'Não conseguiam nos abater': piloto russo explica vantagens e dificuldades de voos estratosféricos

© Foto / Pixabay / ekarplyukAvião voando na estratosfera (imagem referencial)
Avião voando na estratosfera (imagem referencial) - Sputnik Brasil
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Voos coordenados com pelo menos oito quilômetros de altura à noite exigem um muito elevado nível de concentração e preparação, são tão complexos que neles ainda não se pode confiar em sistemas automáticos.

Os caças-bombardeiros multifuncionais Su-34 do Distrito Militar Central da Rússia realizaram pela primeira vez um treinamento de ataque noturno na estratosfera.

Apesar de ser um elemento tático importante e muito complexo do treinamento de combate dos pilotos, voar em altas altitudes é um grande desafio que nem todos conseguem enfrentar. A uma altitude de 15 quilômetros o aparelho se comporta de maneira bem diferente das altitudes padrão de seis a sete mil metros acima do nível do mar.

Vladimir Popov, piloto emérito da Rússia e major-general de aviação, contou à Sputnik as dificuldades de manobra nessas condições.

"Para criar o torque de controle, você precisa de um desvio maior. Mas se [você] virar à direita ou à esquerda acima de uma certa norma, será preciso um grande esforço, que pode não ser suficiente e o avião cairá dessa altitude", detalha.

"É mais fácil dirigir um aparelho leve do que um totalmente reabastecido. É muito difícil permanecer na estratosfera por um tempo longo."

© Sputnik / Mikhail VoskresenskyCaça-bombardeiro russo Su-34 realiza voo de demonstração no show aéreo MAKS-2019
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Caça-bombardeiro russo Su-34 realiza voo de demonstração no show aéreo MAKS-2019

Além disso, aumenta a inércia e a dificuldade em determinar as distâncias, o que pode levar a aeronave a ultrapassar o líder com uma pequena aceleração, ou até só por causa da inércia, avisa.

Por isso, os aviões tentam se manter a uma distância de 200 metros um do outro.

A automação oferece muitas possibilidades, mas em grandes altitudes os pilotos costumam assumir o controle, continua Popov, e ainda mais em situação de combate, quando só uma pessoa consegue realizar manobras como evitar o fogo inimigo ou lançar mísseis.

Voo no escuro

Um voo na estratosfera é ainda mais complicado durante as horas noturnas – de noite o piloto sente sempre uma forte tensão psicológica e física.

O voo em grande altitude dificulta a reação do piloto devido à falta de luz, aumentando seu estresse psicológico e físico, o que levou a Força Aeroespacial da Rússia a desenvolver testes especiais para testar a reação no escuro. Os cadetes são levados para uma sala escura, cegados por um flash brilhante e é registrado o tempo após o qual ele consegue enxergar uma forma geométrica ou a silhueta de uma aeronave. Um bom indicador é demorar não mais que quatro ou cinco segundos.

Os voos estratosféricos noturnos são úteis por serem uma das formas mais eficazes de contra-atacar a aviação do inimigo, em particular para prevenir um ataque maciço da aviação estratégica do adversário.

© Sputnik / Vitaly TimkivCaça-bombardeiro Su-24M da Frota do Mar Negro durante um treino tático
'Não conseguiam nos abater': piloto russo explica vantagens e dificuldades de voos estratosféricos - Sputnik Brasil
Caça-bombardeiro Su-24M da Frota do Mar Negro durante um treino tático

Como exemplo, os bombardeiros norte-americanos B-52 voam a altitudes de cerca de 12 quilômetros.

"Para conduzir um ataque bem-sucedido, é sempre mais vantajoso estar um pouco acima do inimigo", aconselha Vladimir Popov.

"[Assim] ele é mais fácil de localizar, é mais simples manobrar e o alcançar. Além disso, alguns sistemas de defesa antiaérea simplesmente não atingem alvos na estratosfera. Lembro-me que trabalhávamos assim no Afeganistão, eles não conseguiam nos abater."

Recordistas estratosféricos

Os voos dos caças-bombardeiros Su-34 na estratosfera demonstram claramente o avanço dos projetistas russos no desenvolvimento de sistemas de combate multifuncionais. Como exemplo, o antecessor deste avião, o caça-bombardeiro Su-24, estava muito mal adaptado para manobrar em altitudes extremamente elevadas.

"O peso do aparelho e a potência do sistema de propulsão desempenham um papel importante", refere o major-general.

"Estes bombardeiros voam com enormes sobrecargas. O Su-24, por exemplo, é a primeira aeronave capaz de operar em altitudes ultrabaixas contornando o relevo do terreno, mas é muito pesado: com uma carga de bombas completa você mal consegue subir a uma altura de sete quilômetros."

O caça-bombardeiro Su-34 pode ser tanto um interceptor como uma aeronave de reconhecimento ou um caça, dependendo do caso, podendo alcançar uma ampla gama de alturas e velocidades, de 50-100 metros a 14-15 quilômetros, e de 500 km/h a 2.000 km/h.

A Força Aeroespacial da Rússia já tem outra aeronave única, para a qual a estratosfera é seu elemento nativo. O interceptor MiG-31, desenvolvido ainda nos anos 1970, continua sendo considerado o melhor caça de grande altitude do mundo. Devido a suas características técnicas sem igual, alcança velocidades de quase 3.000 km/h.

"De uma altitude de 40 quilômetros, o MiG-31BM pode atacar naves espaciais em órbita baixa. No topo da curva dinâmica o piloto dispara um míssil sobre satélites que estão a distâncias de até 120 quilômetros da Terra."

O MiG-31 continua sendo melhorado nos últimos anos, sobre cuja base está sendo desenvolvido um sistema avançado de interceptação de longo alcance, permitindo à aeronave voar ainda mais alto e rápido.

A aeronave melhorada de longo alcance será um elo importante no sistema de defesa aeroespacial da Rússia e será capaz de combater as mais avançadas armas, tais como mísseis e equipamentos aéreos.

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