Por que as sanções antirrussas não vão ajudar a resolver a crise ucraniana, mas a diplomacia sim
© BelTA / Acessar o banco de imagensBandeiras russa e ucraniana durante as negociações realizadas em Belarus, 3 de março de 2022
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Embora a União Europeia (UE) tenha imposto mais sanções à Rússia com o seu nono pacote, esta medida econômica restritiva não vai contribuir para a resolução da crise ucraniana, apenas a diplomacia o pode fazer, escreveu Mariya Grinberg para a revista norte-americana The National Interest.
A mais recente rodada de sanções ocidentais, e, provavelmente, quaisquer rodadas subsequentes destinadas a limitar a capacidade da Rússia de financiar seu esforço de guerra na Ucrânia, vão ter um custo econômico considerável para o Ocidente, considerou a autora.
Nesse contexto, ela listou várias razões pelas quais a prática de longa data de restringir a Rússia nos mercados mundiais não teve sucesso. Por exemplo, o uso do mercado comum como arma para prejudicar um determinado Estado "reduz consideravelmente os ganhos de bem-estar de um sistema econômico comum".
A jornalista destacou que a crise ucraniana não pode ser encerrada por meios puramente econômicos.
"Especialmente considerando que a Índia e a China, juntamente com outros Estados importantes menores, não apoiam as sanções ocidentais, as medidas econômicas são a ferramenta errada para este trabalho", acrescentou.
Segundo Grinberg, mesmo o esforço liderado pelos Estados Unidos para retirar alguns bancos russos da Sociedade para as Telecomunicações Financeiras Interbancárias Mundiais (SWIFT), levou, ao contrário, à colaboração entre Rússia, China e Índia para desenvolver uma alternativa a esse sistema.
Além disso, seguir o caminho da guerra econômica, em sua opinião, vai mudar os padrões do comércio mundial, mas não deve impor custos altos o suficiente para forçar a saída da Rússia do conflito. Da mesma forma, continuou a colunista, os mesmos Estados europeus não podem arcar com o completo isolamento econômico do país eurasiano.
"Como acontece com a maioria das políticas que têm um preço, as sanções coletivas implicam consequências distributivas, ou seja, os custos individuais que cada Estado deve arcar em troca do benefício coletivo. Todos os Estados ocidentais querem sanções que imponham grandes custos à Rússia, mas idealmente ao menor custo possível para si mesmos", enfatizou.
Ela deu como exemplo a Bélgica, que continua importando diamantes russos. Já a França, Hungria, Eslováquia e Finlândia continuam importando combustível nuclear russo, enquanto a Grécia continua a lutar pelo seu direito de transportar o petróleo do país.
Quanto ao teto de preços do petróleo adotado pelos países ocidentais, Grinberg lembrou que a votação favorável à proibição das importações de petróleo bruto russo aconteceu no dia 3 de junho, mas só entrou em vigor no dia 5 de dezembro. Para ela, essa extensão de prazo deu às empresas europeias a oportunidade de buscar fornecedores alternativos, mas a Rússia também teve tempo de encontrar compradores alternativos para suas exportações.
Natureza demonstrativa das sanções
Segundo a autora, as sanções antirrussas ocidentais, que pretendem ser demonstrativas, dizem ao resto do mundo que "se você quebrar as regras da ordem internacional, a resposta será rápida e severa", mas há outra maneira para interpretá-las.
"Elas pode servir como um manual de 'como fazer' para proteger sua economia das sanções ocidentais. As sanções atuais e futuras revelam o que os Estados ocidentais podem ou não concordar até onde estão dispostos a ir em interesses vitais de segurança e, mais importante, o que eles não estão dispostos a fazer sobre um assunto de fundamental importância", enfatizou.
A consequência desse efeito de demonstração, nas palavras da autora, é o prejuízo causado ao sistema econômico internacional.
"Os Estados devem ser capazes de confiar que o sistema não se tornará uma arma contra eles. Assim, apelos para nacionalizar propriedades russas congeladas para formar um fundo de recuperação para a Ucrânia minam a confiança na instituição dos direitos de propriedade", apontou.
Em conclusão, Grinberg disse que o Ocidente tem a opção de continuar financiando a dispendiosa luta ucraniana de longo prazo ou buscar uma solução diplomática.
"Para facilitar o fim da guerra na Ucrânia, o Ocidente terá que recorrer a ferramentas alternativas. Na conjuntura atual, a diplomacia é a ferramenta com mais chances de sucesso. [...] É provável que as negociações para chegar a um acordo exija levar em conta os interesses de segurança da Rússia na Europa relacionados ao fim da ampliação da Organização do Tratado do Atlântico Norte [OTAN]", resumiu.
No dia 16 de dezembro, a União Europeia (UE) adotou o nono pacote de sanções contra a Rússia, no qual ampliou a proibição de investimentos no setor de mineração russo, proibiu cidadãos europeus de ocupar altos cargos em empresas estatais na e da Rússia, fornecer serviços na área de publicidade, pesquisa de mercado, pesquisas de opinião pública, etc. ao país da Eurásia.
Muitos países começaram a endurecer as sanções contra a Rússia depois que ela reconheceu as repúblicas populares de Donetsk (RPD) e Lugansk (RPL) como Estados soberanos no dia 21 de fevereiro e lançou sua operação militar especial na Ucrânia três dias depois.