Os especialistas diferem em suas avaliações do que pode acontecer após a decisão inesperada de Kim Jong-un de adiar o plano de ação militar proposto pelo Estado-Maior.
Alguns explicam que o líder norte-coreano teria vindo a acreditar nas garantias de Seul para resolver a questão da disseminação de folhetos por desertores norte-coreanos, enquanto outros consideram que Kim yo-Jong, a irmã do líder norte-coreano, intensificou a escalada entre os dois países, com Kim agindo como "polícia bom" e colocando uma pausa no conflito.
No entanto, a probabilidade da última versão é baixa, pois as instruções para destruir a sede de comunicação intercoreana, deslocar militares para a fronteira e organizar manifestações condenando as ações em Seul não são possíveis sem a aprovação do líder norte-coreano, acredita Kim Dong-yup, professor do Instituto de Estudos do Extremo Oriente da Universidade Kyungnam, Coreia do Sul.
Segundo o especialista disse à Sputnik, a pausa de Kim Jong-un seria uma estratégia para ver como será a reação e as ações futuras da Coreia do Sul após esta oferecer garantias de resolver a questão dos ativistas que violam os acordos intercoreanos o mais rápido possível.
Ao mesmo tempo, não é possível descartar que esta correção da política externa de Pyongyang possa ter sido motivada por considerações internas.
"Com Pyongyang comprometida com a ideia de um avanço com ênfase em sua economia, para o qual é até necessário enviar militares para canteiros de obras, a pressão excessiva das tensões internacionais, sua escalada para uma crise, pode ser vista como um fator negativo", analisou o professor Kim Dong-yup.
Ele acrescentou que a Coreia do Norte também poderia fazer uma pausa para encontrar um motivo mais sério para entrar em guerra. Por isso, o especialista acredita que, se o governo sul-coreano não aproveitar essa oportunidade e não cumprir rapidamente suas promessas, será um sinal para a Coreia do Norte de que a lição não foi aprendida e precisa ser demonstrada em ações.
Kim Dong-yup diz que não se deve esquecer que, para além do plano de ação militar, foram discutidos outros projetos de políticas militares, relatórios e resoluções que refletem medidas nacionais para fortalecer ainda mais a dissuasão militar do país.
"Embora o plano de ação militar tenha sido adiado, os outros itens da agenda provavelmente serão adotados. Estes deverão incluir o desenvolvimento de novas armas para modernizar a capacidade militar, bem como a demonstração de novas armas estratégicas.
Por isso, a atual suspensão da ação contra a Coreia do Sul pode, ao invés disso, estar relacionada aos preparativos para o lançamento de mísseis balísticos a partir de submarinos ou à demonstração de novas armas estratégicas. Ou seja, ações militares contra os Estados Unidos na pior das hipóteses", disse ele.
O especialista também não descarta que essa mudança na posição de Pyongyang possa estar relacionada aos contatos secretos feitos pela Coreia do Sul para evitar que a situação se agrave. Apesar disso, a Coreia do Norte afirmou que não tinha nada a discutir com Seul, e até revelou a proposta secreta de conversações da Coreia do Sul, que foi fortemente rejeitada pelo Norte.
Depende da Coreia do Sul salvar a situação?
Cheong Seong-Chang, diretor do Centro de Estudos Norte-Coreanos do Instituto Sejong na Coreia do Sul, acredita que a ruptura das relações bilaterais é uma situação que não pode ser evitada.
"Creio que a Coreia do Norte irá cortar agora completamente suas relações com o Sul e procurar formas de manter seu sistema e desenvolvê-lo ainda mais, aumentando gradualmente o intercâmbio humanitário e a cooperação econômica com a China e a Rússia. Como tal, uma deterioração das relações intercoreanas é inevitável no futuro próximo, independentemente da reação do governo sul-coreano", destacou.
Em sua opinião, a desnuclearização da península coreana foi inicialmente uma missão quase impossível e o fracasso das conversações entre os EUA e Coreia do Norte em 2019 torna este objetivo cada vez mais irrealista. Portanto, o especialista sugere que o governo sul-coreano deve pensar em mudar as prioridades e preparar um plano para fortalecer a dissuasão nuclear o mais rápido possível.
"Se a situação continuar, como até agora [...] a capacidade nuclear e de mísseis da Coreia do Norte não só aumentará com o tempo, mas a desnuclearização será completamente impossível", ressaltou Cheong.
O especialista acredita que, para trazer Pyongyang de volta à mesa de negociações, Seul precisa oferecer à Coreia do Norte planos abrangentes de cooperação intercoreana que sejam viáveis e que possam ser de interesse para o Norte.
"Kim Jong-un tinha anteriormente uma política dura em relação ao Sul e, quando ele achou que era desfavorável à Coreia do Norte, ele subitamente mudou para uma política de apaziguamento, e depois voltou para a linha dura".
"Portanto, ainda existe a possibilidade de [...] o Norte voltar à política de apaziguamento. E a Coreia do Sul deve agora pensar em como vai restaurar a confiança, aliviar a tensão militar e restabelecer as relações intercoreanas", concluiu o especialista.