O tecido formado na superfície da blástula de um vertebrado demonstrou possuir uma resposta imune inata. Essa dinâmica de defesa foi filmada em peixes-zebra, posteriormente confirmada em camundongos e se revela como o primeiro sinal de resposta imunológica em vertebrados, de acordo com estudo recente publicado na revista Nature.
Mesmo na fase embrionária, peixes e mamíferos não são totalmente indefesos. Muito antes do desenvolvimento de órgãos ou células imunológicas especializadas, o epitélio, que funciona como uma camada protetora, pode se estender, detectar, ingerir e destruir células defeituosas.
Entender melhor este processo inicial pode ajudar na descoberta das razões que levam às falhas no desenvolvimento de embriões, permitindo originar novos tratamentos para casos de infertilidade ou abortos espontâneos precoces.
"Aqui propomos uma nova função evolutivamente conservada para epitélios como eliminadores eficientes de células mortas nos primeiros estágios da embriogênese de vertebrados", diz a bióloga celular Verena Ruprecht, do Centro de Regulação Genômica.
É uma suspeita antiga dos cientistas a existência de uma resposta imune inata, responsável pela proteção dos embriões jovens e demais ameaças, como morte celular esporádica, inflamação e agentes infecciosos.
"Nosso trabalho pode ter importantes aplicações clínicas e um dia levar a melhoria de métodos de triagem e padrões de avaliação da qualidade do embrião usados em clínicas de fertilidade."
A teoria se confirmou a partir da análise de imagens em 4D in vivo de embriões de ratos e de peixes-zebra, nas quais foram verificados dois tipos de "braços" epiteliais, que parecem devorar e destruir essas células defeituosas. "As células cooperam mecanicamente", explica o biólogo do desenvolvimento Esteban Hoijman.
"Tal como pessoas que distribuem comida à mesa de jantar antes de comerem, descobrimos que as células epiteliais empurram as células defeituosas em direção a outras células epiteliais, acelerando a remoção das células mortas", exemplificou.
Pesquisas futuras serão desenvolvidas a fim de determinar se o mesmo processo imunológico inato ocorre também nos invertebrados.