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Análise: racha na UE sobre apoio a Kiev reflete percepção de mudança no curso do conflito ucraniano

© Sputnik / Yevgeny BiyatovSoldados russos atiram em posições das Forças Armadas da Ucrânia com canhão de artilharia Giatsint-B na direção do agrupamento de tropas Sever (Norte), em 21 de maio de 2024
Soldados russos atiram em posições das Forças Armadas da Ucrânia com canhão de artilharia Giatsint-B na direção do agrupamento de tropas Sever (Norte), em 21 de maio de 2024 - Sputnik Brasil, 1920, 16.10.2024
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Em entrevista ao podcast Mundioka, da Sputnik Brasil, analistas apontam que as posições divergentes de líderes europeus sobre o apoio à Ucrânia refletem problemas internos causados pelo conflito e temor em relação à futura abordagem dos EUA a depender do próximo líder a comandar o país.
A divergência de opiniões tomou conta da União Europeia (UE) quando o assunto é o conflito ucraniano. Em coletiva recente, o presidente francês, Emmanuel Macron, defendeu que a Europa deve reconsiderar sua forma de lidar com a Rússia, repensando as relações com Moscou no intuito de restabelecer a paz e criar uma nova ordem mundial que não seja "incompleta e injusta" como a atual.
Em contraponto, também em entrevista recente, o secretário das Relações Exteriores do Reino Unido, David Lammy, pediu mais "coragem" à Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) no apoio à Ucrânia, o que foi entendido pela imprensa britânica como um apelo para suspender as restrições ao uso de armas fornecidas pelo Ocidente em ataques ao interior do território russo.
Já na Itália, em uma pesquisa recente, mais de 50% dos entrevistados afirmaram que o governo deveria reduzir a assistência enviada a Kiev.
Em entrevista ao podcast Mundioka, da Sputnik Brasil, especialistas analisam o que motivou as discordâncias entre países da UE em relação à Ucrânia e para qual lado a Europa deve pender na miríade de posições conflitantes em torno da assistência a Kiev.
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Carolina Pavese, doutora em relações internacionais pela London School of Economics, professora na Fundação Instituto de Administração (FIA) e consultora, afirma que a mudança de postura de Macron reflete uma estratégia de se posicionar como uma liderança na Europa para preencher um vácuo de poder deixado após a saída de Angela Merkel do cargo de chanceler alemã e a tímida atuação de seu sucessor, Olaf Scholz.
Somado a isso, há para Macron uma necessidade de se firmar como um grande presidente, capaz de projetar a França como potência.

"Essa iniciativa dele vem inclusive em um momento importante. A gente está chegando mais ou menos no final do ano, já estamos agora praticamente na metade de outubro, há uma grande fadiga com relação a essa guerra, esse conflito que se esperava que fosse durar apenas semanas e a gente já está estendendo por mais um ano, longe de chegar a uma conclusão."

Ela afirma que esse esgotamento se agravou com a eclosão de outros conflitos, como a ofensiva de Israel contra o Hamas na Faixa de Gaza, que já envolve Líbano e Irã.
Outro ponto destacado pela especialista é a incerteza em torno da futura abordagem dos Estados Unidos sobre o conflito ucraniano a depender de quem saia vencedor nas eleições presidenciais do país. Segundo ela, se Kamala Harris vencer o pleito, haverá continuidade na política atual de apoio a Kiev; mas se o eleito for Donald Trump, haverá incerteza tanto em relação ao apoio a Kiev quanto à OTAN e à agenda multilateral dos EUA.

O que levou a Europa a se fragmentar em torno do apoio a Kiev?

Pavese enfatiza que o conflito ucraniano não mudou o fato de que a Rússia permanece um parceiro econômico importante de alguns países europeus e também um grande fornecedor de gás, já que 20% do gás consumido na Europa vem da Rússia. Ela afirma que a partir dos efeitos das sanções houve um entendimento de que "não dá para fechar completamente os canais de diálogo diplomáticos e de cooperação com a Rússia".
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"Por isso essa tentativa também de Macron de fazer esse equilíbrio geopolítico entre EUA e Europa, e com uma eventual reaproximação da Rússia, que vai inclusive de acordo com o interesse que boa parte da população francesa tem manifestado. De modo geral, o que a gente vê é que a posição desses políticos [europeus] tem refletido muito questões internas, em termos de crise e de rupturas, de fragmentações e polarizações."
Por sua vez, Marcelo de Almeida Medeiros, professor titular de política internacional comparada do Departamento de Ciência Política da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), sublinha que a situação na Europa é uma resposta a um conflito que "está se perenizando". Ele destaca que "quase 24 meses de guerra é um longo período" e "alguns setores da sociedade têm se prejudicado com o conflito".
"Por exemplo nas exportações ucranianas. A Ucrânia é um dos celeiros produtivos mundiais, e ela estava com uma certa dificuldade de escoar sua produção. E a Europa Ocidental se comprometeu a comprar esses produtos sem cobrança de imposto, como se a Ucrânia fizesse parte da união aduaneira que caracteriza a União Europeia. Isso tem um impacto, obviamente, para os produtores dos países que fazem parte da União Europeia", explica.
Ele afirma ainda que, encerrado o conflito, é possível que muitos países da UE corram para reatar as relações diplomáticas com a Rússia.

"A Rússia é um país que não pode ser negligenciado por nenhum outro país. É um país que tem um peso econômico importante […], então é do interesse de todos os países, não somente da Europa, mas do Brasil, da China, enfim, dos demais componentes do cenário internacional […] tentar manter boas relações. É muito difícil você excluir a Rússia do sistema internacional."

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Questionado sobre quem assumirá a tarefa de reerguer a Ucrânia após o fim do conflito, Medeiros afirma que "não haverá uma ajuda específica de um ou outro país". Para ele, o auxílio será balizado pelos interesses, ou seja, cada país vai optar por contribuir se houver mercado, "possibilidade de exportação de serviços, empreiteiros, construtores, armamentos".

"Acredito que os países vão tentar tirar o maior proveito possível do final do conflito", arrisca.

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