Os astrônomos detectaram em Titã ciclopropenilideno (C3H2), uma molécula à base de carbono nunca antes detectada no Sistema Solar ou em qualquer outra parte do Universo.
O único lugar em que a molécula pode permanecer estável é no vácuo frio do espaço interestelar, explica uma cientista da agência espacial NASA.
"Pensamos em Titã como um laboratório da vida real, onde podemos ver uma química semelhante à da Terra antiga, quando a vida se desenvolvia aqui", afirma a astrobióloga Melissa Trainer do Centro de Voo Espacial Goddard, sobre o satélite de Saturno.
O ciclopropenilideno não tende a durar muito tempo em condições atmosféricas porque reage muito rápida e facilmente com outras moléculas e forma outros compostos. Assim que o faz, não é mais ciclopropenilideno. A substância só existe na Terra em condições de laboratório.
No entanto, no espaço interestelar qualquer gás ou pó é geralmente frio e muito difuso, o que significa que os compostos não interagem muito, e o ciclopropenilideno pode permanecer em sua forma original.
As características do Titã são muito diferentes das do espaço interestelar, pois possui lagos, nuvens de hidrocarbonetos e uma atmosfera predominantemente de nitrogênio, com algum metano. A atmosfera é quatro vezes mais espessa que a da Terra, e abaixo da superfície pode conter um enorme oceano de água salgada.
A molécula foi descoberta nas camadas superiores da atmosfera, onde é mais difusa, mas a razão de aparecer em Titã e em nenhum outro lugar é um mistério.
"Quando percebi que estava vendo ciclopropenilideno, a primeira coisa que pensei foi: 'uau, isto é realmente inesperado'. Titã é único em nosso Sistema Solar. Tem provado ser um tesouro de novas moléculas", diz Conor Nixon, também do Centro Espacial.
C3H2 é de particular interesse por ser o que se conhece como uma molécula de anel, em que seus três átomos de carbono estão ligados em um círculo. As nucleobases de DNA e RNA, a estrutura química complexa com o código genético da vida, se baseia nestes anéis moleculares.
Os cientistas acreditam que moléculas do tipo C3H2 poderiam estar construindo blocos para moléculas orgânicas mais complexas que, por sua vez, poderiam até dar origem à vida. A questão que os preocupa mais do que qualquer outra é se a vida pode existir em Titã, razão pela qual consideram o estudo publicado na revista Astrophysical Journal importante.