Flávio Bolsonaro diz que CPI escolheu depoentes para 'atacarem presidente da República'
© Foto / Agência Senado / Edilson RodriguesA gaúcha Rosane Brandão, que perdeu o marido para o coronavírus, entrega à CPI faixa pedindo justiça às famílias vitimadas pela pandemia, Brasília, 18 de outubro de 2021
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Na reta final dos trabalhos da CPI da Covid, parentes de vítimas da COVID-19 compareceram para dar depoimentos causando comoção na comissão. Segundo senador, tudo foi esquematizado para "atacar o presidente".
A sessão da CPI da Covid hoje (18) no Senado contou com muita emoção, luto e desabafo. Pessoas de diferentes regiões do Brasil, que tinham em comum o fato de terem perdido algum parente para COVID-19, deram depoimentos emocionados à CPI.
Entre eles, uma enfermeira que viveu "uma guerra" em Manaus, um pai que perdeu o filho e ouviu "e daí?" de bolsonaristas e uma filha que viu a mãe morrer recebendo tratamento com kit covid na Prevent Senior, segundo a Folha de São Paulo.
Um dos depoimentos mais dramáticos da sessão foi o do taxista Márcio Antonio do Nascimento Silva, que perdeu filho e irmã para doença. Em junho do ano passado, Silva recolocou na areia da praia de Copacabana, no Rio de Janeiro, cruzes brancas de protesto pelas mortes na pandemia, que haviam sido derrubadas em ato de vandalismo.
"Quando cheguei [à praia], tive ato de desespero. Perdi a razão, não aceitei aquilo. Era muita dor, muita tristeza. Falei para o cara: Meu filho morreu, você vai ficar gritando 'e daí?"', contou o taxista.
De acordo com a mídia, os parentes das vítimas cobraram um relatório firme da CPI, o qual exponha falhas do governo na crise sanitária e se oponha a promoção de políticas que ferem a ciência, como a distribuição de medicamentos sem eficácia.
© Foto / Agência Senado / Edilson RodriguesDepoentes durante a sessão da CPI da Covid no Senado. Em destaque à direita, o depoente Márcio Antônio do Nascimento da Silva, Brasília, 18 de outubro de 2021
Depoentes durante a sessão da CPI da Covid no Senado. Em destaque à direita, o depoente Márcio Antônio do Nascimento da Silva, Brasília, 18 de outubro de 2021
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Entretanto, na interpretação do senador Flávio Bolsonaro (Patriotas), os depoentes foram à CPI para atacarem o presidente da República, e seu pai, Jair Bolsonaro.
"São pessoas com histórico de militância contra Bolsonaro e que têm o compromisso de responsabilizar o presidente pelas mortes. É um desrespeito às vítimas. O que estamos testemunhando é algo macabro, triste e lamentável", afirmou o senador de acordo com o portal UOL.
Flávio ainda afirmou que "ninguém pode responsabilizar o presidente pelas mortes de COVID-19" e deu "graças a Deus" que a comissão está em período de finalização.
"Como alguém pode querer responsabilizar Bolsonaro por morte pela COVID-19? Não façam isso. A CPI está entrando para a história como algo que mancha a história do Senado. Grande parte da população olha para cá com nojo. Se Deus quiser essa comissão vai encerrar logo, está fazendo muito mal ao Brasil", declarou.
© Foto / Agência Senado / Edilson RodriguesSenador Omar Aziz, presidente da CPI (no meio), Renan Calheiros, relator da CPI (à direita) e vice-presidente da CPI, Randolfe Rodrigues conversam na CPI da Covid no Senado, Brasília, 18 de outubro de 2021
Senador Omar Aziz, presidente da CPI (no meio), Renan Calheiros, relator da CPI (à direita) e vice-presidente da CPI, Randolfe Rodrigues conversam na CPI da Covid no Senado, Brasília, 18 de outubro de 2021
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Mal-estar na CPI
Também nesta segunda-feira (18), o presidente da CPI, senador Omar Aziz (PSD-AM), expôs o mal-estar dentro do grupo majoritário da comissão por conta de divergências a respeito do relatório final e o vazamento de trechos do documento para a imprensa.
De acordo com a Folha de São Paulo, Aziz atacou atitudes recentes do relator, Renan Calheiros (MDB-AL), que teria ignorado um acordo fechado dentro do chamado G7, como é conhecido o grupo majoritário da CPI.
"É do conhecimento do relator e de várias pessoas que participam, principalmente do G7, que tinha divergências e que [Calheiros] seria convencido em relação à [acusação de] genocídio [contra o presidente Jair Bolsonaro]. [...] Ele [Calheiros] não vazou esse relatório sem saber que a gente queria discutir essa questão. Então, se você me perguntar se está tudo bem, não, não está tudo bem", afirmou o senador citado pela mídia.
Já Calheiros negou que tamanho mal-estar esteja acontecendo e afirmou não ter recebido reclamações dos colegas.
"Mal-estar não existe. [...] O relatório vazou e lamento que tenha vazado, mas eu achei até bom o resultado, porque antecipa publicamente um debate que era inevitável, insubstituível", afirmou o relator.