A água contaminada da planta nuclear de Fukushima, que deverá logo ser liberada no oceano Pacífico, contém carbono radioativo, que é "um importante contribuidor para a dose coletiva de radiação e tem o potencial de danificar o DNA humano", advertiu a organização ambientalista Greenpeace.
As mais de um milhão de toneladas de água armazenadas na planta (1,23 milhão, mais exatamente), além do trítio, contêm uma quantidade enorme de isótopo radioativo carbono-14, e outros radionuclídeos "perigosos", que terão "graves consequências a longo prazo" para a população e meio ambiente se forem lançados ao mar, alerta um informe da ONG, publicado nesta sexta-feira (23).
Shaun Burnie, autor do documento e principal especialista nuclear da Greenpeace Alemanha, afirmou ao canal CNN que os tanques poderiam conter até 63,6 gigabecquereles de carbono-14.
De acordo com a Comissão Reguladora Nuclear dos Estados Unidos, a unidade becquerel é a quantidade de radiação ionizada liberada quando um elemento, como o urânio, emite energia espontaneamente como resultado do decaimento radioativo. Desta forma, a unidade mede a radiação do solo, água, alimentos etc.
"Estes, junto com outros radionuclídeos na água, continuarão sendo perigosos por milhares de anos, com o potencial de causar danos genéticos. É mais uma razão pela qual estes planos devem ser abandonados", explicou Burnie.
Segundo os especialistas, este isótopo tem uma vida média de 5.370 anos. Para além de persistir no meio ambiente durante milhares de anos, ele se incorpora a toda a matéria viva.
Resposta da empresa operadora de Fukushima
Por sua parte, Ryounosuke Takamori, porta-voz da TEPCO, a empresa operadora da planta, declarou que a concentração de carbono-14 é de entre 2 e 220 becquerels por litro e salientou que "mesmo se esta água for continuamente consumida dois litros por dia, a dose anual de radiação será entre 0,001 e 0,11 millisieverts, o que não é um nível que afete a saúde".
Além do mais, a TEPCO assegurou que vai fazer um tratamento secundário da água "para satisfazer as normas reguladoras de liberação de substâncias para além do trítio", e reduzir a quantidade de materiais radioativos ao máximo possível.
Opinião de especialistas independentes
A professora de Materiais Nucleares da Universidade de Sheffield (Reino Unido) Claire Corkhill apontou no mesmo artigo da CNN que o trítio foi liberado ao mar em diversas ocasiões em países de todo o mundo e que o procedimento tem um "baixo impacto em organismos".
Porém, disse que a recente análise da água, realizada pela operadora TEPCO, mostrou que a radioatividade nos tanques era "mais do que se esperava", e indicava a presença de carbono-14 ou do radioisótopo emissor beta tecnécio-99. Ainda assim, os resultados não revelaram o teor de carbono-14 presente na água.
Enquanto isso, Francis Livens, professor de Radioquímica da Universidade de Manchester (Reino Unido), explicou ao canal que "qualquer emissão radioativa implica algum risco ambiental e de saúde", agregando que o risco dependeria da quantidade de carbono-14 que se libere no oceano.
Decisão do governo do Japão
O governo japonês anunciou recentemente seu plano de resolver o problema da água contaminada de Fukushima. "Não podemos adiar uma decisão sobre o plano para lidar com a água processada, para evitar atrasos no trabalho de desmantelamento da planta de energia nuclear de Fukushima Daiichi", afirmou Katsunobu Kato, secretário-chefe do Gabinete.
A operação poderia começar em 2022 e se estender por várias décadas. A decisão coloca fim a anos de debates sobre como se desfazer da água que foi utilizada para resfriar os reatores fundidos da planta nuclear de Fukushima, destruída por um tsunami em 11 de março de 2011.
Mais de nove anos depois, a água radioativa continua se acumulando, somando mais de um milhão de toneladas nos tanques, que vão alcançar seu limite em 2022.