Em entrevista por telefone à Sputnik, o representante oficial do gabinete político do movimento, Suhail Shaheen, disse que as armas que o movimento recebe são provenientes inclusive do Exército do Afeganistão.
"Nosso escritório político [em Doha, capital do Qatar] mantém relações tanto com a Rússia quanto com os países vizinhos e da região. Mas apenas a nível político. Não estamos falando de relações militares e rejeitamos categoricamente tais considerações. Elas também podem fazer parte de uma campanha para quebrar o acordo de paz", ressaltou.
"Quanto às armas que temos, nós temos estoques de armas no Afeganistão e também compramos armas da administração de Cabul – do Exército. Houve alguns relatos que desapareceram ou foram roubadas centenas de milhares de armas. Portanto, nós compramos essas armas deles. E algumas capturamos [durante os combates]. Assim, temos muita munição. E tudo isso foi recebido do governo de Cabul", explicou.
O representante do Talibã também enfatizou o papel da Rússia na resolução afegã.
"O papel da Rússia na regulação afegã é muito importante. Ela também desempenhou um papel importante no passado, quando sediou a reunião interafegã em Moscou, estivemos lá pela primeira vez", confirmou.
A primeira rodada do chamado Diálogo Interafegão foi realizada em Moscou em fevereiro de 2019 com a participação do Ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, na qual participaram representantes de vários partidos e movimentos afegãos, incluindo o Talibã radical. A segunda rodada do diálogo deveria ocorrer na capital do Qatar nos dias 19 e 21 de abril, mas no último momento o adiamento foi anunciado.
No final de fevereiro de 2020, em uma cerimônia no Qatar, os Estados Unidos e o movimento radical afegão Talibã assinaram o primeiro acordo de paz em mais de 18 anos de guerra, que prevê a retirada das tropas estrangeiras do Afeganistão em 14 meses e o início de um diálogo interafegão após a conclusão de um acordo de troca de prisioneiros.
Em meados de julho, os militares dos EUA deixaram cinco bases no Afeganistão como parte desse acordo. O secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, pediu no início de agosto ao conselho de anciãos afegãos (conhecido como Loya Jirga) para libertar os prisioneiros do Talibã, e assim remover o obstáculo às negociações interafegãs.