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Esquerda ou direita? 'É difícil saber para onde aponta a América Latina', diz especialista

© REUTERS / Ueslei MarcelinoApoiadores do ex-presidente da Bolívia Evo Morales acompanham caravana do líder entre Uyuni e Oruro, após seu retorno ao país
Apoiadores do ex-presidente da Bolívia Evo Morales acompanham caravana do líder entre Uyuni e Oruro, após seu retorno ao país - Sputnik Brasil
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A vitória do socialista Luis Arce na Bolívia é uma "renovação de ânimo" para a esquerda da América Latina, mas não representa uma mudança de rumos políticos na região, disse especialista à Sputnik Brasil.

Com o enfraquecimento da chamada onda rosa, quando governos progressistas e socialistas estavam no poder na América Latina, maré conservadora dominou os países da região. Pouco a pouco, porém, as forças foram se equilibrando. 

Em 2018, Andrés Manuel López Obrador venceu as eleições mexicanas. No final de 2019, Alberto Fernández, tendo Cristina Kirchner como vice, tomou posse como presidente da Argentina, substituindo Mauricio Macri. 

E mais recentemente, o Movimento ao Socialismo (MAS), partido de Evo Morales, que renunciou à presidência em novembro de 2019, retornou ao poder na Bolívia com a vitória de Luis Arce nas eleições. 

Além disso, no Chile, mesmo que governado por Sebastián Piñera, um conservador, a população aprovou, por meio de um referendo histórico, a elaboração de uma nova Constituição, aposentando a Carta feita nos estertores da ditadura Pinochet. 

'Prematuro cravar tendência de mudança'

Segundo o cientista político Paulo Velasco, esse retorno de governos progressistas ao poder é um fato "importante" e "fortalece a esquerda latino-americana, que se via frustrada desde o fim da onda rosa". 

No entanto, ele diz ser "prematuro cravar uma tendência de mudança de rumos políticos na região". 

"Não vejo de fato uma tendência inequívoca favorável à esquerda. Acho que é muito mais um cenário de dificuldade em vários países, em que os governos de plantão acabam tendo dificuldade para emplacar um segundo mandato ou seus sucessores. Isso abre oportunidade para governos de oposição, sejam eles de direita ou de esquerda, ganharem espaço e apoio popular", afirmou o diretor do curso de relações internacionais da UERJ (Universidade do Estado do Rio de Janeiro). 

Como exemplo, Velasco aponta o caso do Uruguai, que seguiu caminho inverso ao da Argentina e Bolívia: após 15 anos de governo da Frente Ampla, que projetou o nome de José Mujica como líder da região, a centro-direita, com Luis Lacalle Pou, triunfou no pleito de novembro de 2019. 

Velasco lembra ainda que muitos países da América Latina continuam nas mãos da direita, como a Colômbia, com Iván Duque, Brasil, com Jair Bolsonaro, e o próprio Chile, com Sebastián Piñera. 

Região apresenta 'mais fraturas'

De acordo com o cientista político, a região atualmente apresenta "mais fraturas", o que, como consequência, exigirá mais diplomacia e tolerância entre as nações. 

"É difícil saber para onde aponta a América latina. Mas há hoje uma região que revela mais fraturas, mais desencontros, do que há alguns poucos anos, quando havia consenso maior à direita. Isso exigirá uma maior articulação e capacidade de diálogo em termos diplomáticos e políticos , deixando de lado extremismos ideológicos em favor de posições mais coordenadas e de uma concertação mais eficiente", ponderou o especialista. 

Sobre o Mercosul, Velasco diz que a situação "é delicada", devido às diferenças e "falta de diálogo" entre Brasil e Argentina. Ao mesmo tempo, ele aponta que o bloco conseguiu "entendimentos importantes com atores externos" e mesmo "acordos importantes para dentro". 

Países não devem ter 'ilusões' com Biden

Quanto à vitória de Joe Biden nas eleições estadunidenses, o especialista afirma que sua chegada à Casa Branca representa "alívio" em relação às "posturas preconceituosas, inclusive racistas e xenófobas", do presidente Donald Trump. 

Por outro lado, alerta que os países da América Latina não devem alimentar "ilusões de "aprofundamento das relações" com os Estados Unidos com um governo democrata, que "tem o hábito de pressionar" a região "em favor de concessões na área econômica e comercial". 

"Os governos democratas já protagonizaram momentos de desencontros importantes com a América Latina de modo geral, e não necessariamente haverá uma afinidade em termos de agendas", disse Paulo Velasco.
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