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Operação contra houthis pode selar o fim da presença dos EUA no Oriente Médio?

© AFP 2023 / Murtaja LateefHomem levanta cartaz durante um protesto contra os ataques das forças dos EUA e do Reino Unido contra os rebeldes houthis do Iêmen e contra a presença das forças dos Estados Unidos no Iraque, na praça Tahrir, em Bagdá, Iraque, 13 de janeiro de 2024
Homem levanta cartaz durante um protesto contra os ataques das forças dos EUA e do Reino Unido contra os rebeldes houthis do Iêmen e contra a presença das forças dos Estados Unidos no Iraque, na praça Tahrir, em Bagdá, Iraque, 13 de janeiro de 2024 - Sputnik Brasil, 1920, 25.01.2024
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Após o presidente dos EUA ter admitido que a Operação Guardião da Prosperidade contra os houthis não gera resultados militares, analistas alertam para a possibilidade do tiro de Washington sair pela culatra e aumentar a influência e popularidade do grupo iemenita no Oriente Médio.
Nesta quarta-feira (24), os EUA retomaram ataques contra forças houthis no Iêmen, destruindo mísseis antinavio que seriam destinados a ataques no mar Vermelho, declararam as Forças Armadas dos EUA em nota.
De acordo com o porta-voz militar do grupo iemenita, Yahya Saree, um navio militar dos EUA foi diretamente atingido durante o combate no golfo de Áden e no estreito de Bab al-Mandab.

"Houve um confronto entre vários destróieres e navios de guerra americanos no golfo de Áden e Bab al-Mandab, que tentavam proteger dois navios comerciais americanos", relatou Saree na plataforma X. "O resultado do confronto foi o seguinte: um ataque direto a um navio americano e forçar os dois navios comerciais americanos a se retirar."

O confronto ocorre em meio à escalada das hostilidades, após os houthis realizarem ataques contra navios ligados a EUA e Israel, como retaliação à agressão sofrida pelos palestinos na Faixa de Gaza, declarou o grupo iemenita.
© AP Photo / Fatima ShbairMulher palestina busca abrigo em Khan Yunis, cidade destruída parcialmente pelos bombardeios israelenses, em 2 de dezembro de 2023
Mulher palestina busca abrigo em Khan Yunis, cidade destruída parcialmente pelos bombardeios israelenses, em 2 de dezembro de 2023 - Sputnik Brasil, 1920, 25.01.2024
Mulher palestina busca abrigo em Khan Yunis, cidade destruída parcialmente pelos bombardeios israelenses, em 2 de dezembro de 2023
As hostilidades na costa do Iêmen aumentam o risco de conflito regional generalizado e desestabiliza rotas comerciais relevantes. A região é parte de uma das principais conexões marítimas entre a Ásia e a Europa, respondendo por cerca de 15% do tráfego marítimo global.
No entanto, a realização de ataques dos EUA contra o território iemenita está longe de ser um fato inédito, lembra a pesquisadora do Grupo de Estudos de Defesa e Segurança Internacional da Universidade Estadual Paulista (GEDES-UNESP) e professora na Universidade São Judas Tadeu, Clarissa Nascimento Forner.
"É importante destacar que os EUA têm perpetrado ataques contra os houthis desde 2014, na gestão Obama", declarou Forner à Sputnik Brasil. "Este envolvimento tem crescido nas últimas administrações, seja democrata ou republicana, sob a rubrica das operações de combate ao terrorismo."
A administração Biden chegou ao poder com a promessa de modificar a abordagem dos EUA no Oriente Médio e reduzir seu comprometimento militar na guerra no Iêmen.
© AP Photo / Nariman El-MoftyO lutador iemenita Hassan Saleh apoiado pela coalizão liderada pelos sauditas após confrontos com rebeldes houthis na linha de frente de Kassara perto de Marib, Iêmen, 20 de junho de 2021
O lutador iemenita Hassan Saleh apoiado pela coalizão liderada pelos sauditas após confrontos com rebeldes houthis na linha de frente de Kassara perto de Marib, Iêmen, 20 de junho de 2021 - Sputnik Brasil, 1920, 25.01.2024
O lutador iemenita Hassan Saleh apoiado pela coalizão liderada pelos sauditas após confrontos com rebeldes houthis na linha de frente de Kassara perto de Marib, Iêmen, 20 de junho de 2021
"Durante o início do governo Biden, houve sinalizações de aparente mudança da política para a região, com a retirada dos houthis da lista de organizações terroristas do Departamento de Estado estadunidense", lembrou Forner. "Mas a designação foi retomada, diante dos recentes ataques no mar Vermelho", explicou Forner.
De fato, três anos depois de reverter ordem de seu antecessor, Donald Trump, e retirar a designação houthi como "organização terrorista", Biden classificou o grupo sob uma nova rubrica, chamada Grupo Terrorista Global Especialmente Designado (SDGT, na sigla em inglês).
Além da proteção de seu aliado regional, Israel, durante sua operação em Gaza, os ataques dos EUA têm como objetivo atender a interesses de seus parceiros, como a Arábia Saudita, e conter as ações de seu rival Irã, considerou Forner.
"Por fim, há ainda os interesses comerciais de empresas ocidentais, que têm sofrido mais diretamente os ataques, e que utilizam as rotas comerciais do mar Vermelho", disse a especialista. "Portanto, é possível pensar que a resposta militar, como em outras situações, não atende estritamente a interesses nacionais, mas também a interesses de grupos específicos que compõem o cenário político e econômico de Washington."
Estudo recentemente publicado pelo Instituto Kiel de Economia Global aponta um colapso no volume de mercadorias trafegando pelo mar Vermelho, com uma queda de quase 70% no tráfego de contêineres no mês de dezembro.
© Foto / Reprodução / VesselFinderEmbarcação Galaxy Leader, capturada pelos rebeldes houthis no mar Vermelho
Embarcação Galaxy Leader, capturada pelos rebeldes houthis no mar Vermelho - Sputnik Brasil, 1920, 25.01.2024
Embarcação Galaxy Leader, capturada pelos rebeldes houthis no mar Vermelho
Empresas do setor de logística têm optado por rotas mais longas, realizando o périplo africano, o que aumenta o preço do frete e, consequentemente, dos produtos comercializados.
Porém, o impacto econômico da desestabilização do mar Vermelho não parece ser o suficiente para que os EUA angariem apoio internacional à sua campanha contra os houthis.
Apesar de Washington ter convidado os 39 membros das Forças Marítimas Combinadas – uma coalisão de segurança marítima liderada pelos EUA no Oriente Médio – para participar da Operação Guardião da Prosperidade contra os houthis, somente dez países aderiram oficialmente. Dentre eles, o único representante árabe é o Bahrein.

Opção militar

A ausência de potências regionais do Oriente Médio na operação coloca em dúvida a efetividade do uso da força militar em um caso tão complexo, que tem como origem fundamental o conflito na Faixa de Gaza.
"A opção militar dificilmente é a única opção, em quaisquer circunstâncias. No entanto, é possível afirmar que a escolha preferencial pelo veículo militar tem sido uma tendência quase estrutural da política externa estadunidense", disse Forner.
© AP Photo / Baderkhan AhmadVeículo militar dos EUA é visto em patrulha no campo perto da cidade de Qamishli, Síria, domingo, 4 de dezembro de 2022
Veículo militar dos EUA é visto em patrulha no campo perto da cidade de Qamishli, Síria, domingo, 4 de dezembro de 2022 - Sputnik Brasil, 1920, 25.01.2024
Veículo militar dos EUA é visto em patrulha no campo perto da cidade de Qamishli, Síria, domingo, 4 de dezembro de 2022
Segundo ela, os aparatos militares dos EUA, como o Pentágono, têm sido muito melhor financiados do que os instrumentos civis da política externa do país, como o Departamento de Estado.
Por outro lado, o constante recurso à força militar tem se mostrado ineficiente no Oriente Médio, com "resultados desastrosos", segundo Forner.
"A resposta militar também tem suas dificuldades", disse o professor de Relações Internacionais da Universidade Federal de Uberlândia, Filipe Mendonça, à Sputnik Brasil. "Os combatentes houthis são hábeis em guerra irregular, constantemente em movimento com lançadores de mísseis móveis e utilizando táticas que dificultam o direcionamento eficaz por forças convencionais."
Segundo ele, os recentes ataques da Operação Guardião da Prosperidade não conseguiram diminuir o poder de fogo do grupo iemenita. O próprio presidente Biden reconheceu a ineficiência da operação, dizendo a repórteres que "a operação está parando os houthis? Não. Mas ela vai continuar? Sim", reportou o The Intercept.
"Para o governo Biden, a equação é difícil: se a resposta for dura demais, os EUA podem acabar por legitimar os houthis no Iêmen e na região", considerou Mendonça. "Se a resposta dos EUA for branda demais, poderá aumentar a percepção de enfraquecimento da presença dos EUA na região, já bastante estremecida principalmente depois de Gaza, e dar um sinal ruim para um dos seus principais aliados, a Arábia Saudita."
© Sputnik / Stringer / Acessar o banco de imagensO presidente dos EUA, Joe Biden
O presidente dos EUA, Joe Biden - Sputnik Brasil, 1920, 25.01.2024
O presidente dos EUA, Joe Biden
Forner também acredita que a operação dos EUA pode aumentar a popularidade das forças houthis no Oriente Médio, que se coloca como a única que teria reagido às hostilidades israelenses em Gaza.
"É provável que contribua, da mesma forma que pode contribuir – como já tem ocorrido – para o aumento do rechaço à presença dos EUA na região", acredita Forner. "E, diante disso, não apenas a reputação regional do país é danificada, mas também internamente aos EUA, é possível que esses acontecimentos amplifiquem as críticas ao governo Biden."
O presidente dos EUA é alvo de duras críticas, inclusive pelos seus correligionários, por não ter solicitado autorização do Congresso para utilizar a força contra os houthis. Em ano de embate eleitoral, o tema pode diminuir ainda mais a popularidade de Biden, considerou Forner.
"Na minha opinião, diante das instabilidades no Oriente Médio e das incertezas da política doméstica dos EUA, a melhor saída para Biden nesta conjuntura crítica seria acabar com o estopim da crise, isto é, acabar com a guerra em Gaza", concluiu o professor de Relações Internacionais da UFU, Filipe Mendonça.
Na última semana, uma série de confrontos entre forças navais dos EUA e do Reino Unido contra o grupo houthi foram reportados. No domingo (21), as forças houthis anunciaram ter atacado com sucesso o navio de bandeira norte-americana Ocean Jazz. As Forças Armadas dos EUA, no entanto, negaram a informação.
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