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Prolongamento do La Niña acende alerta para agricultura e geração de energia?

© Folhapress / Pei Fon/Zimel PressAlagoas tem sofrido com fortes chuvas; o volume da água tem transbordado rios e lagoas. Em Maceió, bairros próximos à lagoa Mundau amanheceram alagados. Mais da metade dos municípios alagoanos declararam estado de emergência
Alagoas tem sofrido com fortes chuvas; o volume da água tem transbordado rios e lagoas. Em Maceió, bairros próximos à lagoa Mundau amanheceram alagados. Mais da metade dos municípios alagoanos declararam estado de emergência - Sputnik Brasil, 1920, 26.07.2022
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O fenômeno climático La Niña iniciado em 2020 vai persistir pelo menos até agosto, podendo durar até o início de 2023. Um prolongamento dessa magnitude só aconteceu em outras duas oportunidades. Especialistas ouvidos pela Sputnik Brasil analisam os impactos do fenômeno no Brasil.
Em junho, a Organização Meteorológica Mundial (OMM) fez um alerta indicando que o evento climático La Niña vai se prolongar pelo menos até o fim de agosto e pode persistir até o início de 2023. Essa seria a terceira vez que o fenômeno ocorre em um período tão prolongado desde o início das medições, em 1950.

"Algumas previsões sugerem que os efeitos podem persistir até 2023, o que seria o terceiro La Niña consecutivo no Hemisfério Norte desde 1950. O fenômeno afeta os padrões de temperatura e precipitação e aumenta secas e inundações em diferentes partes do mundo", diz a OMM.

A OMM aponta que "o evento climático é responsável pelo resfriamento em grande escala das temperaturas da superfície oceânica no oceano Pacífico Equatorial central e oriental, com mudanças na circulação atmosférica tropical, ou seja, ventos, pressão e precipitação".
O secretário-geral da OMM, Petteri Taalas, aponta que "os efeitos da ação humana no clima amplificam os impactos de eventos naturais como o La Niña e estão influenciando, cada vez mais, os padrões climáticos, em particular por meio de calor e seca mais intensos e do risco associado de incêndios florestais, recordes de chuvas e inundações".
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Em entrevista à Sputnik Brasil, Mozar de Araújo Salvador, meteorologista do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), acredita que "é relativamente seguro afirmar que o atual La Niña deve continuar durante o inverno e o início da primavera".

"É possível, porém alguns fatores devem ser levados em consideração. Eventos de La Niña com mais de 24 meses não são frequentes — os últimos foram em 1973/1975 (32 meses de duração) e 1998/2000 (30 meses). Entre 1970 e os dias atuais são 13 eventos de La Niña. O segundo fator é relativo aos modelos de previsão de El Niño e La Niña. Esses modelos, assim como qualquer outro modelo de previsão, mesmo sendo cada vez mais eficientes e confiáveis, à medida que suas previsões são de mais longo prazo, o nível de acerto diminui", destacou.

O meteorologista explicou que essa extensão do período do La Niña se deve a "ventos acima da média no sentido de leste para oeste [que] têm predominado próximo à superfície sobre o oceano Pacífico Equatorial".
"Essa condição atmosférica causa o deslocamento das águas mais quentes da superfície mais para oeste, permitindo que as águas mais nas camadas inferiores do oceano atinjam a superfície próxima ao continente sul-americano, em um processo chamado ressurgência", disse.

"Os efeitos potenciais clássicos de um La Niña são as chuvas acima da média no Norte e Nordeste e o risco de chuvas mais irregulares no sul do Brasil. Contudo seus efeitos dependem não apenas da sua persistência, mas também de sua intensidade, além de outros elementos oceânicos atmosféricos que interferem no clima", explicou.

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O engenheiro Francisco de Assis Souza Filho, professor do Departamento de Engenharia Hidráulica e Ambiental da Universidade Federal do Ceará (UFC), enfatizou em entrevista à Sputnik Brasil a importância de se avaliar o grau de intensidade do La Niña para dimensionar o real impacto do fenômeno no Brasil até o fim do ano — o que agora não seria possível.
O especialista destaca que o La Niña e o El Niño não são eventos simétricos. Enquanto o El Niño promove o bloqueio de massas de ar e inevitavelmente provoca muita chuva no Sul e deixa o Nordeste mais seco, os efeitos do La Niña vão depender da intensidade do fenômeno.

"O impacto do La Niña não é tão significativo. No La Niña há uma probabilidade maior de chuva nas partes norte e nordeste do país e de um Sudeste mais frio, mas não vai ter seca no Sul."

O professor da UFC aponta que para dimensionar o real impacto do La Niña é importante avaliar outros fatores meteorológicos. "Modelos de previsão climática sazonal utilizam outros indicadores, como as variáveis do oceano Atlântico, as condições atmosféricas... Geralmente o El Niño define o resto, mas o La Niña não", disse.
Sobre essa persistência do fenômeno, Assis Souza o relaciona com a oscilação decadal do Pacífico (PDO, na sigla em inglês). "Esse é um fenômeno de longo prazo que impacta os fatores climáticos. O efeito da mudança climática, inclusive, às vezes fica mais acentuado ou menos intenso dependendo da fase da PDO", destacou.
Apesar das ponderações do professor da UFC sobre a dificuldade de dimensionar os impactos do fenômeno, o meteorologista do Inmet acredita que "um episódio mais prolongado do La Niña invariavelmente vai impactar de alguma maneira setores econômicos como a agricultura e a geração de energia".
Salvador aponta que é importante monitorar o cenário atual para evitar maiores problemas na economia e no setor energético, seja pelo excesso ou pela falta de chuvas.

"O conhecimento detalhado do presente e a análise dos riscos potenciais futuros são ferramentas importantes para gestores e tomadores de decisão."

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