O governo identificou que apenas EUA e Reino Unido devem contar com excedentes de vacinas hoje no mundo, tendo condições de enviar estoques ao exterior em um curto período de tempo.
O presidente dos EUA, Joe Biden, chegou a declarar anteriormente que o país enviará "até 4 de julho, cerca de 10% do que temos [de excedente] para outras nações".
Ao comentar as perspectivas da cooperação internacional do Brasil para a aquisição de vacinas, o médico sanitarista e professor da Faculdade de Medicina da USP, Gonzalo Vecina Neto, afirmou que os países ricos "com certeza devem ter sobra de vacinas", e disse não acreditar que estes países guardem a sobra dos imunizantes.
"Mesmo que haja resistência à vacina com variantes novas [do novo coronavírus], terá que existir então uma vacina nova. Então o mais adequado é doar mesmo as vacinas excedentes", observou.
No entanto, Gonzalo Vecina Neto, que já também já atuou como diretor da Anvisa, afirmou que a expectativa é que os países ricos façam doação de vacinas a países pobres, que não têm acesso a imunizantes. De acordo com ele, o Brasil também não tem acesso a vacinas, mas neste caso é por "má gestão".
"A situação brasileira na área de vacinas é fruto da inação governamental na compra de vacinas no momento em que as compras deveriam ter sido realizadas em meados do ano passado. O governo brasileiro só se movimentou para comprar vacinas em março de 2021", observou.
O ex-diretor da Anvisa declarou que é evidente que o Brasil vive uma falta e uma escassez de vacinas, contando apenas com as vacinas do Butantan (CoronaVac), que vez uma compra de 100 milhões de doses e entrega parcelado mês a mês, em torno de 15 milhões de doses por mês, e 210 milhões de doses da Fiocruz (Oxford/AstraZeneca) que também estão divididas em lotes de 15 a 25 milhões de doses por mês até fevereiro do ano que vem.
Segundo o especialista, as doses do Butantan vão terminar por volta de agosto ou setembro, quando o "Butantan ficará sem entregar vacina até o início das atividades de sua fábrica que está em término de construção".
"Temos a possibilidade de receber as 40 milhões de doses da COVAX Facility da OMS, mas será no segundo semestre, e as 100 milhões de doses compradas da Pfizer, que está entregando esse semestre um milhão de doses, mas o restante virá por volta do quarto trimestre", acrescentou.
"Vamos ver como vai ser o futuro e torcer para que não apareçam variantes que sejam resistentes a essa coleção de vacinas e que o governo pare de fazer incompetência, de tal forma que não piore a situação. Tem jeito de piorar e esse governo tem a sabedoria de encontrar esse jeito de piorar. Espero que na saúde isso não aconteça", completou Gonzalo Vecina.