Macron quebra silêncio após revolta popular com reforma na França e cita invasões em Brasília
11:33 22.03.2023 (atualizado: 12:47 22.03.2023)
© AP Photo / Ludovic MarinPresidente francês, Emmanuel Macron, no noticiário do canal de TV TF1, 13 de abril de 2022
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Presidente francês diz que "não está feliz" em ter que fazer a reforma no sistema de previdência do país, mas que, apesar de ouvir "a ira das pessoas" não pode permitir que facções e desordem aconteçam.
Na semana passada, o governo do presidente Emmanuel Macron aprovou reforma na previdência que aumenta o tempo de vida para aposentadoria de 62 para 64 anos, conforme noticiado.
Antes da medida ser aprovada, os franceses já estavam nas ruas semanas antes protestando, depois que Macron fez uma manobra constitucional para aprovar sua controversa reforma sem a aprovação da Assembleia Nacional, os protestos foram mais fortes e o governo levou dois votos de não confiança.
Hoje (22), o presidente francês quebrou o silêncio e disse que "não está feliz" de fazer as mudanças, mas que não há "soluções milagrosas", e comparou os protestos contra a medida aos ataques em Brasília no dia 8 de janeiro e no Capitólio americano em 2021, relata o jornal O Globo.
"Nós devemos ouvir a ira das pessoas, eu não estou feliz de fazer esta reforma, preferia não a ter feito. Poderia ter feito como muitos outros antes de mim e não me importar. Eu lamento que não soubemos explicar a necessidade desta reforma. Quando eu comecei a trabalhar aqui, havia dez milhões de aposentados. Hoje há 17 milhões, em breve haverá 20 milhões", afirmou.
Para Macron, "não há soluções milagrosas para equilibrar o sistema" e que outras alternativas, como abaixar as aposentadorias, aumentar os impostos ou tirar verbas de outras prioridades como educação seriam ainda piores.
"Nós somos uma grande nação com líderes que têm legitimidade política [...]. Há legitimidade para os sindicatos quando protestam contra a reforma e eu os respeito. Estão defendendo seu ponto de vista e é algo garantido pela Constituição. Mas no momento em que nossa democracia está vivendo, quando grupos usam violência extrema para atacar representantes populares [...] e recorrem à violência sem qualquer ordem porque estão infelizes, não é mais uma reforma", afirmou Macron.
A declaração do presidente é uma resposta a pergunta de jornalistas feitas ontem (21) em seu gabinete. Após essa resposta, um dos repórteres perguntou se o tom das palavras ditas por Macron acalmaria os ânimos no país, ele respondeu que seu discurso "esclarece as coisas".
© AP Photo / Thomas PadillaParlamentares de reagem enquanto seguram um jornal lendo: "64 anos não é" na Assembleia Nacional em Paris, 16 de março de 2023
Parlamentares de reagem enquanto seguram um jornal lendo: "64 anos não é" na Assembleia Nacional em Paris, 16 de março de 2023
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"Quando os Estados Unidos lidavam com o que aconteceu no Capitólio, quando aconteceu o que aconteceu no Brasil, quando houve violência extrema na Alemanha ou nos Países Baixos no passado eu digo: 'Nós respeitamos, ouvimos, tentamos seguir em frente pelo país [...], mas não podemos aceitar facções ou desordem'", respondeu.
De acordo com a mídia, os manifestantes franceses não invadiram prédios governamentais como em Brasília e Washington, mas o líder francês se referia a atos como saques a escritórios de parlamentares, quebra de janelas, pichações e e-mails ameaçadores. Alguns deputados disseram ter recebido ameaças de morte.