Medicamento usado contra hepatite C funcionaria contra novo coronavírus?

© AP Photo / Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA / E.H. Cook, Jr.Imagem de microscópio eletrônico mostrando um grupo de vírions da hepatite
Imagem de microscópio eletrônico mostrando um grupo de vírions da hepatite - Sputnik Brasil
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Um cientista mexicano estudou proteínas semelhantes da hepatite C e do SARS-CoV-2, chegando à conclusão que o sofosbuvir poderia ter aplicação prática contra o novo coronavírus.

Uma pesquisa de cientistas da Universidade Nacional Autônoma do México (UNAM) teria descoberto que, com base na sequência genômica do SARS-CoV-2, o vírus poderia ser tratado com a droga sofosbuvir, usada para tratar casos de hepatite C.

Rodrigo Jácome Ramírez, pesquisador do Laboratório de Origem da Vida da Faculdade de Ciências da UNAM, analisou o material genético do novo coronavírus, em particular duas das proteínas que ajudam em sua reprodução, para definir se é possível desenvolver tratamentos a partir dos medicamentos atualmente disponíveis, contando sobre seu trabalho à Sputnik Mundo.

"O que eu faço no laboratório é, por meio de computadores, sobrepor as estruturas de duas polimerases, as proteínas que leem o material genético dos vírus e o replicam, da hepatite C e do SARS-CoV-2 [...] e isso nos permite dizer que são proteínas estruturalmente semelhantes. Foi por aí que chegamos à descoberta", explica ele.

Durante seus estudos de doutorado, Jácome Ramírez investigou a evolução dessas proteínas em vírus de RNA (ácido ribonucleico). Graças a isso ele pôde concluir que as moléculas que formam o medicamento sofosbuvir poderiam aderir à polimerase do coronavírus e impedir sua reprodução.

Embora sejam necessários vários estudos para comprovar a eficácia do medicamento, o pesquisador da UNAM disse que a descoberta pode gerar vantagens para encontrar um tratamento para a COVID-19.

© REUTERS / Thomas PeterFuncionário trabalhando no laboratório em Pequim, China, 14 de maio de 2020
Medicamento usado contra hepatite C funcionaria contra novo coronavírus? - Sputnik Brasil
Funcionário trabalhando no laboratório em Pequim, China, 14 de maio de 2020

"Como já é um medicamento aprovado pelas comissões reguladoras mundiais, poderiam ser iniciados alguns protocolos com pacientes [...] A vantagem do sofosbuvir é que ele tem sido usado em pacientes por vários anos. Seu perfil de segurança e toxicidade é bem conhecido, e é um medicamento nobre. Isso reduziria, pelo menos em tempo, o desenvolvimento", disse ele.

Outras aplicações

Mesmo que o sofosbuvir não funcione como esperado, Rodrigo Jácome disse que pode ser útil para as empresas farmacêuticas tomar a fórmula do medicamento como modelo para desenvolver um medicamento específico para curar pacientes com SARS-CoV-2.

"O Laboratório Origem da Vida foi reconvertido para estudar a COVID-19, e estamos agora analisando outras alternativas de tratamento com foco em outras proteínas. Estamos analisando moléculas que também já estão disponíveis para ver se a função dessa proteína pode ser inibida, provavelmente, como uma ajuda adicional aos medicamentos", relata.

Assim, a pesquisa realizada na UNAM continua na mesma linha dos outros esforços em nível internacional, em que outras drogas como remdesivir ou hidroxicloroquina são as protagonistas.

"O objetivo do artigo e do trabalho é contribuir de alguma forma para a busca de soluções. No México, onde não temos tantos recursos e, embora não tenhamos tanta infraestrutura, queremos ajudar em alguma coisa, contribuir e buscar soluções onde se possa. É algo que a pandemia nos deixou, uma das coisas boas é esta união internacional entre diferentes cientistas", comentou.

Neste sentido, o pesquisador mexicano observou que existem outros estudos que propõem o sofosbuvir como um possível tratamento para o novo coronavírus. Ele disse que essa coincidência levou a uma oferta dele e de seus colaboradores para atender o trabalho internacional para encontrar uma cura.

"Isso ajuda muito a acelerar as coisas, porque ao invés de [uma investigação passar] dois, três meses nos bastidores, há uma discussão, uma troca permanente de ideias. Esperamos, no futuro, ver que a ciência pode ser feita sem tantos obstáculos e formalidades, desde que a qualidade e a meticulosidade sejam respeitadas", referiu Rodrigo Jácome Ramírez.

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