A montadora Volkswagen anunciou, nesta sexta-feira (19), que decidiu suspender a produção de veículos no Brasil, sob a justificativa da piora da pandemia da COVID-19 no país. Segundo um comunicado da própria empresa, só serão mantidas as atividades essenciais.
"Com o agravamento do número de casos da pandemia e o aumento da taxa de ocupação dos leitos de UTI nos estados brasileiros, a empresa adota esta medida a fim de preservar a saúde de seus empregados e familiares", escreveu a empresa, em nota.
Para o engenheiro Antônio Jorge Martins, coordenador do Curso de MBA em Gestão Estratégica de Empresas da Cadeia Automotiva da Fundação Getúlio Vargas (FGV), é positivo o posicionamento da montadora alemã.
"Nós, como brasileiros, estamos sentindo que houve um aumento significativo da pandemia no nosso país. Os casos se acumularam de forma significativa. [...] Estamos com problema de incremento da pandemia, e não resta dúvida que nada melhor do que minimizar os problemas que possam acontecer dentro de uma fábrica", afirmou.
Nenhum país se desenvolveu, segundo o professor Marco Rocha (Unicamp), sem uma "complexificação tecnológica da sua estrutura produtiva" e sem uma atuação ativa do Estado — vista por ele como necessária para reverter a desindustrialização no Brasil https://t.co/TOBtTZdpjW
— Sputnik Brasil (@sputnik_brasil) February 9, 2021
Segundo o especialista, as montadoras também estão enfrentando "graves problemas" para conseguir fornecedores de componentes.
"É muito difícil para os fornecedores de componentes do setor automotivo reverter um quadro após uma parada total de fabricação que se deu de março a junho do ano passado. Eles praticamente cancelaram toda a programação de produção e estavam no aguardo de que as coisas fossem acontecendo aos poucos", explicou.
No final de fevereiro, a produção de carros da linha Onix (hatch e sedã) da Chevrolet foi suspensa por três semanas por falta de insumos e componentes essenciais.
"O mercado já está sendo afetado pelas paralisações de algumas montadoras. A General Motors está deixando de entregar o Onix, que é o principal produto dela. A Honda também estava com problemas de suprimentos. Várias delas estão com problemas e isso acaba afetando o mercado como um todo, que está andando de lado e até desaquecendo", analisou o engenheiro.
"O setor cresceu em uma velocidade muito maior do que as empresas esperavam. Ajustar a cadeia de fornecedores é muito difícil porque eles também tentam se articular por outros nichos de atuação ou até preferem ficar parados do que arcar com os custos de não estarem produzindo nada", comentou.
O agravamento recente da pandemia também fez com que os consumidores ficassem mais cautelosos na hora de investir em um carro.
"Estamos tendo quedas de produção e, consequentemente, quedas de demanda do setor [em razão] de o pessoal estar se segurando frente aos riscos que estão acontecendo hoje nos termos de pandemia", completou Antônio Jorge Martins.