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Comentário de Lula reacende debate mundial sobre guerra contra Faixa de Gaza, avaliam especialistas

© Foto / Ricardo Stuckert / Presidência da RepúblicaO presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, durante a cerimônia de Abertura da 37º Cúpula da União Africana, na Sede da União Africana, Adis Abeba, Etiópia, em 17 de fevereiro de 2024
O presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, durante a cerimônia de Abertura da 37º Cúpula da União Africana, na Sede da União Africana, Adis Abeba, Etiópia, em 17 de fevereiro de 2024 - Sputnik Brasil, 1920, 21.02.2024
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O presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, viu as relações com Israel estremecerem ao criticar a guerra de Israel contra a Faixa de Gaza. Para analistas em entrevista ao Mundioka, podcast da Sputnik Brasil, o comentário reposiciona os holofotes mundiais no enclave palestino. Algo que, por outro lado, é tensionado pelo governo israelense.
Publicações nas redes sociais em português feitas pelo Ministro das Relações Exteriores israelense, Israel Kaetz, pronunciamentos e retaliações do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu foram alguns dos recados dados por Israel após a declaração do presidente Lula.
Segundo Dominique Marques, professora de relações internacionais da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a fala do presidente brasileiro foi estratégica, com o intuito de "chamar atenção e trazer à luz de volta [a questão palestina], porque esse conflito estava ficando esquecido".
Ela acrescenta ainda que Lula disse o que muitos representantes mundiais pensaram em dizer.
Segundo a docente, a insistência de várias partes em tentar tachar uma grande problemática na fala do presidente acaba dispersando o foco, como, por exemplo, a crítica às grandes potências estarem "parando de prestar ajuda humanitária".
João Miragaya, mestre em História pela Universidade de Tel Aviv, apresentador do podcast Do Lado Esquerdo do Muro e colaborador do Instituto Brasil-Israel, mora em Israel há 15 anos. De acordo com ele, "a crise diplomática que acontece hoje é, disparada, a maior crise que já aconteceu entre os dois países".

"Brasil e Israel têm relações diplomáticas desde, se não me engano, 1949. O Brasil foi um dos primeiros países a reconhecer o Estado de Israel, Oswaldo Aranha presidiu a Assembleia Geral da ONU, na qual foi votado e aprovado o Plano de Partida da Palestina em 1947", acrescenta.

Apesar de não serem de extrema importância no âmbito econômico e do comércio internacional um para o outro, Miragaya ressalta que ambos os países sempre tiveram laços de cooperação e, pelo histórico das relações, há como se remediar a dissonância, afinal, como destaca, trata-se de "uma crise entre dois governos".

Lula, 'persona non grata': por que Israel faz questão de tensionar as relações com o Brasil?

O governo Netanyahu, usa, segundo Miragaya, a fala de Lula de "caso pensado".
Netanyahu, primeiro-ministro de Israel, que já não era dos mais populares antes mesmo da guerra contra o Hamas, viu sua popularidade cair drasticamente "depois daquela fatídica data [7 de outubro, quando o Hamas ataca Israel].
Segundo o mestre em história, ele não se recupera, ainda que ele esteja em campanha permanentemente, usando a guerra de todas as maneiras possíveis para se restabelecer no mapa político, a fim de tentar se ressuscitar, politicamente falando, e ele não consegue".

"Netanyahu condenou [Lula] num discurso em inglês, e o ministro das Relações Exteriores de Israel quebrou o protocolo. Ele se relaciona por meio de tweets com o Lula, como se eles fossem homônimos — e não são. Quem quer resolver uma crise diplomática não apela para a opinião pública no idioma do outro país, três vezes em tweets assim. Fora outros tweets também lançados, como um comentário feito numa bandeira do Brasil que chamou o Lula de negacionista do Holocausto, o que ainda por cima não é verdade", acrescentou.

Em vez de buscar uma resolução, o governo israelense tem tensionado o comentário feito pelo presidente do Brasil. Segundo Miragaya, há dois motivos para essa postura.

"A primeira é que o ministro das Relações Exteriores está tentando se cacifar em cima do seu eleitorado e usando o Brasil como arma para isso. A segunda razão é porque Israel desconsidera o Brasil como um ator importante na política internacional, a meu ver, de maneira equivocada".

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Fala de Lula 'retira o véu da impunidade sobre Israel e sionistas'

Comparar com o genocídio em Ruanda, a ocupação colonial na Argélia ou o Apartheid na África do Sul "não comoveria o Ocidente", afirmou Ualid Rabah, presidente da Federação Árabe Palestina do Brasil (Fepal).
Rabah avalia que a fala de Lula reacendeu o debate sobre o que acontece na Faixa de Gaza e "retira o véu da impunidade de Israel e dos sionistas".

"A destruição hoje sobre Gaza, segundo a Universidade do Oregon, é de 75%, supera a destruição que houve durante a tragédia palestina, a catástrofe, a limpeza étnica de 47 a 51, que foi de 69%, e supera a destruição de toda a Europa, à exceção da cidade de Hamburgo, que foi um pouco mais de 75%", dimensiona o presidente da Fepal.

Conforme Rabah, ao contrário do que foi falado, sobre Lula fazer um discurso improvisado, o presidente "não está comparando o genocídio com genocídio sem ter os dados na mão".

"É irrefutável o que o presidente Lula está dizendo. E é por isso que o mundo todo não reagiu negativamente à fala do presidente Lula, a não ser Israel, e que aliás, deu ao presidente Lula a condição de persona non grata, ou seja, uma espécie de Oscar de Direitos Humanos."

O presidente da Fepal elogia a postura de Lula, a qual chamou de estadista e disse ser comparável, no cenário atual, somente à postura da África do Sul, que denunciou como genocídio os acontecimentos em Gaza à Corte Internacional de Justiça.

"O mundo vai contar a história pré e pós-genocídio da Palestina e vai citar duas coisas. Vai citar a África do Sul e vai citar o presidente Lula", ressaltou.

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