Significando "milagre" em africanês, a caverna Wonderwerk, localizada no deserto de Kalahari, na África do Sul, é um local raro no mundo de preservação de registro arqueológico contínuo de milhões de anos. Uma equipe de geólogos e arqueólogos da Universidade Hebraica de Jerusalém e da Universidade de Toronto confirmou a data recorde deste local espetacular. A nova pesquisa foi publicada na Quaternary Science Reviews.
"Agora podemos dizer com certeza que nossos ancestrais humanos estavam fazendo ferramentas de pedra simples olduvaiense dentro da caverna Wonderwerk há 1,8 milhão de anos", celebra o autor principal da pesquisa, professor Ron Shaar, do Instituto de Ciências da Terra da Universidade Hebraica de Jerusalém.
A equipe foi capaz de estabelecer com sucesso a mudança das ferramentas olduvaienses, principalmente lascas afiadas e ferramentas de corte para os primeiros machados de mão há mais de um milhão de anos, e datar o uso deliberado do fogo por nossos ancestrais pré-históricos para um milhão de anos atrás, em uma camada nas profundezas da caverna.
A group of scholars from the #HebrewUniversity of Jerusalem and the #UniversityofToronto has unearthed traces of human activity dating back millions of years in the Wonderwerk Cave in South Africa’s #Kalahari Desert. https://t.co/MgcK2Bvl4f
— The Jerusalem Post (@Jerusalem_Post) April 26, 2021
Um grupo de acadêmicos da Universidade Hebraica de Jerusalém e da Universidade de Toronto desenterrou vestígios de atividades humanas que datam de milhões de anos na Caverna Wonderwerk no deserto Kalahari da África do Sul.
O último é particularmente significativo porque outros exemplos de uso de fogo precoce vêm de locais ao ar livre, onde o possível papel dos incêndios florestais não pode ser excluído. Além disso, Wonderwerk continha uma gama completa de vestígios de fogo: ossos queimados, sedimentos e ferramentas, bem como a presença de cinzas.
A datação de depósitos em cavernas é um dos maiores desafios da paleoantropologia, também conhecida como o estudo da evolução humana. Para superar esse desafio, a equipe analisou uma camada sedimentar de 2,5 metros de espessura que continha ferramentas de pedra, restos de animais e restos de fogo usando dois métodos: paleomagnetismo e datação de sepultamento.
"Removemos cuidadosamente centenas de pequenas amostras de sedimentos das paredes da caverna e medimos seu sinal magnético", descreveu Shaar.
A magnetização ocorreu quando partículas de argila, que entraram na caverna de fora, se assentaram no chão da caverna pré-histórica, preservando, assim, a direção do campo magnético terrestre naquele momento.
"Nossa análise de laboratório mostrou que algumas das amostras foram magnetizadas para o sul em vez de para o norte, que é a direção do campo magnético de hoje. Como o tempo exato dessas 'reversões' magnéticas é globalmente reconhecido, isso nos deu pistas da antiguidade de toda a sequência de camadas da caverna", acrescentou Shaar.
O professor Ari Matmon, diretor do Instituto de Ciências da Terra da Universidade Hebraica de Jerusalém, confiou em um método de datação secundário para confirmar quando os primeiros ancestrais humanos podem ter ocupado o local.
"As partículas de quartzo na areia têm um relógio geológico embutido que começa a funcionar quando entram em uma caverna. Em nosso laboratório, podemos medir as concentrações de isótopos específicos nessas partículas e deduzir quanto tempo se passou desde aqueles grãos de areia entrarem na caverna", explicou.
A datação da atividade humana pré-histórica na caverna Wonderwerk tem implicações de longo alcance. Especialistas enfatizam que as descobertas "são um passo importante para compreender o ritmo da evolução humana através do continente africano" e que com uma escala de tempo firmemente estabelecida em Wonderwerk será possível continuar estudando a conexão entre a evolução humana e as mudanças climáticas, e o modo de vida de nossos ancestrais humanos.