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'Ajuda externa para o meio ambiente só virá se Brasil mudar discurso e ministro', diz especialista

© Folhapress / Mateus Bonomi/AGIF/FolhapressPresidente Jair Bolsonaro participa de cerimônia do Dia do Aviador e da Força Aérea Brasileira, em Brasília, ao lado do ministro Ricardo Salles, do Meio Ambiente, no dia 23 de outubro de 2020
Presidente Jair Bolsonaro participa de cerimônia do Dia do Aviador e da Força Aérea Brasileira, em Brasília, ao lado do ministro Ricardo Salles, do Meio Ambiente, no dia 23 de outubro de 2020 - Sputnik Brasil
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Segundo advogado, pedido de Ricardo Salles para que países críticos da política ambiental brasileira "ponham a mão no bolso" não será atendido a menos que o governo assuma suas responsabilidades.

O representante do Brasil na Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas no ano que vem é a mesma pessoa que personifica hoje a política ambiental de "conflito de confiabilidade com a comunidade internacional" e que nesta quinta-feira (3) pediu aos países críticos do Brasil que coloquem recursos aqui: o ministro Ricardo Salles, do Meio Ambiente.

Foi assim que o advogado especializado em Direito Ambiental, Antonio Fernando Pinheiro Pedro, definiu em entrevista para a Sputnik Brasil a situação em que o país se encontra na agenda ambiental.

"Vivemos uma realidade de negação em várias áreas e, naturalmente, no ambientalismo. Estamos, literalmente, andando para trás. E a menos que mudemos o discurso, que mudemos o ministro e que estabeleçamos uma organização administrativa e de gestão territorial e ambiental compatível com confiabilidade na relação com estes países, acho muito difícil conseguirmos dinheiro lá fora", disse o advogado.

A declaração de Salles aconteceu durante a tradicional transmissão do presidente da República de todas as quintas-feiras via Internet. Nela, o ministro foi confirmado como representante do governo na vigésima-sexta edição da Conferência, chamada de COP-26, que acontecerá em Glasgow, no Reino Unido, entre os dias 1 e 12 de novembro de 2021.

Até lá, se nada for feito para melhorar a imagem do Brasil, continuaremos confundindo valor com desvalor, como argumentou o advogado.

"O pensador e filósofo chinês Confúncio dizia que valor é assumir suas responsabilidades. E que desvalor é passar essa responsabilidade a outros. Estamos agindo assim, arrumando desculpas para a falta de condições gerenciais para lidar com crise ambiental. E aí fica muito difícil pedir ajuda financeira para quem, lá fora, olha para nós e enxerga uma operação de alto risco e uma administração inepta", defendeu Antonio Fernando Pinheiro Pedro.

Segundo o especialista, a questão não é apenas Salles. É, também, o que ele representa. O ministro segue um padrão de comportamento que agrada ao presidente Jair Bolsonaro. Com isso, "estamos desconstruindo as relações internacionais" e pondo em risco a própria noção de soberania, tão alardeada pelo governo quando os temas da Amazônia - desmatamento e direitos humanos de povos indígenas, por exemplo - são levantados.

"Se continuarmos assim, com este discurso primário e reativo, haverá um questionamento sobre o conceito de soberania nacional. Atualmente há uma relativização deste conceito e ela se refere a uma soberania, na verdade, afirmativa. Ou seja, para se manter uma soberania é preciso desenvolver ações que demonstrem efeito concreto sobre seu território. Ações que se traduzem em gestão ambiental, gestão da ordem pública e em eficiência na manutenção das instituições de resolução de conflitos. E hoje a gente vê que o governo não está exercendo este controle territorial efetivamente. E assim mostramos ao mundo uma relativização desta soberania", explicou Pedro.

Sem essa mudança de percepção, os governos e instituições internacionais só darão dinheiro a organizações, como as não governamentais, que possam desenvolver e acompanhar programas concretos com administradores competentes, estrutura técnica e relatórios "sem fantasia", como ele definiu.

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