As altas taxas de gravidez na adolescência na América Latina custam a seis governos da região pouco mais de US$ 7 bilhões por ano e agravam a pobreza e a desigualdade, segundo pesquisa divulgada pela Organização das Nações Unidas (ONU) na quarta-feira (11), informou a agência Reuters.
Por nação, a gravidez na adolescência custa anualmente em média US$ 1,2 bilhão em perda de renda materna, receita tributária, assistência médica e custos hospitalares, de acordo com o Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA) que analisou Argentina, Colômbia, Equador, Guatemala, México e Paraguai. Em reais, isso vale cerca de R$ 6,5 bilhões para cada um deles.
Estes são custos que os governos "poderiam não ter se conseguissem evitar a gravidez indesejada de adolescentes", relatou o estudo do UNFPA.
"Se pudéssemos evitar a gravidez precoce, poderíamos melhorar as oportunidades para as mulheres e expandir sua renda e opções e também poderíamos aumentar a capacidade do Estado de arrecadação de impostos", comentou Federico Tobar, assessor do UNFPA para a América Latina e Caribe.
Como porcentagem do Produto Interno Bruto (PIB), a gravidez entre adolescentes com 20 anos custa 0,35% do PIB em média, passando de 0,22% na Argentina para 0,58% na Colômbia, de acordo com o relatório.
Entre os seis países analisados, o ônus da gravidez adolescente foi mais alto no México custando à nação US$ 4,1 bilhões anuais, e mais baixo no Paraguai, com US$ 1,3 bilhões anuais, ainda assim um custo relativo altíssimo quando se lembra que sua população é 20 vezes menor do que a mexicana.
Uma mãe adolescente perde a oportunidade de ganhar, em média, US$ 1.243 por ano - R$ 6.728,00 - em comparação com uma mulher que se torna mãe na vida adulta, segundo o relatório.
Também é mais provável que elas abandonem a escola, façam trabalho doméstico não remunerado e, além disso, ganhem 24% menos de salário em comparação com as mulheres que se tornam mães entre 20 e 29 anos de idade.
As mães adolescentes, que não têm meios para optar pela abstinência sexual nesta idade, também têm três vezes menos chances de obter um diploma universitário quando comparadas às mulheres que tiveram filhos em idade mais avançada. A falta de educação superior alimenta os ciclos de pobreza de acordo com a pesquisa.
"Os altos índices de gravidez adolescente na América Latina são impulsionados pela falta de educação sexual nas escolas e pelo baixo acesso à contracepção gratuita para meninas que se tornou ainda mais difícil de obter devido ao fechamento de clínicas por causa da COVID-19", segundo Tobar.
Antes do coronavírus, a América Latina e o Caribe tinham o segundo maior índice de gravidez adolescente do mundo, atrás da África Subsaariana, com números crescentes, informou o UNFPA.
Brasil
A cada dia, 930 adolescentes engravidam no país. Ao fim do ano, isso significa 434 mil jovens mães. Este número já foi maior e agora está em queda. Entre 2000 e 2018, por exemplo, diminuiu 40% o número de bebês de mães adolescentes de 15 a 19 anos. Mas entre adolescentes menores de 15 anos, a queda foi de apenas 27% de acordo com dados do Ministério da Saúde.
Ainda assim, o Brasil registra uma das maiores taxas se comparado aos países da América Latina e Caribe, chegando a 68,4 nascidos vivos para cada mil adolescentes e jovens. Além da tragédia social, há o fracasso econômico. O país perde cerca de R$ 4,8 bilhões por ano.