Haverá entendimento com China?
Os Estados Unidos planejam encerrar sua guerra comercial com aliados europeus, trabalhando com os mesmos para lidar com as práticas comerciais da China, disse uma autoridade-chave do governo de Biden, depois que Pequim e Bruxelas assinaram um acordo de investimento importante.
Jake Sullivan, assessor de Segurança Nacional do presidente eleito Joe Biden, contou que o novo governo em Washington reconheceria a China como uma séria competidora estratégica para os EUA, segundo o South China Morning Post.
Também acrescentou que Biden resolverá as diferenças econômicas entre os EUA e seus aliados europeus, de modo a melhorar suas relações e combater conjuntamente a China em várias frentes, desde comércio e tecnologia a campo militar e assuntos de direitos humanos.
Observadores disseram que, ao nomear Pequim como uma competidora estratégica, o governo Biden não só colocaria mais pressão econômica e comercial na China, como também avançaria em outras áreas importantes a longo prazo, incluindo o controle sobre o Indo-Pacífico.
"[Biden] acredita que a competição com a China é abrangente e de longo prazo, que não é apenas na economia, mas também na [...] influência global [...]. Portanto, Biden não levará avante políticas de curto prazo para a China como Trump fez", afirmou Tang Xiaoyang, professor de Relações Internacionais da Universidade Tsinghua.
O professor acredita que Biden poderá ver a China com outros olhos, podendo encontrar um jeito dos dois países cooperarem.
Em janeiro de 2018, a administração Trump impôs tarifas de 30% a 50% sobre as importações de painéis solares e máquinas de lavar. Dois meses depois, os EUA impuseram tarifas sobre o aço (25%) e o alumínio (10%) da maioria dos países, cobrindo cerca de 4,1% das importações dos EUA.
Em 1º de junho de 2018, estas mesmas tarifas foram estendidas para União Europeia (UE), Canadá e México. No mesmo mês, as tarifas retaliatórias da UE entraram em vigor em 22 de junho, com a união dos Estados impondo tarifas sobre 180 tipos de produtos, em um total de mais de US$ 3 bilhões (R$ 15,4 bilhões, na cotação atual) em produtos americanos.
UE, um trunfo precioso
As declarações de Sullivan surgem após a China e a União Europeia terem concluído as negociações sobre um acordo de investimento abrangente na semana passada.
A UE disse que o acordo proporcionaria condições equitativas para os investidores europeus, estabelecendo obrigações claras para as empresas estatais chinesas e proibindo transferências forçadas de tecnologia, entre outras práticas. A conclusão das negociações é vista como uma vantagem diplomática para Pequim antes da posse de Biden como presidente dos EUA, prevista para 20 de janeiro.
Biden sinalizou durante sua campanha presidencial a intenção de conter a ascensão da China e falou da necessidade de coalizões mais fortes contra Pequim na frente comercial.
Assim, é quase certo que os EUA não reverterão as tarifas contra a China, mas consultarão parceiros na Europa e na Ásia para "exercer influência sobre a China para mudar seus abusos comerciais mais problemáticos".
Após as eleições presidenciais dos EUA, autoridades europeias pediram mais cooperação com Washington para lidar com a China, que é vista também como uma rival sistêmica pela UE.
Outras questões a serem trabalhadas
Sullivan disse que, embora Biden reconheça a China como uma competidora estratégica dos EUA, o democrata também trabalhará com a China em questões como as mudanças climáticas.
Zhao Minghao, membro sênior do Centro de Estudos Americanos da Universidade Fudan, disse que o governo de Biden não estaria disposto a iniciar uma "nova Guerra Fria" com a China. Deste modo, Biden poderia aliviar parte da pressão sobre as empresas tecnológicas chinesas, mas também intensificar a pesquisa científica e tecnológica ligada à segurança nacional.
Por sua vez, Zhang Henglong, vice-diretor do Instituto de Diplomacia Pública da Organização de Cooperação de Xangai da Universidade de Xangai, opina que Biden se concentrará mais em questões internas.
Sobre a Rússia
É certo que o futuro presidente não deverá se esquecer de que terá de lidar com outra "grande rival" dos EUA, a Federação da Rússia, sendo uma de suas maiores preocupações a possibilidade de renovar o acordo nuclear START, de acordo com o The New York Times.
No entanto, tal renovação do tratado nuclear ficará mais complexa por causa da promessa de Biden: garantir que Moscou seja responsabilizada por seu, suposto, ataque cibernético a mais de 250 empresas americanas e redes privadas.
Até agora, ainda não houve discussões entre os representantes de Biden e as autoridades russas sobre o tratado em causa, disseram os responsáveis pela transição na Casa Branca, atribuindo o "atraso" ao que Sullivan chama de tradição de "um presidente de cada vez".