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Política externa do governo Bolsonaro deixa Brasil exposto, diz especialista

© AP Photo / Ted S. WarrenPaciente recebe vacina experimental contra a COVID-19 em Seattle, nos EUA (foto de arquivo)
Paciente recebe vacina experimental contra a COVID-19 em Seattle, nos EUA (foto de arquivo) - Sputnik Brasil
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Para cientista político José Niemeyer, a postura internacional do governo Bolsonaro pode deixar o Brasil isolado na arena global e comprometer as negociações para adquirir vacinas contra o novo coronavírus.

Em live transmitida nesta quinta-feira (30) o presidente Jair Bolsonaro declarou que o Brasil está importando 100 milhões de doses de vacina produzida pela farmacêutica AstraZeneca e Universidade de Oxford.

O presidente não mencionou, no entanto, que o Brasil também possui reservas de vacina produzida pelo laboratório chinês Sinovac, desenvolvida em parceria com o Instituto Butantan, vinculado ao governo de São Paulo.

Ao exaltar a vacina inglesa, o presidente defendeu a sua superioridade tal como se defende um vinho, pela denominação origem. "Não é daquele outro país, não. Tá ok, pessoal?", disse o presidente, no que foi interpretado pela imprensa como uma clara referência à China.

Essa não é a primeira polêmica do governo Bolsonaro com o país asiático. Membros do alto escalão do seu governo já culparam Pequim pelo avanço da COVID-19, recorrendo a termos como "vírus chinês" e "comunavírus".

Para José Niemeyer, coordenador-geral do Programa de Relações Internacionais da Graduação e Pós-Graduação do Ibmec-Rio, a política externa do atual governo, bem como as recentes declarações do presidente sobre as vacinas, são um erro.

"É uma política externa muito específica. Que vai contra a tradição da nossa política externa", disse José Niemeyer à Sputnik Brasil, reiterando que "essa diferença de conduzir a política externa brasileira é um erro, do ponto de vista do conceito de relações internacionais".

O problema não seria somente o fato de a China ser o principal importador de produtos agrícolas como soja e derivados. Para o professor, já que o Brasil não pode ser definido como superpotência, declarar alianças e inimigos na arena internacional seria uma postura imprudente para um "representante máximo da República" e para um chefe de Estado.

"O Brasil perde com isso. A sociedade brasileira perde com isso. As empresas que transacionam não só com a China, mas também com outros parceiros que não sejam Estados Unidos e Israel, os dois únicos países, ao que parece, que Bolsonaro e sua equipe enxergam como aliados, perdem", afirmou José Niemeyer.

O cientista afirmou que a constante busca por inimigos externos e internos deve continuar sob a atual gestão do país, que busca "usar a política externa como palanque". A atitude, segundo ele, traz muitos problemas a longo prazo para o Brasil.

"O presidente Bolsonaro erra ao escolher a China como um país que não tem a preferência do Brasil. O Brasil deveria voltar a fazer como sempre fez e ter uma agenda de política externa baseada no multilateralismo, na transparência, em respeitar o direito de todos os povos e nações, em ter uma postura cooperativa nas relações internacionais em temas de comércio, desarmamento nuclear, direitos humanos e meio ambiente", disse o interlocutor da Sputnik Brasil.

Para o entrevistado, o Brasil não tem condições de sustentar uma "política externa alternativa" e unilateral, somente com EUA e Israel como aliados. Além disso, alertou Niemeyer, se o presidente Donald Trump não conseguir se reeleger em novembro, o governo brasileiro vai ficar extremamente isolado e precisará reconstruir toda sua relação com o novo governo americano.

Além disso, o entrevistado lembrou que além da China, países como Rússia e diversos países europeus, que cada vez mais criticam o Brasil, também estão desenvolvendo vacinas contra o coronavírus. Nesse contexto, a negociação com esses mercados ficaria muito comprometida.

"Essa opção por Estados Unidos e Israel, contrariando toda a nossa tradição de política externa, não é o que nos interessa", concluiu o especialista.
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