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Brasil chega na cúpula do G20 com força de pautas ambientais, da desigualdade e da nova ordem global

© AP Photo / Dar YasinEstátua do deus hindu Shiva na entrada principal da cúpula do G20, em Nova Deli, na Índia, em 7 de setembro de 2023
Estátua do deus hindu Shiva na entrada principal da cúpula do G20, em Nova Deli, na Índia, em 7 de setembro de 2023 - Sputnik Brasil, 1920, 08.09.2023
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Redução das desigualdades e questão ambiental serão os temas que vão nortear a pauta do Brasil na 18ª Cúpula de Chefes de Estado e de Governo do G20, que ocorre em Nova Deli, na Índia, durante este final de semana.
O grupo, que reúne as 19 maiores economias do mundo e a União Europeia (UE), começa o encontro profundamente fragmentado em relação à geopolítica mundial, sobretudo quanto a temas como o conflito entre Rússia e Ucrânia.
Na esteira disso, o Brasil receberá, pela primeira vez, a presidência rotativa do G20, a partir de 1º de dezembro. A gestão se encerra em 30 de novembro de 2024. O país será responsável, portanto, pela próxima cúpula do G20, agendada para os dias 18 e 19 de novembro, no Rio de Janeiro.
Além disso, em outubro, o Brasil presidirá por um mês o Conselho de Segurança das Nações Unidas (CSNU), exatamente neste momento da reorganização da geopolítica mundial a partir de novas alianças, nas quais órgãos existentes são ampliados, e da disputa entre China e Estados Unidos, que se afunila entre sanções e declarações mais hostis.
As divisões internas entre países-membros do G20 ficaram nítidas com a ampliação do BRICS, cujos fundadores são Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. Argentina, Egito, Irã, Etiópia, Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos foram convidados a ingressar no grupo durante a cúpula da sigla, ocorrida neste mês. O presidente francês, Emmanuel Macron, expressou o incômodo ocidental com a expansão, dizendo que ela "mostra uma intenção de construir uma ordem mundial alternativa à atual".
Isabela Gama, especialista em BRICS, segurança e teoria das relações internacionais e pesquisadora pós-doutoranda da Escola de Comando e Estado-Maior do Exército (ECEME), vê a preocupação de líderes ocidentais em relação a essa fragmentação, mas não somente isso.

"O temor é que essa expansão do Sul Global, que não representa algo geográfico, mas sim mais civilizacional e de princípios, seja realmente uma ameaça à dominação do Ocidente com relação ao restante do mundo. Até porque o BRICS não vai só ameaçar a dominação ocidental: em termos econômicos, pode ser uma dominação e uma fragmentação de princípios de segurança internacional. Por exemplo como a Rússia está fazendo, com o apoio da China no conflito ucraniano (que pode ser visto como um conflito de interesses entre o Ocidente e o Oriente)", avaliou ela em entrevista à Sputnik Brasil.

Joe Biden, presidente dos EUA, discursa no Centro Médico do Departamento de Assuntos de Veteranos George E. Wahlen, Cidade de Salt Lake, Utah, EUA, 10 de agosto de 2023 - Sputnik Brasil, 1920, 07.09.2023
Panorama internacional
Estaria Biden de olho em mercados emergentes diante da ausência de Xi na Cúpula do G20 na Índia?
Sob a atual presidência da Índia, a cúpula do G20 começa na mesma toada: o Sul Global. Ao longo do último ano, Nova Deli apelou à "despolitização" das cadeias de abastecimento de alimentos e fertilizantes, a "mercados energéticos não discriminatórios" e ao progresso no "Quadro Comum" para enfrentar os desafios da dívida que assolam o mundo em desenvolvimento.
O país também tem feito lobby ativamente para tornar as instituições globais mais representativas e inclusivas.
A Índia também se recusou a ceder à pressão ocidental para convidar o presidente ucraniano, Vladimir Zelensky, para a cúpula do G20, com receio de que a sua aparição desviasse o foco da agenda de desenvolvimento do Sul Global.
Gama afirma que o Brasil pode se beneficiar muito da cúpula do G20 e da futura sucessão no comando do grupo mundial, cujos membros são responsáveis por 85% do produto interno bruto (PIB) global, representam 75% do comércio mundial e compreendem dois terços da população do planeta.
A especialista afirma, no entanto, que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deve deixar de lado o "caráter personalista da política externa dele".

"O Brasil pode se beneficiar bastante porque pode colocar em pauta questões relevantes como reforma do Conselho de Segurança da ONU, combate à desigualdade, desenvolvimento sustentável, acordos entre Mercosul e União Europeia, mas especialmente mudanças climáticas. Também com relação a questões de segurança internacional que o Brasil normalmente coloca em suas pautas, dado que o país tem uma visão um pouco diferente, mais neutra, com relação à paz e segurança no cenário internacional, que é o princípio de não intervenção", indicou.

Presidente da Republica, Luiz Inacio Lula da Silva, durante Encontro com o Primeiro-Ministro da República da Índia, Narendra Modi - Sputnik Brasil, 1920, 03.09.2023
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Desafio diplomático: Brasil assume comando do G20 em 2024, mas bloco está dividido
Como o Brasil está na liderança com Lula na presidência do bloco, prossegue a pesquisadora, já existe a expectativa de que ele vai colocar na pauta do G20 questões do Sul Global, deixando de lado questões relativas a países desenvolvidos.
Ela aposta também que Lula deve investir, "como de praxe", na política que prega alterações do Conselho de Segurança da ONU para a inclusão de novos membros permanentes.

"Nessa liderança do Brasil no G20, o país deve trazer, até mesmo neste encontro, temas como a desigualdade, não só na área social, mas a desigualdade entre países. O presidente vai trazer questões relativas ao BRICS, à União Africana, e questões como fome, combate à pobreza. Uma agenda social de maneira geral, e menos assuntos econômicos", aposta. "Acredito que já exista essa expectativa com relação ao Brasil, até porque é uma agenda que beneficia não só o Sul Global, mas obviamente o Brasil. Questões como mudanças climáticas, que incluem a proteção da Amazônia, são temas que beneficiam bastante o Brasil, que está se esforçando neste momento para tentar colocar como um assunto de importância global."

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