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De pária a guardião da Eurásia: qual o papel do Talibã na luta contra o terrorismo?

© Sputnik / Kristina Kormilitsyna / Acessar o banco de imagensMinistro interino das Relações Exteriores do Afeganistão e membro da liderança do movimento Talibã, Amir Khan Muttaqi, na 6ª reunião do formato de Moscou de consultas sobre o Afeganistão, em 4 de outubro de 2024
Ministro interino das Relações Exteriores do Afeganistão e membro da liderança do movimento Talibã, Amir Khan Muttaqi, na 6ª reunião do formato de Moscou de consultas sobre o Afeganistão, em 4 de outubro de 2024 - Sputnik Brasil, 1920, 11.07.2025
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Em entrevista à Sputnik Brasil, especialistas afirmam que grupo governante do Afeganistão é um dos principais atores no combate aos terroristas do Estado Islâmico-Khorasan, responsável pelo ataque ao Crocus City Hall, em março de 2024.
O Talibã reassumiu o controle do Afeganistão em agosto de 2021, quando as tropas dos Estados Unidos deixaram o país asiático após 20 anos de ocupação, em uma operação de retirada considerada atrapalhada e mal executada.
Desde então, o grupo tenta alcançar legitimidade perante a comunidade internacional, em busca de consolidação do governo Talibã e de distanciamento do extremismo de outrora. Entre as poucas nações que reconhecem a legitimidade dos atuais mandatários afegãos está a Rússia.
Soldados norte-americanos entrando em um avião militar na base militar de Bagram saindo do Afeganistão (foto de arquivo) - Sputnik Brasil, 1920, 09.10.2024
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Após 20 anos de ocupação, o que sobrou do Afeganistão deixado pelos EUA?
Especialistas entrevistados pela Sputnik Brasil explicaram que o Talibã atualmente tem grande importância para a segurança da Eurásia, em especial no combate ao Estado Islâmico-Khorasan (El-K), um ramo do Daesh (organização terrorista proibida na Rússia e em vários outros países) que atua na Ásia Central.
O El-K, que surgiu como um braço do Estado Islâmico ao longo da década passada, ganhou maior notoriedade ao assumir a autoria de um atentado em Moscou, na Rússia, em 2024. O ataque ao Crocus City Hall deixou ao menos 145 mortos e outras centenas de feridos.
A internacionalista e cientista militar Amanda Marini acredita que o reconhecimento do Talibã como governo legítimo por parte de Moscou está diretamente atrelado ao combate do El-K. A autora do livro "Quando a guerra não tem fim" afirma que o episódio no Crocus City Hall "reforçou a necessidade de alianças pragmáticas para enfrentar o terrorismo".

"Para Moscou, o Talibã, apesar de estar sujeito a sanções internacionais e carregar um histórico controverso, é atualmente considerado uma peça fundamental na contenção territorial e ideológica do EI-K. O grupo extremista tem ampliado sua presença nas províncias do leste e nordeste do Afeganistão, especialmente nas regiões fronteiriças com o Tajiquistão."

Marini também destaca que a Rússia conta com uma quantidade significativa de muçulmanos. Segundo o instituto de pesquisa russo VCIOM, estima-se que ao menos 7% dos russos seguem o Islã, o que obriga o Kremlin a lidar com "questões envolvendo radicalismo".
Nesse sentido, diz a especialista, a estratégia russa não se baseia em uma oposição à religião em si, mas na tentativa de conter atores que distorcem suas bases para justificar ações terroristas com fins políticos.
Fiéis se reúnem para comemorar o feriado muçulmano do Eid al-Fitr, em Cartum, Sudão, em 24 de maio de 2020 - Sputnik Brasil, 1920, 05.12.2024
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Inimigo imaginário: Ocidente cultural condenou mulçumanos à alcunha de terroristas, dizem analistas
Pedro Martins, mestre em ciências militares pela Escola de Comando e Estado-Maior do Exército (ECEME), chama atenção para três pontos importantes do Talibã na segurança da Eurásia: controle local, combate ao tráfico e enfrentamento ao terrorismo.
Em primeiro lugar, o governo do Talibã evita que o Afeganistão fique internamente desestabilizado. Já em um segundo momento, por professar uma vertente conservadora do Islã, ele atua na segurança euroasiática ao combater o tráfico de drogas, sobretudo de drogas à base de ópio.
Desde que retomou o poder, a produção de ópio no Afeganistão — que durante a ocupação estadunidense produzia mais de 90% da heroína mundial — caiu em 95% devido à proibição instituída pelo grupo religioso.

"Por fim, ele desempenha um papel de combate a grupos islâmicos rivais que adotam táticas terroristas, impedindo que eles se espalhem pela região."

Entretanto, assim como Marini, Martins ressalta que o conservadorismo do Talibã afasta as chances de o grupo ser reconhecido como legítimo por um maior conglomerado de países, em especial por governos do Ocidente.
"O mais provável é que os países mantenham relações, de fato, com o novo governo, na prática, reconhecendo-o, mas sem fazer isso de forma pública, porque o desgaste de reconhecer o governo de um grupo tão conservador pode ser grande, sobretudo para países ocidentais."
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Cerca de 5 milhões de refugiados retornaram ao Afeganistão durante 4 anos de governo do Talibã

O Talibã atual é, de fato, novo?

Embora haja dúvidas quanto à garantia de direitos iguais para mulheres ou liberdade para a imprensa, o Talibã começa a abraçar outras etnias que não só os pashtuns, como os tajiques, uzbeques e hazaras, que agora fazem parte do governo.
No entanto, os cargos de maior importância seguem nas mãos dos pashtuns, que formam cerca de 90% da administração afegã, informa Marini.

"Apesar de maior diversidade étnica, o Talibã de hoje não é o mesmo grupo homogêneo de 30 anos atrás. Tornou-se mais multifacetado, mas a liderança e o controle continuam firmemente nas mãos dos pashtuns, sem uma estrutura de 'alto escalão' inclusiva ou de poder compartilhado."

Por sua vez, Martins explica que a nova pluralidade, ainda que longe do ideal, serve como argumento de legitimação dentro da nova fase do Talibã. "Muitos países da Ásia Central condicionaram o reconhecimento do novo governo do Talibã ao conferir mais papel aos outros grupos étnicos em seu governo."
Para o mestre em ciências militares, ainda que o Afeganistão não seja uma potência militar regional ou diplomática tradicional, o país se torna um dos principais personagens da Eurásia pelas "dimensões de controle territorial e contenção do jihadismo transnacional".

"A influência [do Afeganistão] está mais ligada à geografia, à estabilidade relativa que proporciona e à lógica pragmática dos interesses de seus interlocutores do que a qualquer estrutura institucional formal de segurança coletiva."

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