédito voltadas à indústria, voltadas ao comércio e, inclusive, ao consumidor", aponta.
Soluções como mudanças de prazos em pagamentos do IPTU e IPVA poderiam diminuir a pressão sobre as famílias brasileiras, tendo em vista o quadro crescente de desemprego, avalia o economista.
"Alguns itens nessa direção são importantes, [como] o crédito, talvez expandir um pouquinho o prazo de pagamento de alguns impostos, são soluções que dão algum incentivo a essa retomada econômica", afirma.
Reformas devem ser retomadas para trazer crescimento sustentável
Ao longo do mês de maio deste ano, os pedidos de seguro-desemprego tiveram maior incidência nos três maiores estados do Sudeste: São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. Apenas São Paulo teve mais de 281.360 pedidos registrados.
Somado a isso, as expectativas de crescimento da economia no Brasil seguem pessimistas. Enquanto o Banco Central aponta em relatório de mercado uma queda de 6,5% do PIB, o Banco Mundial acredita que a economia brasileira deva ter queda de 8% em 2020.
Diante disso, Caparoz acredita que o governo precisa avançar com reformas estruturais na economia, uma das principais bandeiras sustentadas pelo ministro da Economia, Paulo Guedes.
"Sem essas reformas não dá para imaginar no longo prazo, digamos assim, nem nos próximos cinco anos, tendo um crescimento sustentável da ordem de quatro ou cinco por cento. É preciso tirar do papel essas reformas estruturais, principalmente a reforma tributária. Daria um outro cenário econômico para o Brasil. Isso seria muito importante, isso que vai dar sustentação para um crescimento mais forte nos próximos anos", afirma.
Governo falha no crédito às empresas e na atenção aos pequenos empresários
Na visão do economista, no entanto, o governo tem falhado em garantir sustentação financeira para as empresas em meio à pandemia.
"De fato, é um ponto onde o governo tem falhado, que é dar sustentação para as empresas não morrerem. Esse é o fato que está acontecendo. As empresas estão tendo muita dificuldade em manter a atividade. Os fluxos de caixa das empresas foram completamente comprometidos. Então é importante que o governo forneça essa ajuda nesse momento para que essas empresas não fechem e consequentemente não fechem novas vagas de emprego", diz.
O economista entende que as propostas atuais do governo deixaram de lado as micro e pequenas empresas. Para ele, o quadro preocupa e pode trazer ainda mais prejuízos ao emprego no país.
"São empresas muito importantes para a economia brasileira. Elas geram muitas receitas, são grandes empregadoras no coletivo", conclui.