'Copa multipolar': o que levou seleções 'pequenas' a terem um bom desempenho no Mundial do Catar?

© AP Photo / Julio CortezO jogador Jawad El Yamiq, do Marrocos, comemora com companheiros de equipe após a partida das oitavas de final da Copa do Mundo do Catar, em 6 de dezembro de 2022 (foto de arquivo)
O jogador Jawad El Yamiq, do Marrocos, comemora com companheiros de equipe após a partida das oitavas de final da Copa do Mundo do Catar, em 6 de dezembro de 2022 (foto de arquivo) - Sputnik Brasil, 1920, 13.12.2022
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A Copa do Mundo de 2022 ficou marcada pela atuação de seleções antes tidas como "nanicas", que disputaram em condição de igualdade com equipes tradicionais. Em entrevista à Sputnik Brasil, jornalista esportivo explica o que causou o fenômeno.
A Copa do Mundo do Catar elevou a um novo patamar o bordão esportivo que diz que "o futebol é uma caixinha de surpresas". Atrapalhando bolões por todo o planeta, o torneio foi marcado pelo bom desempenho de equipes pequenas.
Já na primeira rodada da fase de grupos, a Arábia Saudita venceu a Argentina, de Lionel Messi, por um placar de 2 x 1. Poucos dias depois, a Tunísia venceu por 1 x 0 a França, a atual campeã do mundo. E em sua última partida na primeira fase, a Seleção Brasileira foi derrotada por Camarões por 1 x 0. Embora o Brasil tenha jogado com o time reserva, o resultado surpreendeu todos, que esperavam uma vitória brasileira com ampla margem de vantagem.
Mas a principal surpresa ficou por conta do Marrocos, que fez história ao se tornar a primeira seleção africana a chegar a uma semifinal de Copa do Mundo, após derrotar por 1 x 0, nas quartas de final, a seleção de Portugal, do craque Cristiano Ronaldo, que está entre os melhores jogadores do mundo. Isso depois de passar pela Espanha nas oitavas e de ficar em primeiro lugar em um grupo que tinha equipes como Bélgica e Croácia.
Com tais resultados, a expressão "Deu zebra!" se tornou comum durante o torneio. Para entender o que levou as seleções antes tidas como "nanicas" a disputarem em condição de igualdade com equipes com histórico de vitórias em campeonatos, a Sputnik Brasil conversou com o jornalista esportivo Douglas Rodrigues.
Douglas explica que o que tornou a Copa do Catar um torneio "multipolar" foi uma combinação de fatores. Ele destaca que o futebol se modernizou e passou a valorizar mais o trabalho em equipe do que talentos individuais, e o maior exemplo disso é o trabalho feito pela seleção do Marrocos.

"Essas equipes com menos tradição vêm se preparando e colocam isso em campo. A gente pega o Marrocos como maior exemplo, primeira equipe africana a disputar uma semifinal, e não é à toa. É uma equipe absolutamente dedicada quando o assunto é disposição física, é uma equipe absolutamente bem postada em campo, que tem, sim, seus valores individuais, mas o grande craque do time do Marrocos é o elenco."

Segundo Douglas, essa valorização do coletivo sobre o individual não ficará restrita à Copa do Catar; "será uma tendência no futebol", que dará mais protagonismo às equipes fora do eixo tradicional.

"A gente vai ver, inclusive no ano que vem, em campeonatos por todo o mundo, não só aqui no Brasil. Existe uma tendência dessa coisa polarizada de apenas alguns times conquistarem protagonismo; acho que o futebol, mais do que nunca, como eu já disse, é muito coletivo", diz Douglas.

Ele também destaca a importância de se investir em categorias de base e destaca que foi isso que levou a Alemanha a conseguir golear o Brasil por 7 x 1 na Copa de 2014.

"Aquele 7 x 1 não veio à toa. A Alemanha, que esteve diante do Brasil em 2002 (a gente foi campeão mundial àquela época em cima dos alemães), a partir dali fez um trabalho de base muito forte, não só na seleção alemã, mas no futebol alemão como um todo. Um trabalho que passou a funcionar muito, que é justamente o trabalho em categorias de base."

Abordando o desempenho do Brasil no torneio do Catar, Douglas acredita que o principal erro da equipe brasileira foi depender demasiadamente de talentos individuais, no caso Neymar. Porém ele destaca que há uma nova safra com potencial para trazer o hexa com um trabalho em equipe.

"A gente tem uma safra muito boa chegando, que é uma geração de Antony, Gabriel Martinelli, o Raphinha, o Richarlison, evidentemente. Uma geração de vinte e poucos anos que ainda tem mais uma ou duas Copas pela frente, quiçá três."

Por fim, Douglas ressalta que o Brasil "continua tendo uma produção de atletas muito boa", mas falta profissionalizar a gestão do futebol.
"As gestões do futebol feitas aqui no Brasil ainda são mais amadoras. Muitos clubes tornando-se empresas ou tendo investimentos fortes de empresas para poderem gerir o seu futebol de modo mais profissional. Falta isso no Brasil."
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