Com base em suas próprias análises de dados, em informações da mídia e de publicações científicas, o jornal revela que, no verão de 2012, foi registrado um surto de uma doença misteriosa na província de Yunnan, no sudoeste da China.
Doença desconhecida
Seis homens que estavam coletando excrementos de morcegos de uma mina de cobre foram hospitalizados com pneumonia grave, tendo três deles falecido posteriormente.
Segundo o jornal, todos apresentavam sintomas de doença respiratória, tendo acusado negativo para o SARS-CoV, que causou o surto da Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS) em 2002.
Contudo, testes conduzidos pelo Instituto de Virologia de Wuhan detectaram nos pacientes anticorpos de um vírus desconhecido, mas geneticamente semelhante aos vírus da família SARS.
De acordo com o Sunday Times, os pesquisadores chineses não lograram obter mais nenhuma informação sobre a nova doença.
No entanto, segundo o jornal, é possível formar uma visão geral do que aconteceu com base na tese de um médico chinês. O médico não especifica a causa exata da morte dos mineiros, mas refere que "muito provavelmente teve origem em infecção por coronavírus do tipo SARS por um morcego", escreve o Sunday Times.
Estudando a doença
Segundo o jornal britânico, um grupo de cientistas liderado por Zheng-Li Shi do Instituto de Virologia de Wuhan estudou mais tarde a mina abandonada onde ocorreu o surto, tendo encontrado nos excrementos de morcegos mais de 100 sequências de genoma de vários coronavírus. Uma delas foi apelida de "nova linhagem" SARS e chamada de RaBtCov/4991.
O estudo publicado não menciona os mineiros infectados. A própria Zheng-Li Shi, segundo o jornal, defendeu que a morte dos mineiros teria sido provocada por uma infeção por fungos.
Em fevereiro de 2020, escreve o Sunday Times, um outro estudo de Zheng-Li Shi e de seus colegas foi publicado na revista Nature. O artigo fornece informações sobre a cepa RaTG13, armazenada no Instituto de Virologia de Wuhan, cujo grau de afinidade genética com o SARS-CoV-2 atinge 96,2%.
Segundo o Sunday Times, esta amostra foi descoberta na província de Yunnan em 2013 quando foi estudado o mesmo tipo de morcego que no caso do RaBtCov/4991 – o Rhinolophus affinis.
"Estudos mostraram que o RaTG13 é quase certamente o coronavírus encontrado em 2013 na mina abandonada, chamado RaBtCov/4991. Por alguma razão, Shi e sua equipe lhe deram um novo nome", escreve o jornal, citando o especialista norte-americano Peter Daszak.
Seria um ancestral do SARS-CoV-2?
De acordo com o Sunday Times, as opiniões dos especialistas sobre se o RaTG13 ou um vírus similar poderia ter se transformado no SAR-CoV-2 e se espalhado por vazamento do laboratório de Wuhan, são muito divergentes.
Segundo uns, seriam necessários 20 a 50 anos para o RaTG13 pudesse se tornar totalmente idêntico ao SARS-CoV-2.
Outros defendem que, com a mudança de hospedeiro, o vírus evolui muito mais rápido, podendo assim se transformar em SARS-CoV-2 quando transmitido aos humanos.
Vale recordar que os EUA pretendem estabelecer a origem do novo coronavírus, tendo o presidente Trump ameaçado a China com consequências se se verificar que Pequim permitiu deliberadamente o surgimento do SARS-CoV-2.
Posteriormente, o chanceler norte-americano Mike Pompeo declarou que os EUA têm provas de que a China estava escondendo a situação com o coronavírus.
No entanto, as autoridades chinesas afirmaram reiteradamente que, desde o início, adotaram uma posição aberta e responsável em relação à disponibilização de dados sobre a epidemia do novo coronavírus.