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Tensão entre Brasil e EUA pode levar país a desenvolver GPS nacional? Qual seria a vantagem?

© Sputnik / Maksim Blinov / Acessar o banco de imagensNavegador portátil baseado no sistema Glonass, de propriedade da Rússia, na IX Exposição Internacional Transporte da Rússia, em Moscou
Navegador portátil baseado no sistema Glonass, de propriedade da Rússia, na IX Exposição Internacional Transporte da Rússia, em Moscou - Sputnik Brasil, 1920, 13.08.2025
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Em entrevista à Sputnik Brasil, especialista destaca a importância de um serviço próprio de navegação por satélite, mas reforça que desenvolvimento será caro e com prazo longo para implementação.
A guerra comercial iniciada pelos Estados Unidos contra o Brasil no último mês escalou o nível de tensão entre Washington e Brasília, levantando dúvidas sobre o quão deteriorada pode ficar a relação entre os dois países com a dificuldade de alcançar um acordo para o tarifaço.
Nas redes sociais, brasileiros começaram a questionar se os EUA, como retaliação, poderiam desligar no país o serviço do Global Positioning System (GPS), operado pelo Departamento de Defesa. A discussão, em seguida, passou a rondar uma pergunta simples: o Brasil deve construir um Sistema Global de Navegação por Satélite (GNSS, na sigla em inglês) próprio?
Coincidentemente, poucas semanas antes do anúncio do tarifaço feito por Donald Trump, o Comitê de Desenvolvimento do Programa Espacial Brasileiro (CDPEB) criou um grupo para estudar a viabilidade de um GNSS nacional. Com especialistas de ministérios, Aeronáutica, agências, institutos federais e da Associação das Indústrias Aeroespaciais do Brasil (AIAB), a equipe deve estabelecer, entre outros parâmetros, a necessidade de um sistema independente.
Em entrevista à Sputnik Brasil, Phillipe Valente Cardoso, geógrafo, mestre em engenharia cartográfica, doutor em geografia e professor de geocartografia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), explicou que é importante para o Brasil ter um GNSS próprio. Entretanto, o projeto exigirá alto investimento do governo com retorno a longo prazo.
Cardoso conta que um sistema de navegação por satélite envolve etapas como pesquisa, construção física dos satélites e, claro, o lançamento desses equipamentos para a órbita da Terra. Para o doutor em geografia, uma possibilidade mais lógica para otimizar tempo e orçamento seria a união com países parceiros para desenvolver um GNSS.

"Não necessariamente o Brasil precisa trabalhar sozinho nessa questão. Acho que parcerias e trocas tecnológicas são fundamentais. Inclusive, a gente pode pensar no Sul Global ou, até mesmo, na cooperação dos países da América Latina, do próprio Mercosul, em satélites que auxiliem e aumentem a precisão."

Países do BRICS, como China e Rússia, já possuem GNSS próprio — BeiDou e Glonass, respectivamente. Cardoso destaca, inclusive, que desde 2013 a Universidade de Brasília (UnB) possui uma estação do sistema russo para a contribuição em pesquisas.
Outra possibilidade, segundo o especialista, seria expandir a Rede Brasileira de Monitoramento Contínuo dos Sistemas GNSS (RBMC), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Com receptores e antenas espalhadas por todo o Brasil, o RBMC funciona recebendo sinais de satélites ligados à rede de BeiDou, Glonass, GPS, entre outros.

"O Brasil já tem uma vantagem, que é a rede do IBGE, chamada RBMC. Ela recebe sinais de todos os sistemas existentes e tem estações espalhadas pelo Brasil. Uma ampliação dessa rede seria também uma proposta interessante a ser trabalhada."

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Aprender com o passado

O Brasil não desbravará um campo totalmente desconhecido no âmbito do GNSS. O país sabe, por exemplo, que China e União Europeia gastaram mais de US$ 10 bilhões (R$ 54 bilhões, na conversão atual) cada para tirar BeiDou e Galileo do papel. Outros ensinamentos que o país pode ter são os investimentos em equipamento em solo e no Sistema de Aumento Baseado em Satélite (SBAS, na sigla em inglês).

"Com o SBAS, só para dar um exemplo, o posicionamento em torno do que hoje a gente encontra de 2 a 10 metros, dependendo de condições, equipamentos e recepção de sinal, cairia para 50 centímetros a 1 metro. Depende, claro, da tecnologia implementada e do tipo de correção feita."

Outro ensinamento que o Brasil pode levar do mundo do GNSS é a possibilidade de qualquer país deteriorar o sinal de um sistema próprio em determinada região. O professor explica que, no fim da década de 1990 e início dos anos 2000, o governo do presidente norte-americano Bill Clinton foi criticado pelo sinal civil fraco de GPS, que interferia na precisão da geolocalização em cerca de 200 metros.
Ou seja, a degradação, que no caso acima ocorreu por opção de priorização ao sinal militar, pode também acontecer por tensões políticas. Cardoso cita, ainda, que é possível enviar sinais falsos pelo sistema, embaralhando o serviço para o usuário final.
Para além da soberania na navegação, apesar do alto custo para desenvolver um GNSS próprio, o especialista destaca que um dos pontos positivos para o investimento é a movimentação da economia no setor de tecnologia.

"A gente pode também ter um impulso econômico, em que as empresas brasileiras poderiam desenvolver receptores, equipamentos, serviços baseados nessa tecnologia. Existem inúmeros ganhos em relação a isso."

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