Nesta semana, o presidente do Brasil fez um pronunciamento que quase passou despercebido da grande mídia em razão da quantidade de problemas que o país enfrenta. Jair Bolsonaro falou há três dias que o país está diante da maior crise hidrológica de sua história.
O clima seco no Brasil forçou a China a comprar grãos, principalmente milho, dos Estados Unidos, o que impulsionou os preços globais. Atrasos no plantio prejudicaram a safra nacional, e como resultado, a China foi às compras nos EUA.
Para entender os efeitos desta situação, a Sputnik Brasil conversou com José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB). O especialista falou sobre o recente seca no país, e comentou a explosão nos preços das commodities.
O que representa a preferência da China pelos EUA?
José Augusto de Castro explicou que "os EUA sempre foram os principais exportadores do mundo", e o Brasil, até pouco tempo, "atendia apenas sua demanda doméstica, o seu mercado interno". Com o passar do tempo, disse o especialista, o Brasil passou a exportar mais milho, até ser um exportador mundial deste produto.
Em seguida, José Augusto avaliou que, "na verdade, essa preferencia chinesa pelos EUA é uma volta ao passado". Ele comentava a notícia de que os exportadores dos EUA venderam 680 mil toneladas de milho à China para entrega no ano comercial que começa em 1º de setembro, segundo informações do Departamento de Agricultura dos EUA na terça-feira (11).
"Ocorre que, neste ano especificamente, nós tivemos uma frustração de safra nos EUA e uma seca que atingiu a produção brasileira. Com isso, o Brasil deixou de ter produtos disponíveis para exportar para a China. Há dez anos, o Brasil não exportava milho. Então, o que nós estamos vendo hoje é uma volta da China aos EUA", disse o especialista, enfatizando que isto deveria ser visto como algo normal.
Ele ainda enfatizou que, por um lado, isso é bom para os exportadores brasileiros, "pois a demanda da China pressiona os preços para cima. Então os exportadores terão um ganho extra". As compras da China pressionam a oferta global e já fizeram crescer os preços para o nível mais alto em oito anos.
Em uma publicação em suas redes sociais, o economista Gilberto Borça, do Instituto de Economia da UFRJ, apresentou o ciclo das commodities no Brasil nas últimas duas décadas.
1/3 O atual ciclo de alta das commodites é bastante significativo. Houve alta de 55% frente ao vale ocorrido em 24.04.2020. Se o CRB Spot Index tiver alta adicional de cerca de 7,5% atingirá valores próximos ao do pico de abril de 2011 pic.twitter.com/6wN9xBZ9D2
— Gilberto Borça Jr. (@gilbertoborca) May 14, 2021
'Não foi uma decisão política'
José Augusto de Castro entende que "quase todas as negociações com a China, o maior importador do mundo, são analisadas sob o aspecto comercial, mas muitas vezes também sob o aspecto político".
Desta vez, contudo, o especialista não acredita que haja um componente político por trás da decisão chinesa: "Não acho que desta vez tenha alguma relação com a política. O mundo, quando quiser comprar milho, terá três vendedores: EUA, Brasil e Argentina. Portanto, não há qualquer aspecto político nesta decisão da China".
A China busca comprar milho no Ocidente porque seus plantéis de suínos se recuperam mais rápido do que o esperado da peste suína africana. Fazendas profissionais estão substituindo as operações de menor porte, o que leva a uma maior demanda por grãos para ração.
José Augusto de Castro ainda disse que "as commodities, de uma forma geral, são o principal destino das exportações brasileiras. Neste ano, inclusive, as dez principais commodities do Brasil representam 60% das nossas exportações".
Neste sentido, ele ainda disse que "a China é o nosso maior importador, e representa 34% das nossas exportações". Por fim, ele destacou a soja, o minério de ferro, o petróleo, a carne bovina, a celulose e o açúcar como itens que invariavelmente estão na balança comercial entre os países. "Basicamente, a China está sempre pronta para comprar matéria-prima", afirmou.