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Previsões do FMI sobre PIB brasileiro são mais realistas do que as de Guedes, diz economista

© Folhapress / Mateus BonomiO ministro da economia, Paulo Guedes, coloca uma máscara para se proteger da COVID-19 durante coletiva de imprensa em Brasília.
O ministro da economia, Paulo Guedes, coloca uma máscara para se proteger da COVID-19 durante coletiva de imprensa em Brasília. - Sputnik Brasil
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Após o Fundo Monetário Internacional prever uma queda de 9,1% no PIB do Brasil em 2020, em virtude dos efeitos da pandemia do novo coronavírus, o ministro da Economia, Paulo Guedes, declarou que as previsões do fundo estão erradas. Para economista Juliana Inhasz, as previsões do órgão internacional parecem mais realistas.

Em uma transmissão em vídeo, ao lado do presidente Jair Bolsonaro, o ministro afirmou que ninguém ainda sabe os reais impactos da crise, provocada pelo coronavírus, sobre o PIB nacional.

"A previsão do FMI é menos nove, e eu acho que vão errar", declarou Guedes.

Para Juliana Inhasz, professora de Economia do Insper (Instituto de Ensino e Pesquisa), a previsão do FMI parece bastante realista.

"Entre as duas previsões, a previsão do FMI infelizmente é ainda a mais realista. Porque ela leva em conta não só o que acontece na economia brasileira hoje, não só o nosso histórico, mas também leva em consideração a experiência internacional enfrentando a pandemia. Então nós temos um cenário bem mais amplo e bem mais completo olhando a previsão do FMI", explicou Juliana Inhasz à Sputnik Brasil.

A economista destacou que o Brasil ainda está "muito distante de conseguir ver a sua curva de casos declinar", o que traz incertezas e piora as previsões. Para ela, ainda não é possível observar uma grande recuperação dos indicadores econômicos, e Paulo Guedes tem sido muito otimista em suas avaliações.

De modo a justificar sua fala durante a transmissão, o ministro citou a queda no consumo de energia de 4% em junho, que seria menor, do que o esperado. Segundo o chefe da equipe econômica do governo, este seria um indicador de que a redução do PIB brasileiro pode não ser tão grande, quanto previsto. A professora Juliana Inhasz lembrou, entretanto, que o consumo de energia elétrica não pode ser medido de forma individual.

"Quando a gente olha essa queda, que o ministro salienta em junho, a gente não pode esquecer das quedas que vieram antes e da redução do consumo, e da redução da demanda, do aumento do desemprego, que também ainda está por vir nos próximos meses. Então acho que, de fato, talvez nós não estejamos num cenário tão caótico, quanto aquele que prevíamos no começo da pandemia - existia uma perspectiva extremamente negativa, dadas as incertezas que eram imensas - mas a gente está longe de estar num cenário favorável e otimista, como muitas pessoas gostam de salientar", afirmou a entrevistada.

A especialista acredita que, mesmo se o FMI não acertar em sua previsão, o resultado econômico no final de 2020 deve ficar mais próximo ao número apresentado pela organização internacional, do que ao apresentado pelo ministro de Bolsonaro.

Caminhando na direção certa sem vigor

A professora de Economia do Insper destacou que o quadro econômico se encontra em condições muito melhores, do que era esperado no início da pandemia. As medidas de auxílio, adotadas pelo governo, teriam sido essenciais para isso, acrescentou a especialista, embora ações mais vigorosas e de maior abrangência ainda sejam necessárias.

"O governo tem sido, em alguns aspectos, feliz em algumas ações que tem tomado, porém muito tímido. A gente tem visto o governo numa tentativa de auxiliar a população que está desfavorecida neste momento - muitas pessoas informais, muitos autônomos, muitos perdendo o emprego, elas precisam de fato de um auxílio do governo - governo conseguiu dentro das suas possibilidades, que são muito limitadas, fazer programas de auxílio", avaliou Inhasz.

Para a professora, o governo conseguiu se sobrepor aos desafios burocráticos e reagiu com celeridade, considerando as circunstâncias. Setores importantes, no entanto, como micro e pequenas empresas, ainda sofrem com problemas para receber crédito e com baixa efetividade das iniciativas estatais.

"Além disso, todos os problemas políticos que nós enfrentamos nos últimos meses criaram um cenário no qual não se tem uma orientação clara no combate à essa pandemia. Isso é um grande problema, porque a população se divide [...] e isso cria um problema institucional muito sério", alertou a economista.

Com os planos para continuidade dos auxílios comprometidos, "pois o dinheiro do governo está acabando e a pandemia continua", as incertezas continuam e o governo precisa responder a essas perguntas para chegar em condições de funcionamento até 2021, ponderou a interlocutora da Sputnik Brasil. Para isso, a economista destacou a importância de um plano de recuperação econômica pós-pandemia.

Inhasz chamou atenção para setores como turismo e de lazer, muito afetados pela pandemia e avisou que inúmeras empresas e pessoas devem falir durante o processo, comprometendo gravemente a dinâmica da economia. Por outro lado, considerando a situação econômica instável mesmo antes da pandemia, medidas de grande abrangência serão necessárias para possibilitar um desenvolvimento produtivo.

"Mais do que nunca, o governo precisa, antes dessa pandemia acabar, sentar ao redor de uma mesa, colocar em cima dessa mesa quais são os nossos objetivos de curto e médio prazo, e entender como a gente traça estratégias para alcançar esses objetivos, sempre tentando passar um custo menor ou um custo mais controlado para a população. Caso contrário, se a gente continuar fazendo as coisas como sempre fizemos - no susto, na necessidade, sempre na última hora - a população vai acabar pagando o maior preço", concluiu.
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