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Celso Amorim ou Mauro Vieira? Especialista critica preocupação 'administrativa' de deputados

© Foto / Vinicius Loures / Câmara dos DeputadosAssessor-chefe de Assuntos Especiais da Presidência da República, Celso Amorim (segundo à esquerda) durante audiência da Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional da Câmara dos Deputados, em Brasília (DF), em 20 de agosto de 2025
Assessor-chefe de Assuntos Especiais da Presidência da República, Celso Amorim (segundo à esquerda) durante audiência da Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional da Câmara dos Deputados, em Brasília (DF), em 20 de agosto de 2025 - Sputnik Brasil, 1920, 20.08.2025
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Assessor de Lula foi ouvido em audiência na Câmara e levou fogo da oposição, que perguntou se ele é o real chanceler brasileiro. Para um especialista entrevistado pela Sputnik Brasil, a questão é secundária.
O assessor-chefe de Assuntos Especiais da Presidência da República, Celso Amorim, compareceu nesta quarta-feira (20) à Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional (CREDN), na Câmara dos Deputados, para uma audiência pública. A convite do deputado federal Filipe Barros (PL-PR), o diplomata tentou esclarecer seu papel no governo, além das recentes decisões da política externa brasileira.
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Ao longo de mais de quatro horas de audiência, deputados de oposição presentes no auditório questionaram Amorim sobre sua participação nas decisões das relações exteriores do Brasil, sendo classificado pelo deputado Evair Vieira de Melo (PP-ES) como "chanceler paralelo".
O diplomata iniciou sua fala explicando o cargo que ocupa e ressaltando que em outros países, como Canadá, China, Estados Unidos, Índia e Reino Unido, existem pessoas ocupando essas mesmas posições, ainda que com outros títulos. Amorim também fez questão de destacar que, atualmente, é comum ao redor do mundo que os chefes de Estado comandem as relações exteriores dos países que governam.
"Hoje, quem faz a política externa é o presidente", disse o diplomata ao destacar essa característica nas presidências de Fernando Henrique Cardoso (1995–2003) e Luiz Inácio Lula da Silva (2003–2011; 2023–presente). Segundo Amorim, a posição que ocupa no atual governo não é tão forte quanto os parlamentares imaginam.

"A proximidade com o presidente acaba dando uma impressão de poder, de ingerência, que, a meu ver, não corresponde com a realidade."

Em entrevista à Sputnik Brasil, o professor de políticas públicas e cientista político da Universidade Federal do ABC (UFABC) Ivan Filipe Fernandes destaca a posição do assessor como maior nome da política externa brasileira da atualidade, fortalecendo sua posição como conselheiro de Lula.

"O presidente [Lula] tem a competência administrativa para organizar a gestão da política externa brasileira, e o fato de ele ter um assessor próximo reflete as escolhas político-ideológicas. No final das contas, o Celso Amorim é o primeiro assessor especial para assuntos internacionais da Presidência."

Para Fernandes, a posição de Amorim no governo não diminui o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira. Segundo o especialista, apesar de o chanceler possuir uma postura mais discreta, é ele quem comanda o Ministério das Relações Exteriores.
Ainda segundo o cientista político, é compreensível que os deputados federais convidem Amorim para "responder perguntas incômodas", uma vez que ele é assessor especial da Presidência. Entretanto, Fernandes acredita que o foco dos deputados em criticar o diplomata de "chanceler paralelo" não faz sentido, evitando tratar de assuntos de fato relevantes para a CREDN, como a disputa pelo título de principal economia global entre China e Estados Unidos.
"[Os deputados] deveriam questionar qual vai ser o posicionamento brasileiro dentro desse cenário de pressão internacional extremamente violenta e preocupante, que é uma mudança na estrutura do sistema internacional", afirma Fernandes.

"Errar aqui pode trazer consequências muito importantes para o Brasil de médio e longo prazo. Essa é a questão mais interessante a ser colocada, e muito menos vinculada com melindres administrativos sobre quem tem o acesso a um microfone com tom mais alto."

Ideologia é sempre a dos outros

Durante a audiência na Câmara, Amorim e o governo brasileiro foram acusados de implementar uma ideologia mais alinhada à esquerda nas relações exteriores do país. Como exemplo, os deputados da oposição citaram a falta de um embaixador de Israel no país, a dificuldade das negociações do Brasil com os EUA sobre o tarifaço e a manutenção das relações diplomáticas com a Venezuela.
Em defesa própria e da Presidência, o embaixador explicou que a política externa do país é baseada na conexão com Estados, e não governos, independentemente do viés político. Amorim também reforçou que o Brasil continua sendo um dos grandes players diplomáticos do mundo e ressaltou as recentes ligações de Lula aos presidentes Vladimir Putin, da Rússia, e Emmanuel Macron, da França.
Ambos os telefonemas revelam a posição única que a diplomacia brasileira ocupa no cenário global, afirma o cientista político. "É um país que tem capacidade de construir pontes."
"Um corpo diplomático muito habilidoso que permite um diálogo em alto nível com parceiros no Sul Global e com parceiros no Norte Global."
No entanto, Fernandes explica que é comum a oposição, seja de direita ou esquerda, entender que a situação usa um viés ideológico nas decisões de governo.

"A política ideológica é sempre a do outro. Porque a sua política ideológica, que você defende, a sua interpretação é que seria adequada, correta, científica, baseada nas preocupações sobre o país e no respeito aos valores do que significa a brasilidade. Só que, obviamente, os interesses internacionais brasileiros são temas em disputa."

Apesar da observação acima, Fernandes destacou que as estratégias de política externa brasileira seriam afetadas por Amorim tendo cargo ou não, devido à confiança e abertura que o diplomata tem entre os petistas. Todavia a palavra final sempre será de Lula.
"No fim das contas, quem é o tomador de decisão principal não é nem o chanceler e nem o Celso Amorim, é o presidente Lula. Ainda mais sabendo que é um presidente que tem um apreço especial pelas temáticas internacionais."
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