Vacinação lenta, queda da adesão às medidas preventivas e omissão de agentes públicos em implementar, estimular, controlar e fiscalizar o cumprimento de normas de distanciamento social só aumentam esse risco. Para piorar a situação, novas variantes do novo coronavírus vêm surgindo e se espalhando pelo país.
Para discutir o tema, a Sputnik Brasil conversou com Fernando Barros, médico epidemiologista e professor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), no Rio Grande do Sul.
Ele acredita que é possível que o país não consiga atingir um nível de imunização com a vacina capaz de levar a uma situação chamada de imunidade de rebanho: "A vacinação começou mal no Brasil, temos pouca vacina, não conseguimos ainda nem chegar perto de cobrir com a imunização os grupos mais vulneráveis, então eu acho que há uma possibilidade grande de que essa doença não vá embora, que ela fique, mesmo quando a gente tiver uma proporção grande da população imunizada ela ainda pode circular e ser mais uma infecção com a qual nós vamos ter que conviver por mais tempo".
Em relação a quando a população deve estar imunizada, Barros disse que isso vai depender do que o governo vai fazer de agora em diante.
"Nós começamos mal esse processo, várias vacinas importantes foram oferecidas ao governo no ano passado e não foi fechado negócio, acabamos ficando só com duas vacinas, o que não é ruim, mas poderia ser melhor. Agora foi noticiado que o Senado tomou para si a tarefa de negociar com as farmacêuticas e existe alguma possibilidade de que finalmente consigamos comprar vacinas muito eficazes, com a da Pfizer e da Johnson&Johnson", avaliou o epidemiologista.
Segundo ele, se conseguirmos aumentar o número de vacinas para a população, o próximo passo é pensar quando é que vamos conseguir vacinar todo mundo. Mas Barros lembra que a população acima de 18 anos — para quem está indicada a vacinação no momento — é de 160 milhões pessoas: "Com duas doses da vacina, se não for a da Johnson&Johnson, são mais de 300 milhões de doses e nós, por enquanto, nem vislumbramos de onde vão sair 300 milhões de doses para vacinar a população".
A esperança é, de acordo com o médico, que vários segmentos do governo não só federal, mas dos Estados também, assumam a tarefa de contratar novas vacinas e iniciar o processo de descentralização da imunização.
"Eu acredito que o PNI [Plano Nacional de Imunização] é importantíssimo, as regras do Ministério da Saúde devem ser seguidas, mas nós estamos no momento onde alguém tem que fazer alguma coisa para aumentar o número de doses disponíveis. Não podemos continuar recebendo 2 milhões de doses da AstraZeneca e 3 milhões da CoronaVac, porque somos muitos, somos 215 milhões e todas essas pessoas têm direito a receber a vacina e precisam receber a vacina para não morrerem, para voltarem a trabalhar e a terem uma vida normal", declarou Barros.
Qual é a expectativa para a proteção da população brasileira
Barros diz ter como expectativa que o governo, através de novas lideranças políticas que estão surgindo, seja capaz de aumentar a entrega de novas vacinas para a população, "que até esse momento tem sido ínfima".
"Se olharmos quantas pessoas são vacinadas por dia no Brasil é uma quantidade mínima porque não há vacina. Se houvesse vacina para todo mundo, com o nosso sistema de saúde que é maravilhoso, o SUS é maravilhoso, nós podíamos fazer mais de um milhão de vacinações por dia, tranquilamente", avaliou o médico.
Ele finalizou dizendo que EUA e Inglaterra — que não têm um sistema tão bom como no Brasil — estão fazendo mais de 1 milhão de vacinações por dia. "Nós não fazemos porque não temos a vacina. Se elas surgirem, imunizar a população é o de menos, o que falta é o imunizante".