Tendo feito os primeiros testes pré-clínicos e clínicos da vacina e comprovado sua eficiência em voluntários, a Rússia caminha para a fase de produção em massa do medicamento.
Entretanto, há quem pergunte por que os dados sobre a vacina não foram de imediato entregues à Organização Mundial da Saúde (OMS).
Respondendo a essa e outras questões em entrevista à Sputnik, o vice-diretor do Centro Nacional de Pesquisa de Epidemiologia e Microbiologia Gamaleya, Denis Logunov, afirmou:
"Em princípio, a prática é a seguinte: inicialmente apresentamos os resultados aos especialistas do Ministério da Saúde da Rússia. O objetivo era conseguir uma vacina segura e eficiente o mais rápido possível, e isso foi feito. Depois, traduzir os dados para a língua inglesa e escrever os artigos científicos. Por um lado, tal sistema não distrai os cientistas da tarefa que têm em mãos e, ao mesmo tempo, também não causa pressão nos especialistas que analisam os dados por nós obtidos", disse ele.
"Quando publicamos alguma coisa, como que mostramos 'vejam, nós publicamos, somos citados e discutidos, por isso, devem nos registrar'. Pelo contrário, a decisão de publicar os dados só depois de sua verificação pelo Ministério da Saúde permite fazer uma perícia imparcial. Por isso, agora que registramos o medicamento, nos próximos dias será entregue um artigo em língua inglesa a uma reputada revista internacional, ele passará pela avaliação dos especialistas, redatores e revisores", afirmou Logunov.
Tal processo de análise internacional deverá levar algum tempo, apesar de os dados já terem sido coletados.
Pressão para produzir a vacina?
Se, por um lado, a rapidez de produção da vacina Sputnik V causa dúvidas sobre as condições de seu desenvolvimento, Denis Logunov já havia explicado que a tecnologia por trás da vacina foi desenvolvida nas últimas décadas, como publicado em uma matéria anterior da Sputnik Brasil.
Será que os cientistas do Centro Gamaleya sofreram pressão das autoridades durante a criação da vacina?
"O governo só nos ofereceu ajuda. Eu ressalto que o desenvolvedor, ao receber o registro temporário, fica em condições muito difíceis, sob um controle muito rigoroso de todos os lados. Portanto, veja, não há uma alegria desmedida por termos conseguido. Precisamos trabalhar duro e produzir um produto de qualidade, pois é uma grande responsabilidade em nossas costas. Na corrida pela quantidade de doses, nossa prioridade é não perder a qualidade, garantir que as pessoas vão receber a vacina certa. Pressionar e falar para fazer mais e melhor é tolice", explicou.
Ainda segundo Logunov, tanto o governo quanto as autoridades envolvidas no processo de desenvolvimento da vacina "entendem que existem determinadas capacidades produtivas" e, para alargar a produção, "o presidente [Vladimir Putin], o governo, o Fundo Russo de Investimentos Diretos (RFPI, na sigla em russo), o diretor do nosso instituto Aleksandr Gintsburg fizeram todo o possível para encontrar financiamento a fim de ampliar e aumentar as capacidades produtivas. Isso é ajuda e não pressão."
Produzindo a vacina fora da Rússia
Tendo em vista a urgência e necessidade de disponibilizar o medicamento à população, os desenvolvedores da vacina, em conjunto com o governo, estão interessados em sua maior produção.
Para tanto, se espera que a produção em massa da vacina comece em setembro deste ano, ou seja, no próximo mês.
"Até o final de 2020 está planejada a produção de até 200 milhões de doses da vacina, se ativarmos todas as instalações de produção, incluindo as internacionais", afirmou.
Para isso, o RFPI financia o lançamento da produção da vacina nas empresas R-Farm e Binnofarm, que fazem parte do grupo empresarial Alium.
"Além disso, o RFPI vê hoje enorme interesse na vacina no mundo e planeja realizar uma terceira fase de testes clínicos, independente da fase russa, em diferentes países, entre eles a Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Brasil e Filipinas, assim como começar a produção em massa em vários países, em parceria com fundos soberanos locais, na Índia, Coreia do Sul e Brasil", disse o vice-diretor do Centro Gamaleya.
Também existe a possibilidade de produção da vacina na Arábia Saudita, Turquia e Cuba.
"Mais de 20 países expressaram interesse em obter a Sputnik V, incluindo os Emirados Árabes, Arábia Saudita, Indonésia, Filipinas, Brasil, México e Índia", concluiu Logunov.