Sob discurso de 'ordem e punitivismo', militares no Brasil serão força nas eleições, diz analista
21:37 19.04.2022 (atualizado: 14:17 20.04.2022)
© Fátima Meira / Futura PressO presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, participa da cerimônia do Dia do Exército no Quartel-General do Exército, em Brasília, 19 de abril de 2022.
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Com forte presença no governo federal, os militares devem continuar no centro do debate político em meio às eleições presidenciais de 2022. A Sputnik Brasil ouviu uma cientista política para debater o assunto, e a especialista ressaltou que mesmo com escândalos os militares continuam tendo apelo no eleitorado brasileiro.
Nesta terça-feira (19), o presidente brasileiro, Jair Bolsonaro (PL), ganhou as manchetes devido ao seu discurso de comemoração do Dia do Exército, no qual enalteceu o papel dos militares na história brasileira. Da mesma forma, o vice-presidente, Hamilton Mourão (Republicanos), voltou a chamar o golpe de 1964, que instaurou a Ditadura Militar, de "revolução democrática".
Essas são amostras recentes da notória relação de proximidade do Planalto com os militares, que ocupam milhares de cargos no governo federal. Com a chegada das eleições presidenciais, o papel dos militares no governo deve continuar em evidência.
Recentemente, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), líder das pesquisas de intenção de voto para o pleito deste ano, afirmou que cogita retirar oito mil militares de cargos comissionados do governo federal caso vença as eleições.
© REUTERS / Edgard GarridoO ex-presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva durante evento com parlamentares do partido Movimento Regeneração Nacional (Morena) na Cidade do México, México, 2 de março de 2022.
O ex-presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva durante evento com parlamentares do partido Movimento Regeneração Nacional (Morena) na Cidade do México, México, 2 de março de 2022.
© REUTERS / Edgard Garrido
O crescimento da presença dos militares na política brasileira chama atenção. A cientista política Mayra Goulart, professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), aponta que nas eleições de 2020 houve um aumento expressivo do número de militares da ativa e da reserva como candidatos, em comparação com o processo eleitoral de 2016. Para ela, isso está relacionado com a intensificação de um discurso de ordem e punitivismo que continua forte entre os eleitores brasileiros.
"Essa mesma conformação permanece intacta. A gente teve no governo [do presidente Jair] Bolsonaro alguns desgastes, mas acredito que esse tenha sido o flanco menos desgastado", avalia a cientista política em entrevista à Sputnik Brasil.
Para a pesquisadora da UFRJ, alguns escândalos envolvendo militares, como o recente caso de compra de Viagra e, anteriormente, o da hidroxicloroquina, não reduziram a credibilidade desse setor entre a parcela mais conservadora da população. "Eles [os militares] continuam sendo vistos como bastiões da ordem", afirma.
Goulart salienta que o governo Bolsonaro mantém nos militares um braço importante de sustentação política intrinsicamente relacionado à sua imagem. A pesquisadora recorda que na trajetória legislativa Bolsonaro atuou "quase como um sindicalista dos militares".
Autora de tese de doutorado sobre a democracia na Venezuela, Goulart traça um paralelo entre esse país e o Brasil no campo da atuação de militares na política. Segundo ela, um dos fatores que garantem a postura pró-governo dos militares venezuelanos são os benefícios obtidos nessa atuação. Para ela, isso também está presente no Brasil.
"No caso do bolsonarismo, além dessa questão pecuniária — eles lucram muito, seja porque estão aparelhando o governo ou porque conseguem angariar cargos e mais verbas para o Ministério da Defesa —, há uma confluência ideológica nesse discurso conservador do Bolsonaro", conclui.