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Da tentativa de golpe no Sul à promessa de diálogo: reconciliação entre Coreias volta ao horizonte?

© Sputnik / Kristina KormilitsynaVista de Pyongyang. Coreia do Norte, 18 de junho de 2024
Vista de Pyongyang. Coreia do Norte, 18 de junho de 2024 - Sputnik Brasil, 1920, 25.06.2025
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Diante de uma escalada de tensões sem precedentes causada por políticas de Seul, que usou até drones para lançar folhetos de propaganda sobre Pyongyang, a República Popular Democrática da Coreia (RPDC) chegou a aprovar uma lei que determinava o rompimento total das relações dos dois países. Mas as mudanças no Sul podem mudar esse panorama?
Era final da década de 1990, período em que a própria Constituição da RPDC dizia que o principal objetivo do país era alcançar a reunificação com a Coreia do Sul, quando um acordo firmado entre os dois países previa a construção de uma estrada que ligasse as duas capitais: Pyongyang e Seul — medida que foi possível após o fim de uma série de ditaduras militares no Sul. Enquanto os norte-coreanos investiram no projeto, que já se aproximava da fronteira, nenhuma mudança era vista do outro lado.
A situação mudou drasticamente por conta de uma mudança de posição unilateral do Sul, que deixou de ter interesse na integração.
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"A estrada agora serve como conexão até o sul da Coreia do Norte, mas perdeu seu propósito original. O que foi destruído foi um portal no começo da estrada, que tinha uma estátua de duas mulheres coreanas segurando um mapa unificado", contou ao podcast Mundioka, da Sputnik Brasil, o presidente do Centro de Estudos da Política Songun e da Organização de Estudos Estratégicos sobre a Coreia do Norte, Lucas Rubio. Para o especialista, esse caso mostra um retrato das relações entre os dois países desde o fim da Guerra da Coreia, em 1953.
Recentemente, a escalada sem precedentes das tensões levou o Norte a suspender um pacto de não agressão mantido entre os dois países desde 2018. No outro lado, o governo do então presidente Yoon Suk-yeol era marcado pelo afastamento e por contínuas agressões contra Pyongyang. Já em fevereiro de 2024, a Assembleia Popular Suprema da RPCD aprovou a anulação de todos os acordos assinados com o Sul, inclusive na área econômica, como resposta.
Já no fim daquele ano, sob a justificativa de "limpar" o território de espiões norte-coreanos, Yoon Suk-yeol decretava a lei marcial no país, que previa a mobilização "das Forças Armadas em tempos de guerra, conflito armado ou emergência nacional semelhante".
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O decreto foi visto como tentativa de golpe de Estado, com críticas inclusive de membros do próprio governo, e em poucas horas foi derrubado pelo parlamento. Afastado, Yoon sofreu impeachment e chegou a ficar preso entre janeiro e março deste ano.

"A Coreia do Sul passou por transformações dramáticas nos últimos meses, com a saída turbulenta do ex-presidente que tentou o golpe, situação que não seria nova na história da Coreia do Sul. Houve uma grande apreensão se o país conseguiria sair dessa instabilidade, já que o presidente interino precisou ser removido dias depois. Mas os sul-coreanos conseguiram reverter essa situação e elegeram um presidente em um pleito que funcionou corretamente dentro dos parâmetros internacionais", acrescenta Rubio.

Em uma mudança de rumo de quase 180 graus, conforme o especialista, o presidente eleito Lee Jae-myung tomou posse no início deste mês com a promessa de dialogar com o Norte e, inclusive, anunciou a suspensão da transmissão de áudios na fronteira com propagandas do país e até músicas K-pop — manobra vista como um gesto de reaproximação.
"Acredito que essa mudança possa retomar um processo que estava em andamento entre 2018 e o início da pandemia e foi interrompido bruscamente. Mas é necessário avaliar se os movimentos do novo momento político da Coreia do Sul estarão de acordo com o que o Norte deseja. Historicamente, os norte-coreanos tendem a tomar posições somente após aguardar o que é realizado inicialmente", frisa.
Programa de notícias da TV sul-coreana informa que a Coreia do Norte explodiu seções, no lado norte, das estradas que conectam as duas Coreias. Estação Ferroviária de Seul, Coreia do Sul, terça-feira, 15 de outubro de 2024. - Sputnik Brasil, 1920, 15.10.2024
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Por que existem duas Coreias?

Em 1910, pouco antes da Primeira Guerra Mundial, o Império da Coreia era anexado pelo Império do Japão, o que daria início a longos anos de exploração dos recursos da região, inclusive com a proibição do uso do coreano. Mesmo com os conflitos armados pela independência, o domínio japonês só foi encerrado em 1945, com a derrota do império juntamente com o regime nazista.
Diante disso, a península coreana foi dividida entre Norte e Sul, o que se mantém em vigor até hoje. Desde então, Seul sofre com a interferência dos Estados Unidos na política interna e até em um processo conhecido como "ocidentalização". Além disso, Washington mantém diversas bases militares no país, incluindo Camp Humphreys, a maior fora do território norte-americano e que abriga quase 41 mil pessoas.
Essa situação também é, conforme Lucas Rubio, um dos principais empecilhos para a reunificação das Coreias.
"Os Estados Unidos têm muito interesse em ficar ali, e isso é uma barreira primordial para qualquer tentativa de reaproximação. E não é nenhuma exigência absurda da parte dos norte-coreanos. Estão dizendo o seguinte: 'Se fomos mesmo povo, temos mais de 5 mil anos de história em comum contra 70 anos de separação. A lógica é que isso seja resolvido entre nós, sem interferência de um agente externo'", afirma.
Além disso, o especialista lembra que a RPDC, diferentemente do Sul, sempre buscou adotar uma política de reunificação gradual e até existia um ministério criado, em especial para cuidar desse processo. Nas escolas, acrescenta Rubio, era mostrado o mapa com apenas uma Coreia, ao contrário do outro lado, que registrou pouca vontade ao longo dos anos.

"Os norte-coreanos sempre cumpriram sua parte em acordos, mas os sul-coreanos sempre quebraram […]. As tensões causadas pela presença norte-americana também causaram um estresse militar e econômico muito grande, já que a Coreia do Norte precisou desenvolver rapidamente um programa nuclear e missilístico que todos sabemos ser caríssimo, fora a mobilização de tempos em tempos da população pelo risco de estourar uma guerra. Esse vai e vem causa muitos problemas", resume Rubio, que enfatizou ainda que Pyongyang é o país mais sancionado do mundo, inclusive pela Organização das Nações Unidas (ONU).

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O que mudou em 70 anos de separação das Coreias?

De um lado, modernidade e tecnologia, enquanto no outro um país rural e pouco desenvolvido, o que seria reflexo de mais de 70 anos de separação. Assim é a percepção, segundo o especialista, sobre cada uma das Coreias, mas que não retrata a realidade.

"É até ilusório achar que toda a Coreia do Sul é muito desenvolvida economicamente, mas não é. [O país] é mostrado como uma atmosfera de modernidade, alta tecnologia, cultura vibrante e que olha para os norte-coreanos como os 'caipiras', só que essa é uma visão ruim que não condiz com a realidade. Apesar de não terem uma economia nem próxima em termos de números, a Coreia do Norte é um país avançado tecnologicamente. Todas as pessoas têm suas casas próprias, estão empregadas ou na escola. Não podemos falar o mesmo da Coreia do Sul, que não sofre nenhum tipo de bloqueio ou sanção internacional", finaliza.

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