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O ano da vacinação: as lições de 2021 em relação à pandemia no Brasil

© Folhapress / Aloisio Mauricio / FotoarenaMônica Calazans, enfermeira de 54 anos do Instituto Emílio Ribas, em São Paulo, é a primeira vacinada contra a COVID-19 no Brasil
Mônica Calazans, enfermeira de 54 anos do Instituto Emílio Ribas, em São Paulo, é a primeira vacinada contra a COVID-19 no Brasil - Sputnik Brasil, 1920, 24.12.2021
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Após mais um ano de pandemia, a vacinação se consolidou como uma forma eficaz de controle da COVID-19. A Sputnik Brasil conversou com o epidemiologista Ivo Castelo Branco, que apontou como as vacinas mudaram o rumo da pandemia no país.
No dia 17 de janeiro de 2021, um momento aguardado com apreensão pelos brasileiros finalmente chegou e a primeira pessoa foi vacinada no país. Desde a vacinação da enfermeira Mônica Calazans, em São Paulo, até agora, o país se engajou na campanha de imunização e quase 161 milhões de pessoas foram vacinadas no Brasil.
Se até o final de 2020 pairava um clima de desânimo no país, gradualmente a vacina se tornou um símbolo de esperança. Apesar do atraso no início da imunização, o Brasil se tornou exemplo de vacinação no mundo e na região, com ampla aceitação em relação aos fármacos entre os brasileiros.
Ao contrário do que se observa em diversos países, no Brasil não há um grande movimento antivacina e cerca de 78% da população já recebeu uma dose do imunizante, sendo que 67% está totalmente imunizada, conforme dados do site Our World in Data.
© REUTERS / Carla CarnielFamília de Zé Gotinha, mascote da campanha de vacinação, com lotes de vacina Janssen doadas pelos EUA ao Brasil, no Aeroporto Nacional de Viracopos, Campinas, 25 de junho de 2021
Família de Zé Gotinha, mascote da campanha de vacinação, com lotes de vacina Janssen doadas pelos EUA ao Brasil, no Aeroporto Nacional de Viracopos, Campinas, 25 de junho de 2021 - Sputnik Brasil, 1920, 24.12.2021
Família de Zé Gotinha, mascote da campanha de vacinação, com lotes de vacina Janssen doadas pelos EUA ao Brasil, no Aeroporto Nacional de Viracopos, Campinas, 25 de junho de 2021
Apesar da melhoria, o ano também ficou marcado pela pior onda de COVID-19 no Brasil até agora. Com o crescimento exponencial dos óbitos, o Brasil se consolidou como o segundo país com mais mortes causadas pela doença e termina 2021 com quase 620 mil óbitos acumulados.
Em janeiro, em um dos piores momentos do ano, cenas de desespero foram registradas em Manaus com a falta de oxigênio em hospitais, gerando comoção nacional. Nos meses seguintes, com a vacinação ainda a passos lentos, as mortes dispararam no país. Somente neste ano, foram mais de 420 mil vidas perdidas, mais que o dobro do que foi observado no ano anterior.
© Folhapress / Junio Matos/A CríticaEnfermeiros carregam cilindros de oxigênio em hospital de Manaus (AM). Familiares de internados precisam comprar oxigênio para manter os seus parentes vivos.
Enfermeiros carregam cilindros de oxigênio em hospital de Manaus (AM). Familiares de internados precisam comprar oxigênio para manter os seus parentes vivos.  - Sputnik Brasil, 1920, 24.12.2021
Enfermeiros carregam cilindros de oxigênio em hospital de Manaus (AM). Familiares de internados precisam comprar oxigênio para manter os seus parentes vivos.
Com a vacinação ganhando fôlego a partir da metade do ano, porém, as taxas de mortes e de casos despencaram no Brasil. Se em meados de abril a média diária de mortes no país passava de 3.000 óbitos, ao final de dezembro essa média gira em torno de 100. No primeiro semestre, o Brasil teve 323 mil mortes, contra 100 mil no segundo, com o ritmo que desacelera a cada mês.
Mesmo com a queda acentuada nas taxas de mortes e de casos no país, o surgimento de novas variantes e a contínua crise política, mantêm no Brasil um clima de incerteza quanto ao futuro. A chegada da variante Ômicron já causa impactos no país, que teme a chegada de uma nova onda.

Interferência política e ideológica atrapalhou controle da pandemia

O epidemiologista Ivo Castelo Branco, pesquisador da Universidade Federal do Ceará (UFCE), lembra que apesar do sucesso da vacinação, houve diversos erros no controle da pandemia no Brasil. Entre eles, Castelo Branco aponta que as medidas de combate à pandemia no país não foram uniformes, sendo que diversas regiões sofreram intervenções políticas e ideológicas no controle da crise sanitária.

"O Brasil não foi unificado no controle da pandemia. Em algumas regiões foram cumpridas medidas ditas científicas e orientações científicas, e outras tentaram fazer isso, mas houve uma interferência política, levando em conta simplesmente o lado ideológico e às vezes até religiosos", avalia o epidemiologista em entrevista à Sputnik Brasil.

Ao longo de 2021, a pandemia continuou dando o tom da política brasileira, que começa a se organizar para as eleições presidenciais de 2022. O destaque foi a CPI da Covid, que pediu o indiciamento do presidente brasileiro, Jair Bolsonaro (PL), por crimes associados ao desastre sanitário no país.
© Folhapress / Raul SpinasséO presidente Jair Bolsonaro em Brasília, 22 de março de 2021
O presidente Jair Bolsonaro em Brasília, 22 de março de 2021 - Sputnik Brasil, 1920, 24.12.2021
O presidente Jair Bolsonaro em Brasília, 22 de março de 2021
Entre as acusações levantadas pela CPI estão o atraso em relação à compra de vacinas no país e também a defesa de tratamentos sem eficácia contra a COVID-19. O presidente brasileiro deu diversas declarações colocando em dúvida as vacinas contra a doença e ele mesmo declara que não pretende se vacinar, ao contrário da maioria dos chefes de Estado mundo afora - à esquerda e à direita.
Em sua mais recente investida contra as vacinas, o presidente tem se posicionado contra a vacinação infantil, alegando riscos às crianças. A vacina, no entanto, já recebeu aval da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
© Foto / Agência Senado / Edilson RodriguesRelator da CPI da Covid, senador Renan Calheiros (MDB-AL), realiza leitura do relatório final da comissão no Senado, 20 de outubro de 2021
Relator da CPI da Covid, senador Renan Calheiros (MDB-AL), realiza leitura do relatório final da comissão no Senado, 20 de outubro de 2021 - Sputnik Brasil, 1920, 24.12.2021
Relator da CPI da Covid, senador Renan Calheiros (MDB-AL), realiza leitura do relatório final da comissão no Senado, 20 de outubro de 2021
O pesquisador Ivo Castelo Branco aponta que o ano de 2021 deu diversas lições em relação ao controle da pandemia, destacando a grande novidade do ano: a vacinação. Com o avanço da imunização no país, não resta mais dúvidas sobre a importância das vacinas contra a COVID-19.
"No mundo se aprendeu que as vacinas são eficazes – todas elas. Se aprendeu que, apesar da eficácia acima de 80% essa eficácia não é duradoura e que tem que haver reforços", explica o epidemiologista.
A dose de reforço também já está sendo aplicada no Brasil e cerca de 24 milhões de brasileiros já receberam a terceira dose contra a COVID-19. Segundo Castelo Branco, é possível que as vacinas contra a COVID-19 sejam atualizadas periodicamente, assim como no caso da Influenza.
Apesar do sucesso da vacinação, Castelo Branco explica que os acontecimentos de 2021 apontam que a vacinação ainda precisa ser acompanhada de medidas não farmacológicas.

"A gente viu que com a vacinação a gente consegue realmente, com 70% da população [vacinada], diminuir a COVID-19 na região, mas se aprendeu na Europa que essa imunidade que a gente conseguiu [...], não podemos relaxar as medidas não farmacológicas – o uso de máscaras, evitar aglomerações, usar sabão ou álcool 70º. Com isso se viu que, havendo esse conjunto – vacina e essas medidas – a gente tem tido uma mudança do comportamento da COVID-19 em todos os lugares do mundo", afirmou.

Para o epidemiologista, o balanço geral pode ser considerado positivo, sendo que o quadro epidemiológico é muito menos assustador do que o do final do ano passado. Como exemplo, o pesquisador recorda que há um ano, a recomendação geral era de que as pessoas evitassem encontros no período de festas e muitas famílias passaram o Natal separadas.

"Se a gente for para o lado social, de mudanças de comportamento, essa coisa toda, do ano passado para cá houve uma mudança muito grande. Se a gente recordar aqui do Natal passado, havia uma recomendação de não passar de 15 pessoas em uma festa dentro de casa. Hoje, a gente já tem uma recomendação que se estiver vacinado e for um grupo familiar que se relaciona, o uso da máscara já é uma coisa que propicia [o encontro]", afirma o pesquisador.

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