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Caso Mauro Cid: cada militar deve pagar individualmente pelos seus erros, aponta oficial da reserva

© Foto / Lula Marques / Agência BrasilTenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro, presta depoimento à CPI do 8 de Janeiro. Brasília (DF), 11 de julho de 2023
Tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro, presta depoimento à CPI do 8 de Janeiro. Brasília (DF), 11 de julho de 2023 - Sputnik Brasil, 1920, 29.08.2023
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Em meio a escândalos envolvendo oficiais do alto escalão das Forças Armadas durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), Tomás Paiva, atual comandante do Exército, tenta resguardar a instituição, despolitizando as tropas e fazendo com que militares voltem aos quartéis.
Na percepção de um analista militar ouvido pela Sputnik Brasil, a política não pode entrar lá "de forma alguma".
A cúpula do Exército vê membros da força engolidos por denúncias de envolvimento em irregularidades. O maior pivô da crise é Mauro Cid, tenente-coronel da ativa e ajudante de ordens de Bolsonaro durante seu mandato presidencial.
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O oficial está preso desde maio, sob a acusação de fraudar cartões de vacinação da comitiva do ex-chefe do Executivo. A Polícia Federal, porém, já conseguiu comprovar o envolvimento de Cid na venda de joias milionárias presenteadas por países árabes ao então governante, que deveriam ter sido incorporadas ao Estado brasileiro. O pai do tenente-coronel, o general da reserva Mauro Cesar Lourena Cid, colega de turma de Bolsonaro na Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN), era o responsável por negociar a venda supostamente ilegal dos ornamentos nos Estados Unidos.
Ao comentar o caso específico, o comandante Robinson Farinazzo, analista militar e oficial da reserva da Marinha do Brasil, é taxativo: as Forças Armadas devem deixar esse assunto a cargo da Justiça.

"Exército, Marinha e Força Aérea não podem adquirir um problema que não lhes pertence. O militar não comete um ilícito em nome da instituição. Ele o comete em cima dos seus interesses pessoais. Isso precisa ser separado — sob pena de comprometer a imagem da instituição. Nós precisamos defender os valores da instituição, e cada militar que pague individualmente pelos seus erros", observa.

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Carta do chefe do Exército

Tomás Paiva, por sua vez, fez circular um documento interno pelas casernas. Intitulado Ordem Fragmentária nº 01, o texto foi considerado uma tentativa de resgatar o prestígio das forças terrestres entre a população. Ele também institui princípios de afastamento do entorno político, já previstos pela legislação brasileira.editada 20:02

"O Exército Brasileiro é uma instituição de Estado, apartidária, coesa, integrada à sociedade e em permanente estado de prontidão", diz um dos primeiros parágrafos do documento. Ainda de acordo com o registro, a ideia é "intensificar as ações que contribuam para a proteção e o fortalecimento da imagem e da reputação do Exército".

Farinazzo diz que o comandante está agindo dentro de seu papel. Trata-se, em sua opinião, de orientações "normais e necessárias".
"O governo [de Humberto] Castelo Branco, assim como o governo [de Ernesto] Geisel, procurou despolitizar as Forças Armadas. O que acontecia naquela época? Muitos oficiais generais ficavam décadas no posto e acabavam transformando as próprias Forças Armadas em um fiel do político. O trabalho do general Tomás é muito parecido com o trabalho que Geisel e o general Leônidas Pires Gonçalves (depois, no governo de José Sarney) tiveram. Ao general Leônidas foi dada a incumbência de trazer os militares de volta aos quartéis, uma coisa muito importante, porque institucionalizou a força", afirma, rememorando o período logo em seguida ao fim da ditadura militar brasileira.
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Farinazzo admite que militares se partidarizaram em parte porque também são cidadãos. Ele pondera, contudo, que as funções do papel institucional devem ser separadas de preferências políticas, ideológicas e partidárias.

"É importante que militares da reserva e reformados concorram a cargos públicos, mas os militares da ativa têm que se manter afastados da política. Por quê? Não dá efetivamente para misturar a carreira das armas com política em virtude do peso da primeira. O peso da carreira das armas desequilibraria completamente o estamento político de qualquer país", avalia.

Segundo o comandante da reserva, há um momento geopolítico "complicadíssimo" em andamento para o Brasil, a partir da divisão entre dois grandes blocos de superpotências. Neste momento, as Forças Armadas têm que pensar sua missão institucional de construir a defesa e a soberania do país, acrescenta.
"E ela não vai conseguir pensar nessa necessidade se ela estiver politizada. Ela precisa olhar para fora, olhar para os desafios internacionais que incidem sobre o Brasil e construir seu papel em cima disso, atendendo aos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário", conclui.
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