"Mostra que o governo português está comprometido, e é mais exposição na mídia. Portugal participa do projeto ativamente na construção do KC-390, é sócio do projeto e não é só um comprador da aeronave. A entrada em operação do avião na Força Aérea Portuguesa vai ser uma vitrine para a Embraer na Europa e na OTAN. Vai ser uma ótima propaganda para outros países conhecerem o avião quando a FAP operar em outras missões no exterior, uma vitrine para exportar esse avião para mais países. A Embraer precisa urgentemente de novas encomendas, porque o concorrente principal é o C-130 Hércules, da Lockheed, que é a maior empresa de fabricação de aviões militares do mundo. Concorrer não é fácil. Portugal vai ser incrível para Embraer divulgar o KC-390 para futuros potenciais clientes", avalia o consultor brasileiro Alexandre Galante, que mora em Braga.
Apesar de não comentar o adiantamento de uma parcela que vai poupar € 3,5 milhões (cerca de R$ 22,7 milhões) aos cofres portugueses, a Embraer reconhece a importância de Portugal para o sucesso do programa KC-390, em nota enviada à Sputnik Brasil.
"Portugal é o maior parceiro internacional do Programa KC-390 e a sua participação no desenvolvimento e na produção da aeronave é reconhecida como tendo tido um impacto econômico positivo na geração de empregos, novos investimentos, aumento de exportações e avanços tecnológicos. Além do pedido firme de cinco aviões de transporte multimissão KC-390 Millennium, o contrato inclui também a compra de um simulador de voo e 12 anos de serviços de suporte para manutenção", lê-se na nota.
Peças produzidas em fábrica de Évora
A empresa acrescenta que nas instalações da Embraer no Parque da Indústria Aeronáutica de Évora são produzidas as longarinas das asas, os painéis de revestimento das asas, assim como o estabilizador vertical e o estabilizador horizontal do KC-390. A OGMA, empresa controlada pela Embraer em Portugal, fornece os painéis da fuselagem central, as carenagens dos trens de pouso principais (sponsons), as portas dos trens de pouso principais e o profundor do KC-390:
"A parceria industrial contribui para o desenvolvimento da engenharia e da indústria aeronáutica portuguesas, representando mais de € 300 milhões [aproximadamente R$ 1,9 bilhão] em exportações por ano e milhares de empregos altamente qualificados", acrescenta a nota.
Questionada pela Sputnik quais as grandes inovações que o KC-390 traz para o mercado de transporte aéreo e carga no setor militar, comparado ao C-130 Hércules, que é usado por quase todas as força aéreas do mundo, a Embraer diz que o KC-390 Millennium é um jato de transporte tático projetado para estabelecer novos padrões em sua categoria. Segundo a empresa, Portugal adquiriu a aeronave KC-390 Millennium, que possui essa designação por ser também preparada para realizar missões de reabastecimento aéreo, por cumprir os requisitos da Força Aérea Portuguesa (FAP), sendo capaz de realizar diversas missões militares e civis, incluindo apoio humanitário, evacuação médica, busca e salvamento e combate a incêndios florestais e acrescentando capacidades superiores de transporte e lançamento de carga e tropas, e reabastecimento em voo.
"Algumas das principais características da aeronave são: maior mobilidade, design robusto, maior flexibilidade, tecnologia de ponta comprovada e fácil manutenção. Além disso, o C-390 Millennium pode executar uma variedade de missões, como transporte de carga e tropas, lançamento aéreo de cargas e paraquedistas, busca e salvamento, combate aéreo a incêndios, evacuação médica e missões humanitárias", destaca a nota.
Galante, que é idealizador do site Poder Aéreo e da revista Forças de Defesa, acompanhou a apresentação do KC-390, em 2014, no Brasil, e o definiu como um avião que carrega o desafio de conquistar muitas bandeiras, em alusão à necessidade de que mais países comprem a aeronave.
"Foi o desfile de 32 funcionários da Embraer, carregando bandeiras de países dos quatro cantos do mundo, que se mostrou como a cena mais chamativa e de maior simbolismo da cerimônia relativamente simples que precedeu a saída, do grande hangar de montagem final, do primeiro protótipo do jato de transporte militar da Embraer, o KC-390. A Embraer se apresentava naquele dia como uma das quatro maiores indústrias aeronáuticas mundiais, capaz de desenvolver o KC-390, maior aeronave já produzida no país, para substituir um avião de incontestável sucesso como o C-130 Hercules. E não só os Hércules da FAB, mas também os de diversas forças aéreas do mundo, caso uma parte significativa daquelas bandeiras em desfile passe a representar clientes efetivos", relata Galante.
Revisão Crítica do Projeto por videoconferência em função da pandemia
Seis anos depois, a Força Aérea Portuguesa divulgou, nesta semana, fotos da aeronave na linha de montagem, destacando que o projeto mantém-se sem qualquer atraso apesar da pandemia. As imagens foram divulgadas após a Revisão Crítica do Projeto (CDR, na sigla em inglês) dentro do programa de aquisição do sistema de armas do KC-390 Millennium.
Entre 27 e 29 de outubro, equipes multidisciplinares da FAP e da Embraer realizaram videoconferências para fechar o desenho da arquitetura dos sistemas, de acordo com os requisitos estabelecidos pelo Estado Português, e acompanhar o estágio de produção da primeira aeronave KC-390 destinada à Força Aérea, na fábrica em Gavião Peixoto, no interior de São Paulo, nas mesmas instalações em que Galante acompanhou o lançamento de perto, em 2014.
Na última semana, ao anunciar o pagamento adiantado de uma parcela, de um total de 827 milhões de euros, pelos cinco aviões K-390, o ministro da Defesa Nacional, João Gomes Cravinho, destacou que a produção também está adiantada.
"O processo de fabrico está adiantado. Podíamos fazer duas coisas: avançar no pagamento ou respeitar aquilo que estava inicialmente contratualizado, que é, conforme determinados marcos no processo, ir pagando 'X'", disse o ministro na ocasião.
Em agosto de 2019, o governo português e a Embraer assinaram contrato para aquisição de cinco KC-390. As entregas estão programadas para começar em março 2023, com uma aeronave entregue a cada ano, até fevereiro de 2027. Segundo a Embraer, desde o início da campanha de testes de voo, em 2015, o KC-390 apresentou uma disponibilidade muito alta, registrando uma taxa de voo sem precedentes no programa.
No ano passado, a campanha de testes foi focada em ensaios relativos às capacidades militares para demonstrar a capacidade multimissão da aeronave, como capacidade de ressuprimento aéreo e reabastecimento em voo de caças. De acordo com a Embraer, nos ensaios de capacidade de ressuprimento aéreo, foram realizados, com sucesso, lançamentos de cargas em diversas configurações que mostram a flexibilidade oferecida pelo moderno sistema de lançamento de cargas do KC-390.
"Nestes ensaios, foram demonstradas configurações para lançamento de fardos pela rampa e pelas portas laterais, assim como contêineres pelo método de lançamento por gravidade. O KC-390 demonstrou a capacidade de lançar até 24 contêineres por gravidade no mesmo voo. Além disso, foram realizados ensaios de lançamento de plataformas pelo método de extração, de maneira automática, incluindo a função de lançamento sequencial", lê-se no comunicado da Embraer.
Conforme a empresa brasileira, o KC-390 é equipado por motores turbofan Aero Engines V2500, os aviônicos mais modernos, uma rampa traseira e um avançado sistema de movimentação de carga, sendo capaz de transportar até 26 toneladas a uma velocidade máxima de 470 nós (870 km/h) e de operar em ambientes austeros, incluindo pistas não pavimentadas ou danificadas. A aeronave também pode transportar paletes, helicópteros, veículos blindados e tropas (80 soldados ou 66 paraquedistas).
Ainda segundo a Embraer, o desempenho do KC-390 se beneficia de um moderno sistema de controle fly-by-wire com tecnologia integrada que diminui a carga de trabalho da tripulação e aumenta a segurança de sua operação. Além disso, aeronave pode reabastecer outros aviões em voo, com a instalação de dois tanques internos de combustível removíveis. Ela também pode ser reabastecida em voo, proporcionando maior flexibilidade para missões mais longas. Um sistema avançado de autodefesa aumenta a capacidade de sobrevivência da aeronave em ambientes hostis.