Na última segunda-feira (31), ao falar com apoiadores na porta do Palácio da Alvorada, Bolsonaro disse a uma mulher que "ninguém pode obrigar ninguém" a receber a vacina contra a COVID-19.
No entanto, o próprio presidente sancionou, em fevereiro, uma lei que prevê a vacinação compulsória como medida de enfrentamento da pandemia.
O médico sanitarista e professor da Faculdade de Saúde Pública da USP, Gonzalo Vecina Neto, classificou a declaração do presidente como "absolutamente destrutiva", citando o caso da vacinação de crianças.
"Como é que o presidente de um país pode ir contra a lei? O estatuto da criança e adolescente fala claramente que é crime punível os pais deixarem de fazer a vacinação de seus filhos. Nós temos doenças terríveis ainda circulando no nosso meio, como é o caso da poliomielite. Como é que pode pensar na hipótese de não vacinar a criança?", disse ele.
"O mundo seria um desastre se não fossem as vacinas, ou se tivéssemos vacinas que não fossem seguras. As nossas vacinas todas são extremamente seguras. O resto é ignorância grossa e que tem que ser adequadamente enfrentada", acrescentou.
O especialista, que é fundador e primeiro diretor da Anvisa, observou que se as vacinas que atualmente estão sendo testadas no Brasil com milhares de pessoas passarem nos testes, serão vacinas seguras e eficazes.
"Se elas forem aprovadas, elas serão úteis para crianças e adultos. Será recomendável vacinar? Certamente será recomendável. Vamos começar com crianças? Não. Vamos começar com profissionais da saúde", explicou.
De acordo com ele, o grande desafio da vacina da COVID-19 no Brasil será administrar a chegada dos lotes depois da produção e a aplicação nos grupos populacionais, de acordo com o que for sendo definido pelas autoridades sanitárias.