Em depoimento nesta quinta-feira (27) à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Senado Federal, que apura ações e omissões do governo federal no trato da pandemia do novo coronavírus no Brasil, o diretor do Instituto Butantan, Dimas Covas, afirmou que o governo federal recusou três ofertas de venda das vacinas chinesas CoronaVac, ofertadas pelo laboratório Sinovac, até fechar o contrato de compra este ano, em janeiro de 2021.
Brasil poderia ter sido primeiro do mundo a vacinar, afirma Dimas Covas à #CPIdaPandemia https://t.co/hSUzTYkY6k pic.twitter.com/gHgNLcMos8
— Senado Federal (@SenadoFederal) May 27, 2021
Diante da recusa do governo federal, o governo do estado de São Paulo entrou em contato com o laboratório Sinovac e acertou a compra das vacinas CoronaVac, bem como dos ingredientes ou insumos farmacêuticos ativos (IFAs), altamente necessários na fabricação dos imunizantes.
Na madrugada da quinta-feira (27), o Instituto Butantan anunciou a retomada da produção das vacinas CoronaVac no Brasil com o recebimento dos novos lotes de IFAs, contendo três mil litros. A produção estava paralisada desde 14 de maio pela falta desses insumos.
Em entrevista à Sputnik Brasil, o médico epidemiologista Guilherme Werneck, professor do Instituto de Medicina Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) afirma que é difícil fazer uma estimativa precisa do número de óbitos que poderiam ter sido evitados se as propostas oferecidas pelo Instituto Butantan em meados de 2020 tivessem sido incorporadas pelo governo federal.
"É sempre bom lembrar que a disponibilidade de doses de vacinas não necessariamente implica que elas estejam aptas a serem administradas na população, porque isso depende de uma aprovação pela agência reguladora", afirma Werneck.
No entanto, segundo o médico epidemiologista, se o governo tivesse aceitado a oferta inicial do Butantan, o Brasil poderia ter contado "com uma quantidade muito maior de doses de CoronaVac nesse primeiro período do ano de 2021", o que, segundo ele, teria contribuído para reduzir o número de mortes, pois, apenas entre janeiro e maio de 2021, foram registrados cerca de 200 mil óbitos por COVID-19 em território brasileiro.
"Se nós pensássemos que [haveria] a disponibilidade da CoronaVac em maior quantidade já em janeiro e fevereiro, nós poderíamos ter alcançado uma cobertura vacinal com duas doses muito mais rapidamente, e isso levaria a uma proteção substancial da população, [...], o que evitaria os atrasos que nós observamos na oferta da segunda dose e teria permitido que nós vacinássemos substancialmente com duas doses" a população mais vulnerável, opina Werneck.
"Pelo menos um terço desses óbitos que aconteceram ao longo desses três meses poderia ter sido evitado com uma campanha de vacinação sólida, que tivesse alcançado coberturas vacinais com duas doses nas populações prioritárias do Plano Nacional de Imunização, ou seja, de 200 mil pessoas, as mortes de cerca de 70 mil eventualmente poderiam ter sido evitadas", aponta o professor da UERJ.
Na opinião de Guilherme Werneck, o que foi relatado por Dimas Covas na CPI da Covid é "muito grave", pois coloca um peso muito grande de responsabilidade no Ministério da Saúde, e no governo federal, sobre a forma como foram conduzidas as tratativas para a aquisição e distribuição da CoronaVac no país.
"Nesse contexto pandêmico e, particularmente, no contexto gravíssimo da pandemia no país em 2021, qualquer antecipação do início da vacinação e uma oferta maior de doses poderiam sim ter poupado milhares de vidas de brasileiros", conclui.