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Ucranianos agiram sem apoio no ataque ao Nord Stream? Para analistas, informação é 'contraditória'

© AP Photo / Markus SchreiberGasoduto Nord Stream 1 (Corrente do Norte 1) do mar Báltico e terminal de transferência do gasoduto OPAL, o Baltic Sea Pipeline Link, em Lubmin. Alemanha, 21 de julho de 2022
Gasoduto Nord Stream 1 (Corrente do Norte 1) do mar Báltico e terminal de transferência do gasoduto OPAL, o Baltic Sea Pipeline Link, em Lubmin. Alemanha, 21 de julho de 2022 - Sputnik Brasil, 1920, 16.08.2024
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Esta semana, um jornal norte-americano publicou uma reportagem que conta que o ex-comandante das Forças Armadas ucranianas, Valery Zaluzhny, desobedeceu ordens de Vladimir Zelensky e irrompeu um ataque de sabotagem ao Nord Stream. Para analistas, informações são contraditórias e há tentativas de malabarismo para individualizar a ação.
Segundo a reportagem do The Wall Street Journal, a ideia de sabotar o Nord Stream surgiu após uma reunião entre militares do alto escalão ucraniano e empresários. A mídia enfatiza que a sugestão de destruir o Nord Stream foi estimulada "pelo álcool e pelo fervor patriótico".
Para Tito Lívio Barcellos Pereira, geógrafo e doutorando em relações internacionais no Programa de Pós-Graduação San Tiago Dantas, a versão trazida pelo jornal norte-americano é "difícil de engolir".

"Passa a impressão de que o governo ucraniano é tão caótico e ineficiente que cada um toma a medida que bem achar melhor. É um show de estereótipo em cima da política ucraniana, que é difícil de acreditar", analisa.

Citando fontes que supostamente teriam participado da empreitada, a reportagem conta que a operação teria custado cerca de US$ 300 mil [R$ 1,65 milhão] e envolveu o aluguel de um iate e uma tripulação composta por seis pessoas.
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De acordo com João Cláudio Pitillo, professor de história e pesquisador do Núcleo de Estudos das Américas (Nucleas) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), o atentado contra o Nord Stream "precisa de uma operação delicada e mão de obra muito bem treinada", diz, apontando contradições.
Além disso, Lívio acrescenta que, por uma série de fatores e detalhamentos exigidos em uma operação desse nível, o preparo exigiria pelo menos uma década.

Reportagem imputa a ação a indivíduos e alivia para governo ucraniano e OTAN

Os especialistas ouvidos pela Sputnik apontam que há uma tentativa de isentar os países da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) e o governo ucraniano da responsabilidade pelo ataque.

"Parece perceptível que estão criando uma narrativa ad hoc, uma narrativa improvisada, para tentar se eximir de culpa, para tentar tirar a responsabilidade dos países da aliança de qualquer envolvimento nesse ato de sabotagem", analisa Lívio.

O analista reforça que as informações aparecem após um silêncio de dois anos por parte dos governos dos países da região onde aconteceu o ataque. Ele relembra que a Rússia cobrava investigações sobre o acontecido. Investigações chegaram a ser realizadas pelo Ministério Público na Suécia e na Dinamarca, mas os inquéritos foram arquivados ou concluídos sem nenhuma informação concreta. O governo da Alemanha também vinha do posicionamento de evitar declarações sobre andamentos de processos relacionados ao caso.
Sobre as dificuldades de uma ação coordenada individualmente, Lívio cita o exemplo do mar Báltico, onde atravessam os gasodutos e são praticamente "um lago da OTAN".

"A inteligência ucraniana teria capacidade de realizar uma operação num mar que ela não conhece, um mar que ela não tem acesso, algo que demandaria um plano de mapeamento das regiões, mapeamento do relevo submarino, do trajeto exato do gasoduto, dos melhores pontos para mergulho e fazer um ataque desse tipo?", questiona.

Esse argumento faz cair por terra várias hipóteses, incluindo a de uma autossabotagem russa, que chegou a ser ventilada pelo Ocidente logo após o atentado ao Nord Stream.
Como a Ucrânia não é banhada pelo mar Báltico, tratando-se então de uma região desconhecida, o analista atesta ser "impossível dizer que os ucranianos conseguiriam fazer esse tipo de coisa sem o consentimento dos países da região".
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Pitillo, por sua vez, detalha que o tipo de demanda especializada para essa ação está presente nas unidades militares norte-americanas e inglesas.
Além disso, o professor de história argumenta que a emergência dessas informações neste momento tendem a abafar o erro estratégico que é a invasão a Kursk.

"Setores da OTAN estão dispostos a sacrificar alguns dedos, ou seja, expor ainda mais a Ucrânia em uma tentativa de salvar a guerra", comenta.

Suposto envolvimento de militares ucranianos em ataque ao Nord Stream pode abalar relações entre Ucrânia e Alemanha?

Para os analistas, as revelações trazidas pela mídia norte-americana não deverão ter impacto significativo tanto nas relações entre Ucrânia e Alemanha quanto para o governo do chanceler Olaf Scholz.
A Alemanha tem uma participação importante em relação ao envio de armas no conflito entre Rússia e Ucrânia. Segundo Pittilo, o atual governo alemão é subserviente aos EUA.

"A Alemanha não se furta em tentar prejudicar a Federação da Rússia e a agradar os Estados Unidos. E eu acredito que o governo Scholz vai se fazer de cínico, o governo Scholz vai se fazer de desentendido e é possível até que questionem essas revelações."

Nesse sentido, o professor de história acredita que um rumo para o atual contexto de ataque de um grupo ucraniano contra o Nord Stream seria oferecer esse grupo para ir a julgamento e abafar o caso.
Também é possível que a situação seja ignorada, segundo o analista, sobretudo pelo absoluto "silêncio desses países europeus com o que está acontecendo na Ucrânia, emergência do fascismo, ataques terroristas contra instalações nucleares, ações contra civis no território russo".
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Conforme Tito Lívio, a exposição do caso não deve impactar o governo alemão por dentro, mas pode ressoar nas futuras eleições, uma vez que, segundo o analista, pesquisas mostram que os principais partidos do país são a favor do Nord Stream.

"Pesquisas de opinião pública realizadas pelas sociedades alemãs, pelos institutos de pesquisa, mostram que o reconhecimento do Nord Stream como importante para a economia e para a sociedade alemã é superior a 50%."

Dessa forma, a informação que designa culpa aos ucranianos por um ataque contra o Nord Stream também torna a Alemanha vítima. A partir disso, para o especialista, podem surgir novas questões para o eleitorado.
"Se isso foi uma responsabilidade do governo da Ucrânia, o que o governo alemão fez para monitorar a situação? Qual a posição que a Alemanha vai tomar em relação a isso? Simplesmente vai dizer que é direito da Ucrânia se defender? A Ucrânia comprometeu o abastecimento de gás para um grande mercado consumidor na Europa Ocidental. Isso não seria um ato de guerra?", sugere.
Esse cenário, caso aconteça, poderia fazer com que o governo alemão primasse por abordagens mais cuidadosas na aprovação de novos pacotes de ajuda militar e financeira à Ucrânia e novos pacotes de sanções direcionadas à Rússia. Entretanto, "a história em si não é convincente", diz Lívio, que vê como probabilidade mais evidente um pedido de desculpa da Alemanha seguido da argumentação indicando a explosão como um caso isolado.
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