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Igreja Ortodoxa Russa atrai brasileiros por tradicionalismo e rigor religioso, diz sacerdote

© Foto / Padre Roman Altar da Igreja Ortodoxa Russa no Rio de Janeiro, Brasil
Altar da Igreja Ortodoxa Russa no Rio de Janeiro, Brasil  - Sputnik Brasil, 1920, 04.11.2022
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A Igreja Ortodoxa Russa cresce no Brasil, não só entre os descendentes de russos, mas também entre os brasileiros. A Sputnik Brasil conversou com membros tradicionais dessa fé para descobrir o que os brasileiros buscam na ortodoxia.
A Igreja Ortodoxa Russa, coordenada pelo patriarcado de Moscou, tem 110 anos de presença no Brasil. Atualmente, esta religião está representada em cidades como o Rio de Janeiro, São Paulo, Porto Alegre, Recife, Brasília e Manaus.
Após décadas voltada para a diáspora russa no Brasil, realizando missas na língua original, a Igreja decidiu encarar o fato de que os brasileiros estão procurando cada vez mais o amparo espiritual em suas paróquias. Por isso, a Igreja Ortodoxa Russa passou a realizar missas em português, abraçando o seu crescente número de fiéis e sacerdotes brasileiros.
"Na nossa paróquia aqui do Rio de Janeiro cresce muito o número de fiéis brasileiros", disse o padre Roman, da Igreja Ortodoxa Russa do Rio de Janeiro, à Sputnik Brasil. "Nos serviços da véspera do sábado à noite tinha só brasileiros. Então não fazia sentido fazer [a missa] em russo, até porque pessoas do coro não sabiam ler eslavo antigo."
Padre Roman revela que a comunidade russa no Rio de Janeiro não é tão expressiva, e seus descendentes de terceira geração frequentam a igreja somente em momentos-chave da vida, como no batismo, na morte e no casamento.
© Foto / Padre Roman Sede da Paróquia da Igreja Ortodoxa Russa no Rio de Janeiro, Brasil
Sede da Paróquia da Igreja Ortodoxa Russa no Rio de Janeiro, Brasil  - Sputnik Brasil, 1920, 04.11.2022
Sede da Paróquia da Igreja Ortodoxa Russa no Rio de Janeiro, Brasil
"A paróquia no Rio de Janeiro conta hoje com cerca de 80% de fiéis brasileiros convertidos à ortodoxia", confirma Padre Roman.
Segundo este padre carioca, os brasileiros vão à Igreja Ortodoxa em busca de tradicionalismo e rigor religioso.
"A maioria busca a questão da tradição, é o que fascina as pessoas descontentes com o catolicismo ou protestantismo", revela padre Roman. "São pessoas bastante estudiosas, que estudam muito patrística e a liturgia de São João Crisóstomo do século IV, e descobrem que essa mesma liturgia é celebrada até hoje na Igreja Ortodoxa."
© Foto / Jacinto Zabolotsky Adeptas da ortodoxia em rito da Igreja Ortodoxa Russa de Campina das Missões (foto de arquivo)
Adeptas da ortodoxia em rito da Igreja Ortodoxa Russa de Campina das Missões (foto de arquivo)  - Sputnik Brasil, 1920, 04.11.2022
Adeptas da ortodoxia em rito da Igreja Ortodoxa Russa de Campina das Missões (foto de arquivo)
A admiração pela cultura e política russa também leva brasileiros a procurar a paróquia do padre Roman. Mas ele aponta que é necessária muita dedicação espiritual para permanecer na Igreja Ortodoxa.

"Muitas pessoas vêm por admiração pela cultura russa ou pela dimensão política, por considerarem que a Rússia é o único país conservador do mundo cristão, já que os demais seriam todos muçulmanos", considerou Padre Roman. "Mas para a pessoa ficar, normalmente ela tem que passar da dimensão cultural-política para a dimensão espiritual da Igreja."

Os ritos da Igreja Ortodoxa também são mais solenes do que os das demais igrejas cristãs, o que exige adaptação dos fiéis brasileiros. As missas são mais longas, não há banco para se sentar na igreja, e os cânticos são feitos à capela, sem ajuda de instrumentos musicais.
"O jejum na Igreja Ortodoxa, por exemplo, é estrito e toda quarta e sexta. Não é só na Sexta-Feira Santa brasileira que ao invés de comer carne, as pessoas comem bacalhoada", brincou o padre Roman. "Além disso, a nossa liturgia tem que ser feita necessariamente de manhã, e não no fim da tarde, depois da praia e do futebol."
Padre Roman (nascido Rudá), da Paróquia do Rio de Janeiro da Igreja Ortodoxa Russa
Padre Roman (nascido Rudá), da Paróquia do Rio de Janeiro da Igreja Ortodoxa Russa  - Sputnik Brasil, 1920, 04.11.2022
Padre Roman (nascido Rudá), da Paróquia do Rio de Janeiro da Igreja Ortodoxa Russa
O rigor dos ritos ortodoxos já pegou o próprio carioca Roman de surpresa. O padre conta que, em viagem à Rússia, teve que fazer uma vigília de quatro horas e meia, em pé e sem descanso.
"Em um momento eu já estava cansado, mas percebi que as senhoras fiéis, as babushkas [avós, em russo] se mantinham de pé sem reclamar", relatou o padre Roman. "Nessas horas você vê a garra do povo russo e a sua resiliência."

Berço da cultura russa no Rio Grande do Sul

Resiliência é a palavra de ordem da comunidade russa na cidade de Campina das Missões, a 510 quilômetros da capital do Rio Grande do Sul, Porto Alegre. Formada em 1909, quando os primeiros russos chegaram à região, a comunidade precisou da ortodoxia para manter suas tradições e costumes nestes 113 anos.
"Se não fosse a Igreja Ortodoxa teria sido muito difícil manter a comunidade unida", disse o presidente da Associação Cultural Russa Volga do Brasil, Jacinto Anatolio Zabolotsky, à Sputnik Brasil. "A Igreja foi um pilar para manter a nossa história e cultura."
A cidade de Campina das Missões abriga a primeira igreja ortodoxa russa do Brasil, fundada em 1912, pertencente à paróquia Santo Apóstolo Evangelista João Teólogo. Considerada por lei estadual como "o berço da cultura russa no Rio Grande do Sul", a comunidade local está empenhada atrair o turismo religioso para a cidade.
© Foto / Jacinto ZabolotskyCapela ortodoxa fundada em outubro de 2021, em Campina das Missões, Rio Grande do Sul (foto de arquivo)
Capela ortodoxa fundada em outubro de 2021, em Campina das Missões, Rio Grande do Sul (foto de arquivo)  - Sputnik Brasil, 1920, 04.11.2022
Capela ortodoxa fundada em outubro de 2021, em Campina das Missões, Rio Grande do Sul (foto de arquivo)
"Estamos montando a Rota da Fé, para que as pessoas possam conhecer a nossa tradição, visitar a nossa igreja, nossa capela, e até o cemitério ortodoxo, que é o único da América Latina", disse Zabolotsky.
A comunidade local também prepara a inauguração do 1º Jardim Bíblico da América do Sul, onde estão sendo plantadas 132 árvores citadas nas escrituras, como oliveiras, tamareiras, romãzeiras e macieiras, e cuja inauguração está prevista para outubro de 2023.
Entre os dias 8 e 9 de outubro, a cidade recebeu o cônsul-geral da Rússia no Brasil, Vladimir Tokmanov, e o bispo do Brasil e da América do Sul da Igreja Ortodoxa Russa, Sua Eminência Dom Leonid, acompanhado dos sacerdotes Anatólio Topala e Sérgio Yurin, para comemorar os 110 anos da fundação da 1ª Igreja Ortodoxa no Brasil.
© Foto / Jacinto Zabolotsky Autoridades e sacerdotes reunidos para as celebrações dos 112 anos da fundação da primeira igreja ortodoxa brasileira, em Campina das Missões, Rio Grande do Sul, 9 de outubro de 2022
Autoridades e sacerdotes reunidos para as celebrações dos 112 anos da fundação da primeira igreja ortodoxa brasileira, em Campina das Missões, Rio Grande do Sul, 9 de outubro de 2022  - Sputnik Brasil, 1920, 04.11.2022
Autoridades e sacerdotes reunidos para as celebrações dos 112 anos da fundação da primeira igreja ortodoxa brasileira, em Campina das Missões, Rio Grande do Sul, 9 de outubro de 2022
Para Zabolotsky, a Igreja Ortodoxa tem potencial para crescer entre brasileiros não descendentes de russos, que "veem que a ortodoxia é uma religião correta, que não se envolve em escândalos".
"Acho que a Igreja Ortodoxa Russa tem boas perspectivas no Brasil. As pessoas demonstram cada vez mais interesse em se associar e novas igrejas estão sendo fundadas", acredita Zabolotsky, que foi condecorado pela Igreja por seu empenho na manutenção das atividades ortodoxas.
Jacinto Zabolotsky durante encontro com Patriarca de Moscou e Toda a Rússia Kirill, em sua visita oficial ao Brasil, em 2016 (foto de arquivo)
Jacinto Zabolotsky durante encontro com Patriarca de Moscou e Toda a Rússia Kirill, em sua visita oficial ao Brasil, em 2016 (foto de arquivo)   - Sputnik Brasil, 1920, 04.11.2022
Jacinto Zabolotsky durante encontro com Patriarca de Moscou e Toda a Rússia Kirill, em sua visita oficial ao Brasil, em 2016 (foto de arquivo)
Recentemente, a Igreja Ortodoxa de Jabotão dos Guararapes, na região metropolitana do Recife, se associou ao patriarcado de Moscou, tornando-se a mais nova igreja russa do Brasil. A Igreja Ortodoxa Russa, sob a jurisdição do Patriarca de Moscou e Toda a Rússia, conta com cerca de 135 milhões de adeptos, configurando como a maior igreja ortodoxa da modernidade em número de fiéis.
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