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Fundador da Anvisa se diz cético quanto a estudo do MCTI sobre a nitazoxanida

© Folhapress / Pedro LadeiraMinistro da Ciência e Tecnologia, Marcos Pontes, durante lançamento da Campanha Semana Brasil, de incentivo ao comércio, no Palácio do Planalto, em Brasília, 3 de setembro de 2019
Ministro da Ciência e Tecnologia, Marcos Pontes, durante lançamento da Campanha Semana Brasil, de incentivo ao comércio, no Palácio do Planalto, em Brasília, 3 de setembro de 2019 - Sputnik Brasil
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O médico sanitarista Gonzalo Vecina Neto, fundador e primeiro diretor da Anvisa, criticou a promoção precoce que o governo brasileiro fez da nitazoxanida, antes mesmo da publicação do estudo sobre a eficácia do medicamento contra a COVID-19.

Na última segunda-feira (19), o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI) do Brasil apresentou os resultados positivos de um estudo clínico feito como o medicamento nitazoxanida contra a COVID-19.

Segundo a pasta, 1.575 voluntários estiveram envolvidos nos ensaios, que comprovaram a eficácia do composto na redução da carga viral de pacientes infectados pelo novo coronavírus em estágio precoce.

"O que eu posso dizer é que nós temos, agora, um medicamento comprovado cientificamente que é capaz de reduzir a carga viral. Com essa redução da carga viral, o que significa isso na prática? Significa que reduz o contágio", afirmou o ministro da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI), Marcos Pontes, destacando que o medicamento é de baixo custo e não apresenta efeitos colaterais significativos, mas não pode ser utilizado como um preventivo. 

​De acordo com o médico sanitarista Gonzalo Vecina Neto, professor da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP), fundador e primeiro diretor da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), a nitazoxanida é um antiparasitário que já vem sendo utilizado como um antiviral no tratamento de gastroenterocolites provocadas por rotavírus e norovírus. 

"Existem algumas tentativas de estudos também para o vírus da hepatite, mas ainda não confirmaram. E, aí, alguns cientistas resolveram fazer alguns estudos para verificar aqui, no caso, contra o coronavírus", disse ele em entrevista à Sputnik Brasil. 

​O estudo em questão, semelhante há outros 23 em desenvolvimento pelo mundo, ainda não foi publicado e muito menos revisado por outros especialistas. Segundo Vecina, para que o medicamento possa ser usado de fato no tratamento contra a COVID-19, ele deveria, antes de mais nada, ter a sua bula alterada pela Anvisa.

"A bula do medicamento não coloca nenhuma possibilidade de utilização desse medicamento para tratar esse vírus, o vírus da COVID-19. Além disso, esse medicamento, apesar de muito bem aceito — ele tem poucos efeitos colaterais —, não deve ser utilizado por pacientes que tenham algum problema no fígado e nos rins. Pelo ciclo dele dentro do nosso corpo, quem tem problemas hepáticos e renais não deve utilizar o medicamento."

Para o sanitarista, o evento realizado ontem (19) para apresentar a nitazoxanida como um medicamento a ser empregado no combate ao novo coronavírus foi um "equívoco". 

"Na melhor das hipóteses, muito respeitosamente. Por quê? Porque o estudo não está publicado e não temos a opinião abalizada, necessária, do órgão que controla segurança e eficácia de medicamentos no Brasil, que é a Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Eu, portanto, estou muito cético de que esses estudos sejam estudos validáveis do ponto de vista científico. Se fossem validáveis do ponto de vista científico, os estudos teriam sido colocados à disposição da comunidade científica." 

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