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Brasil precisa dominar todas as etapas de produção de semicondutores, diz presidente do Ceitec

© Foto / Marcelo Camargo/Agência BrasilSemicondutores podem ser encontrados em diferentes tecnologias contemporâneas, como carros, painéis solares e até relógios
Semicondutores podem ser encontrados em diferentes tecnologias contemporâneas, como carros, painéis solares e até relógios - Sputnik Brasil, 1920, 12.08.2025
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Em entrevista exclusiva à Sputnik Brasil, o presidente da estatal brasileira de semicondutores Augusto Gadelha critica o costume de exportação de matérias-primas do Brasil e diz que o país necessita dominar toda a cadeia de produção dessa tecnologia.
Os semicondutores são a base de inúmeras tecnologias atuais; se não, todas elas. Carros novos — elétricos ou à combustão —, painéis solares, equipamentos médicos e até eletrodomésticos: atualmente, quase tudo possui algum elemento semicondutor na concepção.
Você, por exemplo, está lendo esta matéria em um dispositivo móvel ou pela tela de um computador. Por trás deste espelho preto existem semicondutores transformando impulsos elétricos em uma projeção com letras e imagens.
Como de costume, quando o assunto é tecnologia, as empresas asiáticas se destacam, com maiores holofotes para a Taiwan Semiconductor Manufacturing Company (TSMC), que tem como principais clientes gigantes da tecnologia, como Apple, Nvidia e Intel.
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O Brasil, por sua vez, tem forte atuação nas etapas de design e encapsulamento — processo que reúne múltiplos semicondutores em um único conjunto eletrônico — de semicondutores. Entretanto, a parte com tecnologia mais avançada da operação, a impressão de chips, é feita somente fora do país.
Em entrevista exclusiva à Sputnik Brasil, o presidente do Centro Nacional de Tecnologia Eletrônica Avançada (Ceitec), Augusto Gadelha, afirma que, para progredir na área, o Brasil precisa investir em educação e pesquisa a fim de progredir no setor. Segundo o mandatário do Ceitec, é preciso criar um ambiente propício para a expansão na tecnologia.

"A China foi o país mais bem-sucedido nos últimos anos. Por quê? Porque eles investiram maciçamente na educação, nas universidades, nos centros de pesquisa e no empreendedorismo, na inovação. Então eles têm criado um clima adequado para tecnologias."

Gadelha acredita que há uma barreira histórica na área de semicondutores que o Brasil precisa superar: deixar para trás o estigma de país exportador de matéria-prima e se tornar um grande agregador de valor a produtos.

"Nós não acordamos o suficiente, não tivemos projetos ou planos devidamente conduzidos para fazer desse material, dessa riqueza toda, produtos de alto valor agregado em tecnologia. Isso daí nós vemos ao longo de toda a nossa história. […] Quem fazia o café com um valor agregado maior era a Itália, que não tem pé de café. Então, o pessoal se acostumou a enriquecer com exportação de matéria-prima, mas isso tem uma vida útil pequena."

Um dos exemplos da sofisticação tecnológica necessária para a produção desses componentes é o refino do silício.
Segundo o presidente do Ceitec, para ser utilizado nos semicondutores, o silício é processado em grandes fornos até atingir o grau eletrônico. No Brasil, no entanto, esse processo fica limitado até o nível metalúrgico, menos puro. Gadelha ainda destaca que o processo de produção desse tipo de material exige esterilização, por exemplo, maior do que de um de centro cirúrgico.
"Para a produção de semicondutores, se utilizam salas limpas, extremamente limpas, que não têm uma quantidade mínima de poeira. Elas são mais limpas do que uma sala de cirurgia que você possa ter em um grande hospital."
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Dominar todo o processo

O assunto soberania ganhou a mídia brasileira após o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciar o tarifaço de 50% contra as exportações do país, alegando suposta perseguição judiciária contra Jair Bolsonaro. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva alegou que os Poderes do Brasil não sucumbiriam às pressões externas e passou a proclamar um discurso contra a interferência estrangeira.
Caminhando em direção ao campo da tecnologia, a briga pelo desenvolvimento de semicondutores de alta qualidade também envolve governos. Gigantes asiáticos do setor, como China, Coreia do Sul e Japão, concedem grandes subsídios a empresas do setor. Trump, por sua vez, quer exigir que companhias de tecnologia estrangeira construam fábricas nos EUA para atuar no país com menores taxas.
Em uma batalha com diferentes frentes, Gadelha reforça a importância de o Brasil controlar todo o processo de fabricação de semicondutores, o que não significa se isolar, em um setor conhecido pelo multinacionalismo dos processos.
"O Brasil pode não ser totalmente autossuficiente, mas tem que ter a capacidade, o know-how, de como fazer todo esse processo, porque aí sim ele tem certo grau de autonomia importante para nos dar esse sentimento de independência. […] Um país da dimensão e da importância do Brasil tem que almejar, mais cedo ou mais tarde, ter o controle de todos esses processos."

"A nossa política industrial tem que ser uma política industrial de inovações. De fazer coisas novas, de fazer tecnologias de ponta, e não simplesmente copiar, importar e fazer tecnologia. Nós não podemos mais ser montadores de equipamentos."

Para Gadelha, a união com a Argentina e o Chile poderia ajudar o Brasil a desenvolver uma cadeia de semicondutores sul-americana. Contudo, as divergências políticas se mostram um contratempo para o futuro.

"Argentina e Chile são os dois grandes países que vejo que poderiam se aliar bem ao Brasil para a gente desenvolver uma indústria de semicondutores que fosse forte nesse setor e área. Mas, evidentemente, há dificuldades políticas […]."

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